Sinopse: conheça Mildren Peacock: mãe, durona, engraçada e combativa que vive numa pequena cidade do Michigan, nos Estados Unidos. Uma sobrevivente que vai se desdobrar para manter a família unida. Neste romance, comparado ao aclamado A cor púrpura de Alice Walker, Terry McMillan narra a vida de uma mulher negra e seus cinco filhos com honestidade e potência dignas de uma obra-prima da literatura contemporânea.
E a minha assinatura da TAG Curadoria iniciou o ano com uma indicação do escritor Itamar Vieira Junior, e assim janeiro/2023 trouxe na minha caixinha o livro Mama da norte-americana Terry McMillan. O mimo foi um planner que tem cara de caderno, já que não possui divisão nenhuma.
Uma curiosidade neste caso é que o livro foi totalmente pela TAG, não tendo parceria com outras editoras.
Mildren tem 27 anos, cinco filhos em idade escolar, sustenta a casa e apanha do marido bêbado chamado Crook. Um tipo ciumento que não aceita que a esposa chame a atenção, mas que também não abre mão de passar algumas noites na casa da amante de longa data.
Odiava aquela casa caindo aos pedaços, odiava aquela cidade horrenda, odiava nunca ter o suficiente de nada.
Enquanto Mildren se vira atrás de dinheiro e vai ajustando a vida amorosa, Freda cuida dos irmãos mais novos enquanto segue se dedicando aos estudos, amadurecendo rapidamente para os seus dez anos.
Tudo isso no período dos anos de 1960, quando a concorrência na produção de veículos torna a vida dos moradores da fictícia Point Haven mais difícil com as frequentes demissões e a dependência da assistência social.
Não são seus filhos, desgraçado. São meus. Talvez tenham seu sangue, mas são meus.
Convidando o leitor há não só acompanhar o crescimento das cinco crianças e da agitada vida amorosa de Mildren, como também o declínio econômico de Detroit e os anseios de toda uma época.
A escrita de Terry McMillan
Utilizando a narrativa em terceira pessoa, a autora Terry McMillan não precisou separar em partes ou até mesmo sinalizar no início de cada capítulo o ano e a cidade em que os Peacock estavam.
Sua escrita direta, franca, fluída faz isso sozinha. E assim assistimos pelas palavras as crianças crescerem, escolherem os seus caminhos e assim cometerem seus próprios acertos e erros. Enquanto Mildren se ver com novas indagações e sentimentos quando vê um por um deles tomarem as rédeas da própria vida.
Lavou os olhos inchados e decidiu que seria a última vez que abriria o coração de um jeito tão ansioso e generoso, só para não sentir mais como se tivesse uma ferida recém-aberta na qual algum homem havia jogado sal.
Aliás, os personagens de Terry McMillan são terrivelmente humanos em seus acertos e erros, e assim eles podem tanto irritar, quanto divertir ou sensibilizar o leitor. Tornando-os muito próximos de quem passa por suas páginas a ponto de provocar encantos e decepções. Provocando o juiz, promotor e defensor que existe dentro de cada um de nós.
E é de forma natural que a narrativa aborda assuntos como violência doméstica, alcoolismo, drogas, sexo, compulsão, depressão, pobreza, racismo, aceitação e, como já indica o título, maternidade.
Não gasta seu tempo ou seu dinheiro com coisas baratas, meu amor, porque vai acabar pagando por tudo duas vezes.
Maternidade que vai do medo da reação da mãe após determinado acontecimento, do respeitar e desafiar, de se ver enlouquecida com cinco filhos até o momento de sofrer com o ninho vazio. Uma maternidade longe dos comerciais de margarina e mais próximas das vielas que toda cidade tem.
Tudo isso em uma família que não diz eu te amo um para os outros, onde não há abraços maternos, mas há fome e superação, há tombos e a mãos para ajudar a levantar, questionando se o amor está nas palavras ou nas atitudes.
Se um preto está tentando matar outro, os brancos nem ligam.
A escolha do fundo histórico para a história da família também torna a narrativa interessante, já que conta um pouco do que acontecia não só com a sociedade americana no período, mas também com as mudanças econômicas na indústria do país, além de abordar questões como o funcionamento da assistência social e a vida em comunidade.
O que eu achei de Mama
Mildren e Freda, mãe e a filha mais velha, foram personagens que ao mesmo tempo que me irritaram, me envolveram, com direito a torcida e vontade de entrar no livro e dar uma sacudida nas duas inúmeras vezes.
Principalmente quando elas têm tudo para se estabilizarem na vida, mas optam em ceder as suas compulsões, seja pela bebida, sejam pelas compras. Assim como a repetição de ciclos, que parecem loops eternos que ecoam de mãe para filha, me trazendo a mente a frase como os nossos pais.
Durante muito tempo me preocupei em passar pelas mudanças da vida. Então, quando vi, já tinha passado por elas.
Tornando a história as vezes familiar por lembrar aquela conhecida ou parente nem sempre distante de comportamento tão semelhante. Lembrando que algumas ações e reações as vezes independem de raça, classe social e estudo. Pois a repetição de atos maternos e paternos não são incomuns, muito pelo contrário, já que normalmente são os pais os primeiros e grandes exemplos.
E todo este conjunto fez com que a história ficasse ecoando na minha cabeça, com várias perguntas e reflexões, como o fato de até que ponto a sociedade pesa no nosso comportamento? Por que tantos não resistem em quebrar o que as vezes é tão negativamente esperado? Como não repetir ações dos nossos pais quando elas não são boas para nós? Entre tantas outras que seguem pipocando na minha mente enquanto escrevo esta resenha.
Por alguma razão, naquele momento, tudo parecia tão simples. Percebeu que tinha um monte de coisas para agradecer.
Motivo pelo qual eu naturalmente recomendo a leitura. Para que você também possa se divertir, sofrer, se irritar e ter vontade de abraçar a família Peacock.
Mama
Terry McMillan
Tradução: Petê Rissatti
TAG - Experiências Literárias
1987 - 287 páginas
Assinatura integralmente paga pelo autora da resenha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário