Se Em fosse de carne e osso, eu queria que ela fosse minha
amiga. E isso me fez passar quase todo o livro brigando com o autor, desejando
que surgisse um cara que a fizesse esquecer Dex. Também foi Em a responsável
por muitas lágrimas no final de uma noite, onde a tristeza me dominou e me fez
ter um sono vazio de sonhos.
Não consegui simpatizar com Dex. Nem na alegria, muito menos
na tristeza. É um homem egoísta e banana. Um exemplo de embalagem bonita, mas
vazia. Passei quatrocentas páginas tentando entender o que Em viu nele, foi
quando recordei que toda mulher, pelo menos uma vez na vida, sofre de diarreia
mental. No caso de Em, logo após ela dar a descarga, a dita voltava.
Mas não pensem que Em é uma mulher maravilha, não mesmo, ela
é adoravelmente comum, tem muitos sonhos, mas me parece tão perdida que não
corre atrás de nenhum. Só que ela tem uma espontaneidade encantadora, hora
sendo uma menina do interior, outra uma rebelde. Sente medo, fala sem pensar, ao
mesmo tempo em que não expressa os seus verdadeiros desejos. Passeia entre o
conformismo e o revolucionário, talvez por isso a escrita seja a sua melhor e
pior amiga.
Vamos à história: Em e Dex passam a noite juntos no dia da
formatura, é 15 de julho de 1988, um futuro os aguarda. Ele irá viajar pelo
mundo, ela não sabe. A partir dai, o leitor irá acompanha-los durante vinte
anos na mesma data, seus encontros, desencontros, brigas e desilusões.
O livro de David Nicholls é charmoso e engana o leitor, pois
o que parece óbvio é dolorosamente desfeito. Curiosamente me recordou uma safra
de filmes do final dos anos noventa, encabeçados por Cidade dos Anjos, onde
felizes para sempre só se for agora, pois o dia de amanhã é nebuloso.
Não assisti ao filme, e a menos que ele apareça por acaso na
minha tv, não irei me esforçar para ver. Tenho os personagens bem construídos
na minha mente, e não quero me desfazer da imagem deles.
Um Dia (One Days)
David Nicholls
Tradução: Claudio
Carina
Editora Intrínseca
1997 – 411 páginas
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