domingo, 15 de julho de 2012

Enquanto água


Com 18 contos, Altair Martins distribui o seu livro em 4 fases. Ao iniciar “da margem futura”, é como se o leitor chegasse à beira do litoral gaúcho e plantasse os seus pés bem perto do mar. A cor achocolatada não lhe revela nada, até a água dar a primeira lambida nos dedos e os arrepios surgirem.

Conforme se termina uma história e começa outra, nota-se que o repuxo do mar já lhe toma parte das pernas, indo subindo rapidamente, na mesma velocidade com que as páginas são devoradas.

Quando o sentimento de total sufocamento chega, já é tarde, você já está no meio da escuridão do mar. Se debate, suplica por ar, mas não consegue. Em choque, abre a boca para gritar por socorro, mas este gesto só serve para que a água termine de lhe dominar. Ao finalizar a leitura, é possível ao leitor voltar a respirar, não contendo o instintivo ato de verificar se os cabelos estão secos, pois o sentimento de ter sido engolido pela água ainda é forte.

Todas as histórias causam algum tipo de impacto, são visões hora realistas, ora ilusórias, mas nenhuma brincalhona. Muitas vezes cruel, a sequência dos contos proporciona um peso no peito e uma secura na garganta. Você deseja e ao mesmo tempo se sente amedrontado pela água.

Para os leitores, um único aviso, não espere final feliz. De resto, deixe-se levar pelas palavras do autor.

enquanto água
Altair Martins
Editora Record
2011 - 151 Páginas

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