terça-feira, 31 de julho de 2012

Queda de Gigantes

No dia 22 de junho de 1911, o jovem Billy Williams completava treze anos e sofre um trote dos mineradores, ficando o dia inteiro no escuro, mas tranqüilo por sentir a presença de Jesus.


Em janeiro de 1914 o conde Fitzherberth recebe o casal real. Casado com uma princesa russa, vive um tórrido romance com a sua emprega, enquanto sua irmã conhece um diplomata alemão.

Nos Estados Unidos, o jovem Gus Dewar é assessor do presidente, acompanhando com admiração um homem contraditório, que defende a paz, mas não a igualdade entre as raças.

Encontramos na Rússia os irmãos Peshkov, que quando crianças assistiram a mãe ser morta por soldados. Sonhando em partir para os Estados Unidos, um é trabalhador e justo, o outro é um boa vida que não pensa nas consequências.

De janeiro de 1914 a janeiro de 1924, Ken Follet nos guia através dos seus personagens, no primeiro livro da trilogia do século, pelos egos de nobres e governantes que levaram o mundo a primeira guerra mundial e a morte de milhares de jovens inocentes, pela batalha pelo voto feminino na Grã-Bretanha e o crescimento do partido dos trabalhadores. A queda da monarquia da Rússia e a liderança de Lênin.

Interligando a vida dos personagens, é possível rir, sofrer e refletir de quem forma o desejo de sangue de poucos pode mudar a vida de muitos, trazendo pobreza, fome e desespero para os honestos e oportunidades para os que se julgam espertos e gostam de levar vantagem.

Um livro maravilhoso, que mistura fatos reais e ficção, de forma que amarram o leitor em suas novecentas e dez páginas. E ao fechar, o leitor irá desejar ardentemente iniciar a leitura do segundo volume.

Queda de Gigantes
Trilogia O Século
Ken Follet
Editora Sextante
2010 – 910 páginas

segunda-feira, 23 de julho de 2012

A cura de Schopenhauer


Irvin D. Yalom é um psiquiatra que já escreveu vários livros sobre psicoterapia, como o clássico Teoria e Prática da Psicoterapia em Grupo, e que se arriscou a escrever best-sellers cujo assunto é: psiquiatria. Atingiu grande sucesso com Quando Nietzsche chorou e, na mesma linha, publicou Mentiras no Divã e A cura de Schopenhauer.

A cura de Schopenhauer, de 2005, é uma história sobre morte, vida, terapia em grupo e, obviamente, Schopenhauer. Mas o ponto de partida é a descoberta de um psiquiatra sobre o seu prazo de validade: a descoberta de um melanoma e do seu tempo de vida provoca inicialmente ações na sua vida privada, e, mais tarde, isso vai invocar novas reações no seu grupo de terapia.

Ao descrever as sessões de um grupo de terapia, verifica-se que, por mais diversos sejam os motivos que levam as pessoas até a ele: problemas no casamento, com os homens, baixa estima, todos giram em torno de uma questão: relacionamentos. Paralelo a isso vem uma pequena biografia do filósofo Arthur Schopenhauer, um homem que pregou solidão e sofrimento em seus livros, buscava fama embora a negasse, e ironicamente só atingiu o sucesso ao escrever Parerga e Paralipomena, obra em que o autor, conforme Yalom “abrandou o pessimismo, diminuiu as lamentações e deu conselhos sensatos de como viver”.

Irvin. D. Yelom tem o mérito de descrever filosofia e psiquiatria para leigos. É fácil acompanhar a dinâmica da terapia de grupo, principalmente como o psicanalista o coordena, a sua forma de selecionar as questões que irão fazer as pessoas se revelarem ou se inflamarem. Ao mesmo tempo, as frases filosóficas que aparecem na trama entram em um contexto óbvio para o leitor, tendo como âncora um personagem que age como um espelho de Schopenhauer. Quando isso não é possível, um dos personagens se encarrega de explicar o significado.

A questão das frases filosóficas ou até os diálogos da terapia de grupo podem dar ares de auto-ajuda ao livro, como: As grandes dores fazem com que as menores mal sejam sentidos e, na falta das grandes, até o menos desgosto nos atormenta e na frase de Cícero Qualquer um pode ser completamente feliz, se depender apenas de si e tiver em si mesmo tudo o que chamar de seu.

Exceto pelas frases e a biografia de Schopenhauer, os vários problemas relatados pelos personagens e a visão humanizada do psiquiatra (que por ser médico, muitas vezes é visto de outra forma por seus pacientes), dão uma sensação de “dejávu” para quem já leu, por exemplo, Mentiras no Divã, pois os problemas da humanidade parecem não se alterar muito, além da descrição física, situação financeira e local onde moram.

Para os leitores que se interessam por psiquiatria e relacionamentos, as obras do autor são um prato cheio e podem oferecer idéias aos que buscam livros não técnicos da área. Para quem já leu outro tipo do assunto e não tem intenção de continuar a ver mais do mesmo ou está se sentindo incomodado com as reclamações de vizinhos, amigos, colegas ou parentes, a sensação pode ser a mesma citada pelo psiquiatra da A cura de Schopenhauer sobre seus alunos: “Lembrava que, anos antes, quando dava aulas de terapia de grupo, os alunos iniciantes reclamavam do tédio de observar pacientes falando durante noventa minutos nas sessões”. Esse é um risco que o leitor deverá correr, de se sentir emocionado com as histórias do grupo de terapia ou de sentir tédio com os problemas de cada um, já que no mundo real, se confronta com muitos Philips, Pams e Bonnies.

Yalom, Irvin D. – A cura de Schopenhauer – Ediouro – Rio de Janeiro, 2006.

domingo, 15 de julho de 2012

Enquanto água


Com 18 contos, Altair Martins distribui o seu livro em 4 fases. Ao iniciar “da margem futura”, é como se o leitor chegasse à beira do litoral gaúcho e plantasse os seus pés bem perto do mar. A cor achocolatada não lhe revela nada, até a água dar a primeira lambida nos dedos e os arrepios surgirem.

Conforme se termina uma história e começa outra, nota-se que o repuxo do mar já lhe toma parte das pernas, indo subindo rapidamente, na mesma velocidade com que as páginas são devoradas.

Quando o sentimento de total sufocamento chega, já é tarde, você já está no meio da escuridão do mar. Se debate, suplica por ar, mas não consegue. Em choque, abre a boca para gritar por socorro, mas este gesto só serve para que a água termine de lhe dominar. Ao finalizar a leitura, é possível ao leitor voltar a respirar, não contendo o instintivo ato de verificar se os cabelos estão secos, pois o sentimento de ter sido engolido pela água ainda é forte.

Todas as histórias causam algum tipo de impacto, são visões hora realistas, ora ilusórias, mas nenhuma brincalhona. Muitas vezes cruel, a sequência dos contos proporciona um peso no peito e uma secura na garganta. Você deseja e ao mesmo tempo se sente amedrontado pela água.

Para os leitores, um único aviso, não espere final feliz. De resto, deixe-se levar pelas palavras do autor.

enquanto água
Altair Martins
Editora Record
2011 - 151 Páginas

domingo, 8 de julho de 2012

Pequena Abelha

Na contra-capa é dito o seguinte:

Não queremos lhe contar o que acontece neste livro. É realmente uma história especial, e não queremos estraga-la. Ainda assim, você precisa saber algo para se interessar, por isso vamos dizer apenas o seguinte:

Esta é a história de duas mulheres cujas vidas se chocam num dia fadítico. Então uma delas precisa tomar uma decisão terrível, daquelas que, esperamos, você nunca tenha de enfrentar. Dois anos mais tarde, elas se reencontram. E tudo começa...

Depois de ler este livro, você vai querer comenta-lo com seus amigos. Quando o fizer, por favor, não lhes diga o que acontece. O encanto está sobretudo na maneira como esta narrativa se desenrola.”.

Eis o meu primeiro desafio: como fazer a resenha sem quebrar esta promessa silenciosa que Chris Cleave nos pede tão delicadamente? Difícil. Usar os adjetivos que estão distribuídos pela capa também não acrescentaria muito.

Quem sabe poderia dizer que a foto interna com o menino fantasiado de Batman não está ali à toa. Mas logo nas primeiras páginas você irá compreender.

Penso então estar liberada para falar que sua narrativa ocorre em primeira pessoa, alternando as vozes. Que cada página contém uma revelação, como se fosse um paciente que fez uma cirurgia plástica no rosto, e conforme as ataduras lhe são retiradas, consegue-se descobrir o resultado daquilo que nos deixa tão curiosos.

No meu caso, a curiosidade foi substituída por várias emoções, como angústia, comoção, pena, tristeza e impotência. Não sei se poderia estar escrevendo isso sem desobedecer Cleave, mas definitivamente não estamos falando em uma história feliz.

Se eu recomendo a leitura? SIM. O livro é bem escrito, a história é envolvente e sai do lugar comum. É sobre diferenças e igualdades, alegrias e tristezas, perdas e descobertas. É um livro para quem tem tudo e vive reclamando da vida. É um livro para quem não tem nada e não se mexe para melhorar. É um livro para quem luta e para quem não precisa mover um dedo. Para corajosos e covardes. É um livro pra mim, pra você, para todos nós, que podemos fazer alguma diferença.

Pequena Abelha
Chris Cleave
Tradução de Maria Luiza Newlands
Editora Intrínseca
272 páginas

domingo, 1 de julho de 2012

A Alma Imoral

O livro de Nilton Bonder, um rabino reconhecido como pensador nas áreas de humanismo, filosofia e espiritualidade, promete mudar o conceito que o leitor tem sobre a alma e a traição, mas infelizmente ele não me prendeu nem para terminar a leitura.

Citando Darwin, retornando aos tempos de Adão e Eva, fazendo a ligação entre as palavras traição e tradição e o projeto Genoma Humano (que me fez lembrar do livro Símbolo Perdido), o autor utiliza diversas bases para dizer que toda alma traí, seja de forma sutil ou não, seja a si mesmo ou aos outros.

Mas eu, particularmente, achei cansativo. Provavelmente por não ter uma alma tão aberta no que se refere à traição. Acredito piamente que não vale a pena enganar o outro e muito menos a si mesmo, pois uma hora ou outra a verdade irá lhe atropelar, deixando a alma em pedaços e incapaz até mesmo de qualquer imoralidade.

Parei a leitura na página 50, no dia em que li uma crônica do David Coimbra em que ele dizia não perder tempo com livros que não o agradasse. Isso fez com que eu me livrasse do peso da obrigatoriedade em finalizar esta leitura, traindo assim, sem culpa, o meu objetivo de ler todos os livros até o final. O que me fez pensar que Nilton Bonder tem certa razão.

A Alma Imoral
Nilton Bonder
Editora Rocco
135 páginas