terça-feira, 6 de julho de 2021

O Pássaro Secreto


Sinopse: Vencedor do Prêmio Kindle 2021, O pássaro secreto, de Marília Arnaud, apresenta a história de Aglaia Negromonte. Possuída por algo que lhe rasga o peito, sua vida toma rumos inesperados quando o grande segredo do pai, a existência de uma filha fora do casamento, é relevado à família. Afinal, como seguir adiante quando toda a sua vida parece uma mentira e vai sendo, pouco a pouco, tomada por uma intrusa?

Recebi no mês de maio/21 da minha assinatura da TAG Curadoria o livro O pássaro secreto da escritora paraibana Marília Arnaud. O mimo foi um livro de contos chamado Partes de uma casa.

A personagem principal e narradora é Aglaia, filha de um ator e uma professora universitária, ela tem dois irmãos mais novos e inúmeros problemas, como bulimia e uma tendência a violência quando as coisas não estão do jeito esperado.


Talvez exista um lugar de onde não se pode mais retornar, onde a vida não pode ser restituída.


É uma menina que se descreve como gorda, que diz comer tudo o que vê, em qualquer horário, e que também vomita o que foi ingerido. O que gera a primeira dúvida em relação a  personagem, se ela realmente era gorda e sofria bullying por isso ou se ela tem distorção de imagem e afasta os demais por sua arrogância.

Arrogância por não se privar de tentar mostrar que sabe mais do que todos os colegas e professores, somente pelo fato de ter lido obras que a princípio não seriam para a sua idade. Aliás, suas longas listas de livros a tornam um tanto pedante, lembrando aqueles leitores intelectuais que torcem o nariz para determinados livros e só consideram de mesmo nível quem leu determinados clássicos. 


Gigante cego, esmagava quem se pudesse no seu caminho, quem atravessasse à sua frente.


Observa-se também que ela tem uma grande necessidade de chamar a atenção de seu pai, ao qual parece alimentar um complexo de Electra, principalmente ao cobrar reações de sua mãe em relação ao comportamento do marido, sua tristeza e perdão são considerados fraqueza pela filha mais velha.

O copo emocional da personagem transborda ao descobrir que tem uma irmã mais velha morando na França. Filha de seu pai com uma atriz francesa, a jovem ficou órfã e irá morar junto com a família. A menina é descrita como uma perfeição, parecendo centralizar todos os afetos de Aglaia, onde inclui sua amada avó e o seu amor platônico.


Diferenças eram diferenças, e pior sorte tinha quem as carregasse.


O acolhimento e afeto por todos os integrantes da família com a recém chegada desperta as atitudes mais absurdas em Aglaia, aos quais ela se refere como impulsionados por uma coisa, o pássaro secreto do título. Onde nem psiquiatras nem os remédios conseguem trazer um ponto de equilíbrio, até pelo fato de ela não ser sincera com eles.

O Pássaro Secreto de Marília Arnaud tem como curiosidade as diferentes formas como a leitura pode ser realizada. Apesar do livro possuir os capítulos sequenciados, na verdade ele pode ser lido de duas maneiras distintas, página após página ou separando os capítulos ímpares dos pares, já que apesar da personagem ser a mesma, eles não ocorrem ao mesmo tempo. 


Uma das lembranças mais nítidas que guardo da minha infância é a sensação do aconchego do seu corpo, do cheiro da sua pele, do calor da voz.


Com isso os capítulos impares são mais curtos e diretos, e os pares mais longos, onde a personagem conta todos os fatos pelo seu olhar. Aqui confesso que senti necessidade de um segundo narrador, visto que como a própria personagem se define como mentirosa, não é possível distinguir o que é verdade e o que é imaginação.

E isso é fortemente indicado pela sua identificação com o personagem Iago, da peça Otelo do escritor inglês Shakespeare, cujas características são associadas a intriga e manipulação dos que estão ao redor. Algo que a personagem não consegue em seu núcleo familiar e que me fez pensar pela reação dos seus dois irmãos mais novos - que muito pouco aparecem na história - o que ela já havia feito a eles.


Descobri que as histórias mais perturbadoras contadas em livros não são mais perturbadoras do que a realidade, com sua fome de vida e de morte.


Uma curiosidade são os nomes das três irmãs, escolhidos pelo pai, elas representam as Três Graças da mitologia Grega, sendo Tália (a irmã que chega) a que faz brotar flores, Eufrosine (a caçula) o sentido da alegria e Aglaia (a narradora) a claridade. No caso de Aglaia, o significado dá um tom a mais para ela não se identificar com o nome, já que ela tende mais a escuridão.

Para quem adora encontrar referências de outras obras, como não poderia deixar de ser com uma narradora tão ligada a livros, eles estão presente por quase toda obra, as vezes até de uma forma um tanto exagerada, na minha humilde opinião, o que algumas vezes me passou uma ideia de bengala, já que na história em si não agregava muito.


A vida me empurrou para a escuridão ou eu nasci com a escuridão dentro de mim?


Ao mesmo tempo é possível se recordar de algumas leituras no decorrer das páginas, o choro de Aglaia ao nascer me lembrou muito a personagem Tita de Como água para chocolate da escritora Laura Esquivel , ao relacionar as lágrimas como prenuncio do que enfrentaria no futuro. No caso de Tita, o futuro egoísta definido por sua mãe mais do que justificavam as lágrimas que vinham desde o ventre, já no caso de Aglaia, parece mais uma menina mimada que acaba sofrendo as consequências de seus próprios atos.

Há também uma grande referência ao adorável livro infanto-juvenil A Bolsa Amarela da escritora Lygia Bojunga, quando ela diz ter os mesmos ter desejos da personagem Raquel: ser grande, ser escritora e ser um menino. 


Deveria existir uma lei dispondo sobre o amor para todos, com igualdade de forma e quantidade.


Eu particularmente nem gostei nem desgostei da leitura. Como diz o chef Jacquin, faltou um pouco de tômpero na minha opinião. Mas é um livro de escrita fluída, que possibilita rápida leitura, ao mesmo tempo que pode ser muito interessante para quem curte ficção com base em distúrbios mentais. 


O Pássaro Secreto
Marília Arnaud
TAG Curadoria - José Olympio
2021 - 270 páginas

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5 comentários:

  1. É um livro profundo, é muito ruim quando a pessoa se sente rejeitada, sente medo, dores, fiquei curiosa pelo livro, bjs.

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  2. Oi
    Eu gostei da dica de leitura, a temática é bem interessante. Não conhecia a autora e que legal que ganhou o Prêmio Kindle.

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  3. Oi! Gostei da dica, essas leituras geralmente abordam temas que por vezes tocam a gente, darei uma chance! Beijos

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  4. Amei a dica! Acho que já tinha ouvido falar dessa autora.

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  5. E certamente uma ótima sugestão de leitura eu estou a amar ler esta livro me tem aberto os horizonte.
    Boas leituras

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