terça-feira, 14 de maio de 2019

O Olho Mais Azul




Sinopse: Todas as noites, Pecola Breedlove reza para ter olhos azuis. Zombada pelas outras crianças por sua pele negra e seu cabelo crespo, a menina anseia por se encaixar no padrão de beleza da sociedade americana dos anos 1940: quer ser branca e loira, assim como a atriz mirim Shirley Temple. No entanto, à medida que cresce seu delirante e inconsciente desejo de aceitação, Pecola se vê presa a uma realidade cada vez mais violenta.

O livro de março/19 da TAG Curadoria teve como curadora a escritora brasileira Djamila Ribeiro é o primeiro romance da escritora e vencedora do Nobel de literatura de 1993 Toni Morrison, uma autora ainda pouco lida no Brasil. 

O Olho mais azul fala sobre identidade, padrão de beleza, preconceito e discriminação, mas não da forma como o leitor está habituado. Não é a toa que ele se tornou polêmico por abordar entre muitos assuntos à própria pedofilia em plenos anos de 1970.

Um pequeno exame e muito menos melancolia nos teriam provado que as nossas sementes não foram as únicas que não brotaram: as de ninguém brotaram.

Logo de início temos uma descrição da família perfeita: mãe, pai, um filho, uma filha, um gato, um cachorro, um amigo. E depois já sabemos que Pecola está grávida de um bebê do pai dela.

Pecola é uma personagem que carrega todos os abusos que uma criança pode sofrer no decorrer das páginas. Seu sonho de ter o olho azul não é uma bobagem, já que o preconceito aqui começa por alguém igual a ela: sua própria mãe.

Como é que se faz isso? Quero dizer, como é que a gente faz alguém amar a gente?

Em contrapartida temos as irmãs Frieda e Claudia, esta uma das narradoras da história e talvez um alter ego da própria escritora. Assim como Pecola, elas são negras, e estudam com outros negros. Mas o racismo existe mesmo ali, pois a diferença do tom da pele parece autorizar os mais claros a tentarem subjugar os mais escuros. O que gera muito sofrimento a Pecola e contraria as irmãs.

No cenário em que elas viviam fica claro o poder dos adultos, que não podiam ser contrariados, mesmo quando não possuíam razão. O abuso em relação às crianças é pulsante em todo o livro, deixando claro sua fragilidade quanto a serem defendidas.

Preta retinta. Preta retinta. Seu pai dorme pelado.

Toda criança possui os pais como referência. Os pais de Pecola se denominavam pobres, negros e feios. Não existe carinho. Nem no tratamento. Para os filhos são senhor e senhora Breedlove. Um muro intransponível para quem não sabe se defender das diferenças.

Na escola as crianças utilizam o pátio para hostilizar as outras e descarregar o desprezo que eles sentem pela própria cor. O ódio, a desesperança, o desprezo que eles mesmos sentiam eram despejados em sua vítima, no caso a própria Pecola.

Ao igualar beleza física com virtude, ela despiu a mente, restringiu-a e foi acumulando desprezo por si mesma.

O contraponto é a menina mulata Maureen Peal, cuja pele mais clara e a condição de vida melhor que as dos demais encantam a escola, tendo aceitação de alunos brancos e subordinação dos alunos negros.

A questão de um padrão de beleza é bastante forte, em uma associação tão comum do feio com o errado. Ao mesmo tempo em que nos questiona o que é feio? Ao citar artistas que glamourosamente se apresentam nas telas de cinema, o leitor pode sair da zona pobre e negra de Toni Morrison e ver as muitas meninas que sofrem de anorexia e bulimia por querer ficar igual a x ou y.

Deitar ao lado de uma pessoa de verdade, que estava "menustrando" de verdade, era meio sagrado.

Talvez repare com mais atenção na quantidade de mulheres mudando a cor de seu cabelo para algum tom de loiro, ou nos jovens pais torcendo para que os olhos claros do recém-nascido permaneçam.

Padrões que aprisionam diferentes pessoas, independente da sua cor, condição social e instrução escolar. 

na altura em que este inverno se havia apertado num nó odioso que nada conseguia afrouxar, alguma coisa o afrouxou, ou melhor, alguém.

Ironicamente, a menina que todas querem ser no livro viveu aos quatro anos de idade na produção Polly tix in Washington o papel de uma prostituta. A atriz que se aposentou da carreira de atriz aos 22 anos de idade por não ter mais a mesma popularidade da infância. 

Em relação a narrativa o livro é divido nas quatro estações, mesclando presente e passado de alguns personagens, de uma forma fluída e rápida de ler. Para os mais sensíveis a leitura pode ser difícil, pois a história carrega um peso muito grande, provocando além de reflexões sensações de impotência, raiva e tristeza. Sabemos que é ficção, mas não é difícil enxergar a realidade em suas páginas.

Mas, para descobrir a verdade acerca de como os sonhos morrem, nunca se deve aceitar a palavra do sonhador.

Um livro que recomendo para quem quer entender a humanidade, o racismo, os padrões e o que o comportamento dos adultos influencia nas crianças.

O Olho Mais Azul
The Bluest Eye
Toni Morrison
Tradução: Manoel Paulo Ferreira
TAG – Companhia das Letras
1970 – 222 páginas

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8 comentários:

  1. A história há muitas verdades, aborda a questão racial, abandono, a história é brilhante, mesmo sendo um pouco triste, sua resenha ficou impecável, bjs.

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  2. Nossa! Assuntos bem pesados os tratados nesse livro né? Fiquei aqui com o coração pequenininho enquanto lia as suas considerações. Que aflição! E infelizmente são fatos que acontecem muito nos dias de hoje, na vida real.

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  3. oi!
    Eu adorei a resenha e gostei muito do livro :D A escrita da Toni Morrison é simplesmente incrível!!!

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  4. O livro mostra a imagem de família perfeita que a maioria das vezes esconde problemas graves , essa é um tipo de história que nos prende muito.

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  5. Texto com uma história bem interessante, a temática do racismo, dos olhos verdes e a narrativa das irmãs, foi bem curiosa

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  6. Taí um livro que promete ser uma boa leitura. Toca em assuntos que precisam mesmo ser abordados. Parece ser daqueles que dão vários socos no estômago do leitor. Valeu pela dica!

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  7. Fiquei curiosa para ler, so por causa da sua resenha. Adorei o tema

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  8. Problemas raciais devem ser debatidos com mais frequencia, é bom quando livros abordam o assunto, precisamos saber mais sobre o racismo, nem tudo vem a tona pelas midias...

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