terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Alguém para correr comigo



Sinopse: Dois jovens percorrem as ruas de Jerusalém, seguindo caminhos e propósitos diferentes. Na cidade, encontram organizações clandestinas, criminosos, viciados e outros personagens que nos revelam um submundo desconhecido. Ao longo de uma narrativa ao mesmo tempo perturbadora e delicada, que surpreende o leitor da primeira à última linha, ambos vão descobrir que a curiosidade pelo mundo e o cuidado com as pessoas são a chave de ingresso numa vida adulta desafiadora e apaixonante.

O livro escolhido pela TAG Curadoria para fechar o ano de 2022 foi Alguém para correr comigo, livro do escritor David Grossman, considerado um dos principais nomes da literatura israelense contemporânea. A curadoria foi da escritora Ayelet Gundar-Goshen, que já havia indicado em 2019 o ótimo Êxtase da transformação. O mimo enviado foi um bonito calendário para ser usado no ano de 2023.

Enquanto os pais viajaram para os Estados Unidos para visitar a irmã, Assaf passa as férias em um trabalho temporário na prefeitura. Sua missão no dia é descobrir quem é o dono de um cachorro perdido e cobrar dos donos uma multa.

Ele voa, cruza ruas cheias de tráfego e ultrapassa sinais fechados. Seu pelo amarelo some da vista do jovem e reaparece entre as pernas dos transeuntes, como sinais de um código.


Por desconhecer o responsável pelo animal, é lhe ensinado a tática de deixar o cão escolher o caminho, já que ele tende buscar a própria casa. Mas a tarefa o leva a uma verdade maratona pelas ruas de Jerusalém e ao nome Tamar.

Tamar aproveitou uma viagem dos pais para desistir de uma turnê pela Itália e fugir de casa, passando assim a viver e cantar pelas ruas de Jerusalém. Com o cabelo raspado para não ser reconhecida, busca por alguém que para encontrar, precisa ser convidada a integrar um grupo desconhecido.

Após alguns instantes começou a ofegar intensamente. O coração batia forte, e os pensamentos ruins começaram a girar na sua cabeça.


Sua bela voz logo lhe apresenta o convite e ela passa a morar em um alojamento que abriga os mais diferentes artistas de rua com agendas lotadas e devidamente observados, ficando cada vez mais claro os perigos de ela estar ali e cumprir a sua missão.


A escrita de David Grossman

O autor israelense David Grossman utiliza a narrativa em terceira pessoa para nos contar os caminhos e desvios de dois adolescentes pelas ruas de uma Jerusalém bem diferente do que muitos imaginam.

Sai a parte antiga tão mostrada pela televisão e entra uma área cosmopolita e as várias cidades próximas. Optando em dar apenas uma pincelada na questão dos conflitos que envolvem a região, o escritor que é um ativista pela paz em Israel, em Alguém para correr comigo ele escolheu escutar e contar um pouco sobre os jovens que vivem nas ruas.

A verdade, meu caro, é que não gosto de falar sobre Deus... já não nos damos tão bem como antigamente, Deus e eu. Cada um segue o seu caminho.


E assim temos amores, drogas, sonhos, empatia, disputas, egos, e todo o misto de sentimentos que envolvem o período da adolescência em um livro sem capítulos, apenas 6 partes que possuem títulos como Minha sombra e eu saímos a caminho - o mais longo com mais de cem páginas - e Como um cego, vou à sua procura.

Em cada uma destas partes ele vai não só alternando entre os personagens Assaf e Tamar como em relação ao tempo, esta ida e volta preenchem as lacunas do presente para o leitor, que vai aos poucos construindo a visão completa do todo.

E ela rapidamente se sente como uma pequena folha na água que decidiu ir numa direção diferente de toda a correnteza do rio.


Junto com o romance adolescente entram personagens que dão um ar de fábula a história, como Teodora, a freira guardiã de uma casa para peregrinos de uma ilha que não existe mais. Ou Vitório, o rapaz que sonha com as estrelas e acha que Tamar é cega enquanto outros debocham dos danos de um acidente doméstico.

O elo para tudo isso é um cachorro, ou melhor, uma cadela chamada Dinka, que os faz correr e corre com eles, sendo companheira de Tamar e levando Assaf a conhecer o mundo da menina como ninguém mais o fez.


O que eu achei de Alguém para correr comigo

Como ocorreu em dezembro/2021, quando a TAG Curadoria enviou Nada para ver aqui, o livro que encerra 2022 foi bastante leve, o que o torna bastante agradável para uma leitura de férias.

Ao contar a história de dois jovens de classes sociais distintas, com estruturas familiares bem diferentes, o autor David Grossman consegue escrever um livro sobre adolescentes para adolescentes.

Ela viu a si própria com os olhos dele: uma moça jovem, tarde da noite, no lugar errado.


Mas isso não exclui automaticamente os leitores mais velhos, já que ao abordar todo o psicológico dos 15/16 anos ele pode nos fazer também viajar no tempo e lembrar de como lidávamos com uma série de sentimentos naquele período.

Pois além das buscas físicas, entra a questão da amizade neste período tão confuso, nas ideias que acreditamos e os sonhos que são alimentados em uma idade que tudo parece possível.

Era estranho que, embora na verdade fosse um solitário, jamais tivesse pensado em si mesmo como tal.

E se no começo leitores e personagens estão bem distantes, suas idas e vindas vão aproximando não só Assaf, Tamar e Dinka, mas também quem acompanha suas aventuras e desventuras.

Eu gostei, confesso que não achei o livro fantástico e nem entrou no meu top 10 de lidos do ano, mas achei tanto a história como o local escolhidos diferentes, o que capturou a minha atenção para virar as páginas, não com uma curiosidade enlouquecida, mas naquele ritmo hora agitado, hora preguiçoso que a adolescência tem.

Na última hora começara a sentir medo - bem, não exatamente medo, era mais preocupação - de que alguém o estivesse seguindo.


Ficando a dica para quem gosta de livros que se passam em lugares diferentes do habitual, que se interessa em conhecer outras culturas, e que não se importa em retornar para um período onde mais interrogações do que certezas habitam o coração.


Alguém para correr comigo
Mishehu larutz itô
David Grossman
Tradução: George Schlesinger
TAG - Companhia das Letras
2000 - 381 páginas

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Assinatura integralmente paga pelo autora da resenha.


3 comentários:

  1. É um livro bastante interessante, é muito bom conhecer outras culturas de outros países, é um livro que dá muito prazer pra ler.

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  2. Bem diferente do que estou acostumada. Achei interessante essa indicação.

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  3. Oi
    Achei bem interessante a história :) ainda não conhecia o trabalho do autor

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