terça-feira, 27 de abril de 2021

A Metade Perdida



Sinopse: As irmãs Vignes são gêmeas idênticas. Quando aos 16 anos resolvem fugir de casa, elas não fazem ideia de como isso vai alterar suas trajetórias. Mais de uma década depois, no final dos anos 1960, uma delas volta para a cidade natal, Mallard - uma comunidade negra no sul dos Estados Unidos cuja marca é a pele clara dos moradores, debruçados geração após geração sobre o ideal de se clarear ainda mais. O choque desse regresso não poderia ser maior, porque ela não apenas chega sem a irmã, mas com uma criança. Uma criança de pele muito escura.

Em março/21 o clube intrínsecos disponibilizou para os seus associados o livro 030 chamado A Metade Perdida, da escritora norte-americana Brit Bennett. De mimo foi enviado um livro sobre planejamento financeiro da Nath Finanças, planners financeiros e um quebra-cabeça que também é imã.

Em 1848 Alphonse Decuir começa a colocar em prática uma ideia antiga: criar uma cidade para homens que apesar de ter a pele mais clara, não eram aceitos como brancos, mas que também se negavam a ser tratados como negros. E assim surgiu Mallard, uma cidade que não está nos mapas, representando a invisibilidade de seus habitantes.


Nada de surpreendente havia acontecido naquela cidadezinha rural, não desde o desaparecimento das gêmeas Vignes.


Ele se casou com uma mulher mais clara que ele, e mais pessoas foram chegando, assim como tempo passaram a nascer pessoas com pele cada vez mais próximas do branco, algumas com cabelos loiros ou ruivos, os mais morenos tendo tons semelhantes aos gregos. 

Foi neste lugar que nasceram as gêmeas Desiree e Stella Vignes, descendentes de Alphonso, com personalidades diferentes e muito unidas, que em plena adolescência concordam em uma ação que irá mudar suas vidas e as executam justamente no dia em que todos escolheram celebrar o seu fundador. O dia que passa a ser também aquele que as tataranetas optaram em escolher fugir de tudo e de todos.


Mas até mesmo ali, onde ninguém se casava com pretos, eles ainda eram pessoas de cor, o que significava que homens brancos podiam matá-lo caso você se recusasse a morrer.


Em New Orleans elas tentam recomeçar a vida, primeiro em empregos simples, até que Stella, sempre muito estudiosa e inteligente, se escreve para uma vaga de emprego se identificando como branca. Ela é contratada, e no início isso melhora a vida das duas, mas acaba gerando uma nova separação, quando Stella recebe o convite de acompanhar o seu chefe em uma mudança de cidade e ela opta em abandona sua irmã, pois leva-la junto poderia revelar o seu segredo.

Enquanto Stella acaba assumindo em tempo permanente o seu personagem como mulher branca, Desiree vive do amor ao terror, sendo obrigada a retornar para as suas origens, levando junto a filha pequena.


Já nem notava mais quando olhavam para ela ou, se notava, sabia exatamente por que a encaravam.


Narrado em terceira pessoa, a história se passa entre as décadas de 1950 e 1990, acompanhando a vida das gêmeas, com mais ênfase para Desiree, e depois das filhas de ambas.

Conforme a propaganda, o livro tem como tema o colorismo, o que me fez inevitavelmente lembrar do livro Nascido do Crime, uma autobiografia de um humorista sul-africano, ao qual recomendo e muito a leitura.


Ela sempre soubera que era possível ser duas pessoas diferentes numa mesma vida, ou talvez só fosse possível para alguns.


No livro de Brit Bennett eu me senti um tanto confusa em relação a cor real das irmãs, pois entre conhecidos elas se identificam como negras, mas quando acompanhamos a vida de Sheilla, em meio a um bairro de alto padrão na cidade de Los Angeles, onde as pessoas são racistas, a conclusão que se chega é que ela não está se passando por branca, ela é uma branca descendente de brancos e negros.

E embora isso não seja citado, fiquei com a ideia de que em Mallard houve uma miscigenação, assim como no Brasil, só que mais direcionada. Já que a própria sogra, que foi contra o casamento com Stella, alega ao filho que ela deveria ser de família pobre, mas jamais faz relação a cor de pele ou origem.


Ela era o tipo de garota que os rapazes só beijavam escondido e depois fingiam que não tinha acontecido.


Além do mais, em nenhum momento é citado que ela fez alguma cirurgia plástica ou outro tipo de tratamento. E é interessante como que ao conviver com mulheres negras ela tenha medo e ao mesmo tempo desejo de ser reconhecida, embora seja vista como branca por todas elas.

Já em Mallard observa-se a seriedade com que a população levou as intenções do fundador com a chegada da filha de Desiree, que enfrenta muitas reações racistas de seus colegas, sendo a única de pele escura em meio a todos, o que a faz crescer sozinha e se achando feia.


Ela nadava no rio ou, de vez em quando, na praia da baía, onde os salva-vidas brancos diziam para ficarem na área restrita para pessoas de cor.


A Metade Perdida traz um mix de assuntos secundários interligados com a questão do racismo, mas pra mim parece que a base complementar são as consequências dos estigmas, que é a não realização dos sonhos, a descrença em si, precisando sempre que alguém ou alguma coisa empurre essas mulheres, tanto mães quanto filhas, para que corram atrás de seus objetivos.

O fato é que a história agrupa pessoas infelizes, que não sabem exatamente o que são, que vivem com medo de serem descobertas, vivendo constantemente a síndrome do impostor. 


Seu passado inteiro era como uma prateleira de despensa vazia.


É também sobre separação e saudade, prioridades na vida, a fragilidade dos laços de sangue, a busca de ser aceito. Uma necessidade de se moldar, sem saber de que forma.

A leitura é interessante, em cada fase da vida das gêmeas é muito fácil surgirem perguntas, e nem todas terão respostas. Também é possível surgir comparativos entre as culturas brasileira e americana, e como o racismo estrutural pode afetar até mesmo os princípios de uma pessoa. 


A Metade Perdida
The Vanishing Half
Brit Bennet
Tradução: Thaís Britto
intrínseca
2020 - 332 páginas


6 comentários:

  1. Eu amei esse livro! Tinha cancelado a assinatura, mas fiz de novo para pegar essa caixinha! O livro é forte e profundo, com temáticas importantes e necessárias!

    Beijos

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  2. O livro é muito necessário, o racismo tem muitas coisas a ser ditas nos dias atuais, é um livro que vale muito a pena ler, bjs.

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  3. Olá Querida, Tudo bem?
    Não conhecia esse livro mas bastante interessante. Estou muito curiosa:)
    Muito Obrigada
    Bjs Karina

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  4. Nao conhecia esse livro nao, mas parece ser muito bom

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  5. Essas histórias antigas com questões raciais acho muito interessantes e são debates necessários para não se repetir.

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  6. Fiquei muito curiosa em saber toda a história desse livro, porque afinal esse tema do racismo não poderia ser mais atual, mesmo o livro retratando as décadas passadas. Muito boa a sua resenha, me instigou a leitura do livro. :D
    Beijão! ♥

    Relíquias da Lara

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