Sinopse: Jules e Holly são melhores amigas desde os tempos de faculdade. Elas compartilham tudo, desde detalhes do cotidiano até segredos e confissões. Saul, filho de Holly, e Saffie, filha de Jules, cresceram juntos, com apenas três anos de diferença. Quando Saffie faz uma denúncia grave contra Saul, nenhuma das duas amigas está preparada para o impacto devastador que o fato terá amizade e na vida das suas famílias.
No mês de março/21 a TAG Inéditos enviou para os seus associados o tenso e agoniante Eu não sei quem você é da escritora inglesa Penny Hancock. O brinde foi um caderno remetendo ao diário de uma das personagens secundárias.
Holly é uma professora universitária envolvida com as causas feministas, sendo uma das ativistas em movimentos contra o estupro. Viúva de um advogado, muda-se da cidade de Londres para tentar recomeçar a vida em uma região afastada, próximo a sua melhor amiga e das filhas do seu segundo marido.
E ali está ele sozinho de novo, de cabeça baixa, com a mochila pesada apoiada nos ombros ossudos.
Uma de suas maiores preocupações é seu filho Saul, aos dezesseis anos ele não possui amigos na nova região, tendo sido vítima de bullying na escola. Em sua solidão, o jovem rapaz descobre a fotografia, o que enche a mãe de esperança.
Ela é mãe especial de Saffie, filha de sua melhor amiga Jules, que por sua vez, é a mãe especial de Saul. Definição usadas por elas para substituir o título de madrinha, já que nenhuma das duas possuem religião.
Mas um dos decretos da boa terapia, e, portanto, da boa educação parental, é que você seja um espelho para o que seu filho está falando.
Jules é dona de uma rede de lojas infantis, tem um alto padrão de vida, junto com o marido realiza festas em sua casa. Sua filha Saffie tem treze anos, está descobrindo as roupas curtas e as maquiagens, sendo bastante popular na escola.
Ambas são amigas desde que se conheceram na faculdade, opostos em personalidade, se complementam na hora de se apoiar. Elas possuem um acordo silencioso, de uma não criticar a outra, o que faz com que tenham muitas palavras não ditas.
A realidade é muito mais escorregadia, com os limites muito mais confusos.
Em uma noite em que ambos os maridos estão ausentes e elas tem uma reunião entre amigas programadas, Saul vai para a casa de Jules para usar a internet e ficar de olho em Saffie. Tudo certo, visto que os dois cresceram juntos.
Mas duas semanas depois, Saffie chama sua mãe para dizer que o rapaz a estuprou e agora ela está grávida. Saul fica indignado e nega a acusação. E isso vira a vida das duas famílias de cabeça para baixo.
Naquelas semanas em que eu mergulhei dentro de uma neblina de tristeza, ele era o meu conforto.
Penny Hancock intercala os capítulos com duas visões, como que instigando o leitor há tirar as suas próprias conclusões. Utilizando a narrativa em primeira pessoa temos a visão de Holly, que se vê enfrentando tudo o que sempre condenou, ao questionar a veracidade da acusação e negar que o seu filho, um menino educado desde cedo para respeitar as mulheres, seja um estuprador.
Em terceira pessoa temos a visão de Jules, na luta pelas aparências tenta insistir na confissão de Saul, enquanto convive com um marido extremamente machista e violento. Sem ter o ombro de Holly, ela se sente sozinha em como ajudar a filha neste momento delicado.
Que elas estavam bêbadas ou que a roupa era muito curta, que elas no fundo desejavam aquilo.
O primeiro sentimento que o livro me provocou foi desconforto, pois conforme eu dava andamento na leitura, era convencida pelos argumentos de Holly, o que provocou um segundo sentimento: culpa.
Não foram raras as vezes que eu me questionava se não estava sendo injusta com Saffie, ao criar várias teorias com o que era apresentado, me agoniava o fato de não estar aceitando a palavra da vítima, me sentindo atormentada por não conseguir aceitar a palavra da Saffie em relação ao Saul, embora tivesse certeza que algo muito errado estava acontecendo com a menina.
Suposições que, muitas vezes, são repetidas nos tribunais, quando a verdade é que não existe um modelo que indique como uma vítima deve se comportar.
Pois sim, ela é uma menina, naquela terrível fase onde a infância e a sexualidade se misturam de uma maneira bastante delicada, permitindo a manipulação, o engano, a desconfiança e até mesmo a inocência de soluções fáceis para questões difíceis.
Utilizando como base a questão do consentimento em relação ao corpo feminino, o machismo e o acreditar na vítima, além da própria fragilidade das relações quando colocadas a prova em situações limites, Penny Hancock me colocou dentro da história com o máximo de desconforto possível.
Eu sou a feminázi hipócrita que não reconhece um estupro nem quando ele está bem na sua frente.
E desta forma a autora consegue nos transmitir as dúvidas, as angústias e as razões que levam as mulheres a permanecerem em silêncio após serem vítimas de alguma violência.
Não é um livro nada fácil pelos assuntos que aborda, pelos sentimentos que desperta ao entrar mais a fundo na história, pelas incertezas despertadas pelos dois adolescentes que mexem com questões extremamente delicadas.
Engraçado como você pode se sentir mais solitária tendo seu marido ao lado da cama do que estando realmente sozinho no quarto.
Um livro para ler olhando para os seres humanos retratados, para despir a capa de juiz, para se colocar no lugar das vítimas, para se questionar o quanto você contribui para o silêncio.
Eu não sei quem você é
I thought I Knew you
Penny Hancock
Tradução: Davi Boaventura
TAG - dublinense
2019 - 413 páginas
O livro nos trás uma reflexão sobre essa relação humana, se conhecemos as pessoas que estão ao nosso redor, bjs.
ResponderExcluirÓtimo título ,esse livro aborda assuntos que mexem com os nossos sentimentos ,que nos faz olhar muitas pessoas com outros olhos. Uma verdadeira reflexão .
ResponderExcluirA história é cativante, ainda mais pegando duas gerações é bem legal...
ResponderExcluirFiquei curiosa em saber mais, ainda mais com uma reflexão.
Oi
ResponderExcluirEu adorei a sugestão de leitura 📚 a temática é bem interessante, já quero ler
Nossa que top,esse livro mexe muito com sentimentos.
ResponderExcluirUauu! Esse livro parece ser massa. Adorei a sua resenha
ResponderExcluirjá fiquei curiosa pra ler esse livro! amei a resenha
ResponderExcluirDesconforto é uma palavra leve pra descrever o que eu senti só lendo o seu post, imagina se eu fosse ler o livro.
ResponderExcluirMeu Deus do céu! Eu já estou super interessada nesse livro. Li um com uma temática recente que foi o menina feita de estrelas e é tão triste a nossa capacidade de duvidar da vítima, porque, querendo ou não, fazemos isso na vida real
ResponderExcluirMeu Deus do céu! Eu já estou super interessada nesse livro. Li um com uma temática recente que foi o menina feita de estrelas e é tão triste a nossa capacidade de duvidar da vítima, porque, querendo ou não, fazemos isso na vida real
ResponderExcluirAndrea adorei o gostinho que deu desse livro! Já marquei seu código e quando assinar vou usa-lo! Muito obrigada.
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