segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A sociedade literária e a torta de casca de batata



Há alguns anos minha mãe me trouxe anotado em um papel o nome de um livro com um título engraçado. Sugestão de uma conhecida que sabia como ela gostava de ler. O papel se perdeu, mas a casca de batata ficou gravada como algo inacabado.

2014 nos encontramos. O que dizer? Apaixonante. Um livro tão fofo que me despertou a vontade de entrar nas suas páginas e abraçar vários dos personagens. Sim, eu me apaixonei por Juliet e a sociedade literária.

Único livro da autora Mary Ann Shaffer, em conjunto com a sua sobrinha Annie Barrows, A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata é o tipo de história para se deixar envolver. Não foram raras as vezes que me senti uma amiga íntima dos personagens. Eu ri e chorei com eles. Sim, por um breve momento eu morei em Guernsey.

Narrado em forma de cartas, pelo estilo de escrita é possível ver a personalidade de cada um. Leve, rápido e direto, é uma leitura fácil e difícil de largar. E finaliza-la não foi uma ação feliz.

No pós-guerra, Juliet, uma escritora que fez sucesso com colunas leves em um jornal londrino, está em turnê para divulgar o seu livro. Enquanto busca uma ideia para uma nova história, recebe uma carta de Dawsey Adams pedindo ajuda para encontrar um livro de Charles Lamb. Desta forma ela toma conhecimento da sociedade literária, criada na urgência de escapar da punição dos alemães, que estavam ocupando o local no período.

O que começa com um simples pedido de informação, acaba se tornando um meio de contato, e Julie consegue trocar cartas com vários membros da sociedade, inevitavelmente ela resolve conhece-los, e todos se tornam irremediavelmente ligados.

Uma história de risos e lágrimas, perdas e ganhos, corajosos e invejosos. Delicioso para os que amam literatura. Um livro que entra na mente e no coração, e nos faz lamentar a morte da escritora, que não irá mais nos oferecer outras obras assim, ao mesmo tempo em que nos faz agradecer por nos deixar essa preciosidade.


A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata
The Guernsey Literary and Potato Peel Pie Society
Mary Ann Shaffer e Annie Barrows
Tradução Léa Viveiros de Castro
Editora Rocco

2008 – 303 páginas

sábado, 26 de julho de 2014

A Culpa é das Estrelas

Hazel Grace tem 16 anos e tireoide com metástase nos pulmões. Ela também é obcecada por um livro chamado Uma aflição imperial e assiste a todo santo dia um reality show de modelos. Frequenta um grupo de apoio obrigada por sua mãe, que acredita ser um local de amizades para sua única filha.

Em um dos encontros ela se depara com um rapaz que irá mudar a sua rotina: Augustos é um jovem que perdeu sua perna e o basquete para o câncer. Bonito, está apenas acompanhando o amigo Isaak que ficará cego em breve. Uma troca de olhares, breves palavras, um convite, e a paixão quando não se espera mais nada.

A Culpa é das Estrelas é um livro de adolescentes, mas não só para adolescentes.

É sobre o amor, mas também é sobre morte.

É sobre perdas, mas também sobre ganhos.

Correr atrás dos sonhos, que podem ser próprios, ou serem compartilhados.

A leitura é rápida, apesar de pesada. Muitos parágrafos são um soco no estômago. Existe alegria, mas sempre acompanhada de uma sombra de tristeza. É por isso que ao contrário da afirmação de Marcus Zusak, eu não consegui rir, e também não chorei.

Apenas senti o coração apertado, em relação à Hanzel, Augusto, Isaak e os pais, papéis secundários que tentam não ficar apenas com a saudade.

Não é um livro para relaxar. E sim para repensar. Ao chegar à última página, você pode refletir sobre os personagens ou sobre a própria vida. Talvez fique satisfeito, ou sinta uma vontade enorme de recomeçar.

O único fato absoluto é que não há como ficar indiferente ao término da leitura.

A Culpa é das estrelas
The fault in our stars
John Green
Tradução Renata Pettengill
Editora Intrínseca

2012 – 286 páginas

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Reencontro Mortal

No décimo quarto livro da série as mulheres estão em foco. Amor, ódio, amizade, rancor, família e vingança se misturam em dois casos que irão mexer com as personagens.

Começando pela tenente Eve Dallas que terá um encontro duplo com o passado através da figura de Julianna Dunne, uma mulher vaidosa e fria, que usou um falso estupro para aliviar a pena por ter assassinado seus maridos, homens velhos e ricos. Solta, ela vai atrás da única mulher pertencente ao grupo que a prendeu.

Para coloca-la novamente atrás das grades, sem dar chance de a justiça falhar novamente, a tenente precisa investigar o passado da assassina, que tem o seu início na cidade de Dallas, local onde Eve foi encontrada ainda criança.

Em Nova York, Peabody junta às peças de um antigo caso, no melhor estilo Cold Case, onde uma mulher apaixonada pelo marido é morta por um amante misterioso, cujo único sinal de vida são as cartas encontradas na gaveta de roupas íntimas da vítima.

Se por um lado este livro retorna para o lugar comum de Roarke ser o foco do antagonista de Eve, por outro momentos reveladores surgem com a viagem de Dallas (possibilitando assim um acerto de contas com a sua origem) e chegada dos pais de Peabody. Tornando o livro mais pesado que os anteriores devido à carga emocional.

Na parte romântica, Eve e Roarke completam o seu primeiro ano de casados sem perder a paixão, com uma Eve mais solta em revelar os seus sentimentos.

Uma curiosidade: a assassina do livro muda diversas vezes de nome, mas sempre mantendo as iniciais do verdadeiro, que nada mais é do que o pseudônimo da autora Nora Roberts para a série.

Reencontro Mortal
Nora Robert – J.D. Robb
Tradução Renato Motta

Editora Bertrand Brasil

domingo, 15 de junho de 2014

Um Dia

Se Em fosse de carne e osso, eu queria que ela fosse minha amiga. E isso me fez passar quase todo o livro brigando com o autor, desejando que surgisse um cara que a fizesse esquecer Dex. Também foi Em a responsável por muitas lágrimas no final de uma noite, onde a tristeza me dominou e me fez ter um sono vazio de sonhos.

Não consegui simpatizar com Dex. Nem na alegria, muito menos na tristeza. É um homem egoísta e banana. Um exemplo de embalagem bonita, mas vazia. Passei quatrocentas páginas tentando entender o que Em viu nele, foi quando recordei que toda mulher, pelo menos uma vez na vida, sofre de diarreia mental. No caso de Em, logo após ela dar a descarga, a dita voltava.

Mas não pensem que Em é uma mulher maravilha, não mesmo, ela é adoravelmente comum, tem muitos sonhos, mas me parece tão perdida que não corre atrás de nenhum. Só que ela tem uma espontaneidade encantadora, hora sendo uma menina do interior, outra uma rebelde. Sente medo, fala sem pensar, ao mesmo tempo em que não expressa os seus verdadeiros desejos. Passeia entre o conformismo e o revolucionário, talvez por isso a escrita seja a sua melhor e pior amiga.

Vamos à história: Em e Dex passam a noite juntos no dia da formatura, é 15 de julho de 1988, um futuro os aguarda. Ele irá viajar pelo mundo, ela não sabe. A partir dai, o leitor irá acompanha-los durante vinte anos na mesma data, seus encontros, desencontros, brigas e desilusões.

O livro de David Nicholls é charmoso e engana o leitor, pois o que parece óbvio é dolorosamente desfeito. Curiosamente me recordou uma safra de filmes do final dos anos noventa, encabeçados por Cidade dos Anjos, onde felizes para sempre só se for agora, pois o dia de amanhã é nebuloso.

Não assisti ao filme, e a menos que ele apareça por acaso na minha tv, não irei me esforçar para ver. Tenho os personagens bem construídos na minha mente, e não quero me desfazer da imagem deles.

Um Dia (One Days)
David Nicholls
Tradução: Claudio Carina
Editora Intrínseca
1997 – 411 páginas

quinta-feira, 27 de março de 2014

Sedução Mortal


Kevin e Lucias são jovens, bonitos, ricos e estão entediados. Para quebrar a monotonia resolvem fazer um jogo, onde usando o nome de poetas encantam mulheres em comunidades do mundo virtual.

O objetivo é um encontro face a face, com os rapazes disfarçados usando de drogas ilegais para levarem jovens moças para a cama. Mas logo no primeiro encontro a combinação se mostra mortal, e o que inicialmente gerou pânico acaba sendo uma adrenalina a mais para os dois assassinos com direito a bonificação extra.

No décimo terceiro volume da Série Mortal, Eve Dallas precisa montar rapidamente o quebra-cabeça e encontrar os assassinos antes que mais uma jovem caia na armadilha. Com a ajuda da sua equipe e de Roarke, eles vão derrubando as barreiras para chegarem aos dois meninos mimados, enquanto lembranças do passado voltam a atormentá-la.

Misturando a tensão da caça aos frios assassinos com momentos engraçados, Eve doente acaba dependendo do seu mordomo para ter um pouco mais de energia. Ao mesmo tempo em que acaba possibilitando um romance inesperado para uma de suas fontes.

Sedução Mortal é ágil e tenso. A frieza do personagem Lucias mostra o crescimento da maturidade da escritora Nora Roberts no gênero policial. Suas páginas são devoradas rapidamente e para as suas seguidoras, Roarke continua sendo o grande sonho de consumo do mundo literário.

Série Mortal – Sedução Mortal
Seduction in death
Nora Roberts escrevendo como J.D. Robb
Tradução: Renato Motta
Bertrand Brasil

2001 – 434 páginas

sexta-feira, 7 de março de 2014

Sobre meninos e lobos


Quem nunca se pegou perguntando: E se eu...

No caso de Sean e Jimmy, o que teria acontecido se eles tivessem entrado no carro?

No caso de Dave, se ele não entrasse.

1975... os meninos brigam no meio da rua. Um carro com cheiro de maça para com dois homens. Eles abordam os meninos que se dizendo da polícia e levam Dave com eles.

Dave passa dias desaparecido, mas ele escapa e é recebido com festa. Todos sabem o que aconteceu com ele, mas ele prefere se manter calado. Aguenta as provocações e violências na escola, mas quando adulto consegue formar uma família.

O acontecimento também atinge os outros dois meninos. Sean vira policial e Jimmy criminoso.

25 anos depois. Katie, filha do agora regenerado Jimmy, planeja fugir com o namorado. Antes de se casar, sai com as amigas para uma despedida de solteira. Na volta para casa, encontra a morte.

Este acontecimento irá ligar o caminho dos três novamente. Enquanto Sean tenta descobrir o assassino, Dave vive conflitos internos, e por mais que ele tente se esconder, os lobos continuam a persegui-lo, ameaçando torna-lo um. Jimmy lamenta a morte da filha e acaba revendo novamente os seus conceitos.

Sobre Meninos e Lobos é um livro instigante. A violência, a inveja e o resultado das ações do passado levam o leitor a sentir diversas reações. Assistir tudo sem poder ajudar e apenas esperar as consequências.

A escrita de Dennis Lehane é semelhante a uma montanha russa. Mistura momentos de tensão com a calma absoluta. Se em um momento sofremos com os personagens, em outros vivemos momentos felizes. Os pontos de interrogação vão sendo substituídos pelos de exclamação no decorrer das páginas. O mistério maior não é o crime, mas os três homens que se reencontram por causa dele.

Leitura mais do que recomendada para quem gosta de um bom suspense. E para quem gosta da dobradinha livro e cinema, ele virou filme em 2003 pelas mãos de Clint Eastwood. Eu não assisti a versão cinematográfica, mas o elenco composto por Sean Penn, Kevin bacon e Tim Robbins me despertaram a curiosidade.

Sobre Meninos e Lobos
Mystic River
Dennis Lehane
Tradução: Luciano Vieira Machado
Companhia das Letras

2001 – 338 páginas

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Morrer de prazer





Ruy Castro é um homem de múltiplos talentos, sendo que todos eles envolvem a escrita. Jornalista. Escritor. E um dos melhores biógrafos brasileiros. No decorrer de sua carreira, o escritor ganhou quatro prêmios Jabuti, entre os quais dois de livro do ano. Nada mais justo.

Na obra "Morrer de prazer" há uma seleção de 59 crônicas, todas publicadas anteriormente na Folha de São Paulo, onde Castro é colunista desde 2007. O livro é repleto de crônicas atemporais, histórias que fazem com que o leitor sinta vontade se seguir adiante. E isso ocorre porque Ruy Castro possui um humor ácido, há ironia em sua escrita, o que é raro hoje em dia e, principalmente, o seu texto é limpo e conciso, qualidade essencial no gênero crônica. Destaques para "A década que não existiu", "O ovo na Legalidade" e "Abaixo do Tomate".

Os livros do escritor foram traduzidos para vários países. Entre eles: Inglaterra, Japão, Itália, Estados Unidos, etc. 

Vale a pena investir nas obras de Ruy Castro. Um cronista com voz própria.   






quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O tempo entre costuras



Recebi a indicação deste livro na Livraria Cultura, quando folheava o segundo livro da Trilogia O Século. Conforme a vendedora, um livro que encantava quem gosta de narrativas que misturam fatos reais da nossa história.

E assim, foi com expectativa que iniciei o romance de María Duenas, principalmente por ser comparada a Carlos Ruiz Zafón, um autor que adoro.

O problema é que não simpatizei com Sira Quiroga, a personagem principal e narradora da história. Não torcia por ela, apenas acompanhava as suas aventuras, que nem sempre me pareciam verossímeis. 

A história começa às vésperas da guerra civil espanhola. Sira, então apenas uma simples costureira, vai com o noivo escolher uma máquina de escrever com o objetivo de se prepararem para vagas no governo. Na loja conhece Ramiro e se apaixona, trocando o que seria uma vida certa por uma aventura no Marrocos.

Mas no lugar de uma linda história de amor, acaba grávida, abandonada e endividada. Só que a sua sorte é muito maior do que as suas burrices, e ela encontra amigos que a ajudam montar o seu próprio atelier e conhecer mulheres influentes, entre elas a inglesa Rosalinda Fox, amante do personagem histórico Juan Luis Beigbeder, que convence Sira a se tornar espiã na segunda grande guerra.

De volta à Espanha, com passaporte marroquino, ela se torna a costureira referência da alta sociedade, seus ouvidos captam todas as informações, que são repassadas rapidamente para os ingleses. Entre as regras está ser vista em lugares luxuosos, com os quais ela já sonhara frequentar, e manter distância de antigas amizades.

Entre a vida fictícia de Sira, são relatados momentos importantes na história da Espanha, cuja população vive em grande sofrimento enquanto Franco abria as portas para os alemães. Em uma época que não se sabia quem era amigo e quem era inimigo, a personagem reencontra o amor, mas foge por não ter certeza de quem ele é.

E todo esse conjunto conseguiu tornar, pra mim, apesar da minha antipatia por Sira, a leitura prazerosa. Ao contrário do que poderia acontecer, não era um sofrimento reencontra-la todas as noites, pois o mundo que a cercava apagava o fato de parecer tão insípida para mim.

Por isso recomento sim a leitura de O tempo entre costuras, uma aventura que pode prender vários tipos de leitores.

O tempo entre costuras (El tempo entre costuras)
María Duenas
Tradução: Sandra Martha Dolinsky
Editora Planeta
 2009 – 477 páginas