Sinopse: Poeta chileno é um romance sobre a poesia, sobre poetas que desprezam o romance, sobre família e paternidade, sobre os labirintos da masculinidade contemporânea e os trágicos vaivéns do amor, sobre o desejo de pertencimento e, acima de tudo, sobre o sentimento de ler e escrever em nossos dias.
No inverno de 1991 Carla e Gonzalo são adolescentes que em seu namorico vivem as primeiras descobertas que não são exatamente o esperado para Carla, gerando assim o rompimento do relacionamento.
Para externar toda a tristeza que lhe consome, Gonzalo passa a escrever muitos poemas e envia-los a sua amada, e é o amor a escrita que o leva a definir sua carreira na vida adulta.
Os pais biológicos, os pais separados, os pais da porta para fora são todos a mesma merda.
E é na vida adulta que ele reencontra Carla, que agora trabalha para a empresa da família, tem um filho chamado Vicente de seis anos e é separada de Léo, um corretor de móveis que se preocupa mais com sua coleção de carros em miniatura do que com o menino.
Com a evolução de Gonzalo nos pontos que mais deixava a desejar, os dois reatam o relacionamento e ele se torna padrasto do menino, influenciando e sendo influenciado muito mais do que ele mesmo poderia imaginar.
A escrita de Alejandro Zambra
Usando uma narrativa em terceira pessoa, o escritor chileno Alejandro Zambra conta para o leitor nesta narrativa de pouco mais de quatrocentas páginas a vida de Gonzalo, Carla, Vicente e Pru - sendo esta última não tão completa, mas sua participação não pode ser considerada coadjuvante na história.
Ambientado no Chile, o romance permite conhecer um pouco mais da sociedade chilena pós ditadura em meio ao despertar da poesia em um país onde nomes como Pablo Neruda e Gabriela Mistral tornam o mesmo uma referência no mundo literário.
E você acha mesmo que esses adultos que vivem brigando, de repente, vão resolver ficar mancomunados pra mentir para as crianças no Natal?
Tudo dentro de uma família que seria chamada de não tradicional se não fosse o fato de sua composição ser tão comum e numerosa quanto as demais. Tendo aqui como diferencial falar sobre paternidade sobre o olhar do padrasto e não do pai, uma figura que é esquecida até mesmo nos contos de fadas (afinal, é a madrasta que é sempre a vilã).
E não podemos esquecer do amor, afinal são raras as pessoas que não associam o sentimento a poesia. E aqui ele se apresenta de diferentes formas, estilos e dúvidas, afinal, no complexo processo da paixão que vira amor que vira amizade que vira ódio não existe nada que faça gerar mais perguntas que o amor.
O tempo nos encurrala. O tempo nos engorda, desenha rugas, cabelos brancos e muletas em nós.
Mas ao contrário do que um leitor desavisado possa pensar neste momento, sem nada meloso ou pedante. Pelo contrário, a escrita de Alejandro Zambra tem a mistura certa de ironia, emoção, gargalhadas e vontade de virar mais uma página para acompanhar a vida destes quatro personagens.
O que eu achei de Poeta Chileno
Eu não conhecia o autor Alejandro Zambra, recebi dois de seus livros quando o blog fez parte do Time de Leitores da Cia das Letras em 2021, e preciso dizer que adorei Poeta Chileno.
A forma leve de como ele consegue abordar diferentes assuntos ao mesmo tempo que realiza uma homenagem a poesia e aos próprios poetas chilenos através de seus encontros, diálogos, publicações simplesmente me encantou.
Dizem que isto é felicidade: nunca sentir que seria melhor estar em outro lugar, nunca sentir que seria melhor ser alguém que não você.
Sobre leveza, gostei de ele trazer diferentes visões da paternidade, que vão do avô cheio de filhos que não cuida de nenhum, do pai de Vicente que precisa de uma conversa com Gonçalo para participar mais da vida do próprio filho, até chegarmos ao olhar de quem não é o pai e sim o padrasto, aquele homem que cai de paraquedas em meio a uma família com todas as suas manias e precisa descobrir como apresentar aos outros o menino que o acompanha em todos os lugares.
Os laços e as influências que se criam entre Gonçalo e Vicente são mais fortes do que eles mesmo querem acreditar, algo que começa na forma de se apresentar até o companheirismo dos dois na rotina do dia-a-dia. E entre os diferentes amores apresentados na narrativa, com certeza o mais bonito.
Fracassar seria, para ele, acordar de repente em meio a uma vida insossa, condenado à prisão perpétua de um trabalho miserável.
Em relação as personagens femininas, embora não sejam as protagonistas na narrativa, trazem questões importantes sobre as escolhas que precisam fazer e o papel da mulher dentro da literatura, que vai além da chilena.
Também gostei de saber mais sobre o funcionamento do próprio Chile, como a questão de todas as universidades serem pagas, dificultando e muito o acesso para quem não tem condição financeira para arcar e assim acabam impedidos de evoluir profissionalmente nas áreas desejadas.
Na poesia, você tem que jogar com tudo. Se for um bom poeta, pode escrever romances para ganhar uma graninha, porque escrever romances é mais fácil.
Somado a tudo isso os personagens são carismáticos, a escrita fluída e envolvente, não foi raro dar uma gargalhada com o desenrolar da história, assim como a divertida inserção de fotos, como de um gato para representar Oscuridad, a amada felina que tinha como concorrente de ração o próprio Vicente.
Definitivamente depois de tudo isso, acho até meio redundante dizer que sim, recomendo e muito a leitura de Poeta Chileno. Com certeza vocês não irão se arrepender.
Poeta chileno
Alejandro Zambra
Tradução: Miguel Del Castillho
Companhia das Letras
2020 - 428 páginas
Esta edição faz partes dos livros recebidos pelo Time de Leitores 2021 da Companhia das Letras, cuja resenha é independente e reflete a verdadeira opinião de quem o leu.
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