Sinopse: Nos inícios dos anos 1980, o Rio de Janeiro está prestes a virar palco de uma revolução musical e comportamental. O tempo é de instabilidade política, o tráfico se expande nas favelas e a epidemia de aids é um balde de água fria em quem acredita que a era de Aquário se aproxima. E é nesse cenário que, ao longo de dez anos, as vidas de Inácio, Baby, César, Selma e Rosalvo se entrelaçam.
No mês de Maio/2021 recebi da minha assinatura da TAG Inéditos o livro Gostaria que você estivesse aqui, do escritor brasileiro Fernando Scheller. Como mimo veio um livro de contos chamado Partes de um corpo.
Embora tivesse dinheiro para comprar discos, seu gosto musical era ditado pelas músicas que a professora de inglês usava como referência nas aulas.
A história começa em 1980 com a aprovação no vestibular de Inácio e sua paixão por sua amiga de infância Baby. Estranho se comparado aos outros rapazes, Inácio é um guri gentil e educado, que vem de uma família equilibrada, onde os filhos são apoiados.
Já Baby está sendo usada pela mãe para recompor a economia da família, e assim possa manter o status de morar em um apartamento localizado em região nobre. Mas a menina, perdida sobre quem é e não aturando ficar perto do namorado para qual é empurrada, foge de casa.
Julgara-se esperto ao vir para a cidade em busca de vingança, mas na verdade era um matuto.
Com a ausência de Baby, Inácio muda de curso e encontra a amizade de César, um rapaz de família rica, bonito e inteligente, que é rejeitado por seu pai por sua homossexualidade.
César se encanta por Inácio, assim como sua mãe, Selma, uma professora universitária que escolheu ficar ao lado do filho quando lhe foi imposta uma escolha pelo marido. É uma mulher que vive restrita por seus medos e análises do passado, dores a assombram e a impedem de realizar as suas próprias escolhas.
Era uma professora de literatura clássica que não entendia nada de tragédia, que era incapaz de reagir.
Completando o quinteto está Rosalvo, que sai de sua vida organizada no interior, deixando todos os bens divididos entre os seus filhos para encarar a cidade do Rio de Janeiro. Seu objetivo é descobrir o assassino de seu filho Marquinhos, conhecido no morro como Eloá.
Para contar as cinco trajetórias Fernando Scheller optou em usar a narrativa em terceira pessoa, em um ritmo facilmente cinematográfico, onde você acompanha cena a cena os acontecimentos, mas sem estar dentro da cabeça dos personagens, apenas descobrindo os seus sentimentos conforme suas ações e reações.
A medida de sucesso da nova geração havia, de um jeito estranho, se igualado à de seus pais.
Misturando alguns clichês com fatos reais, como não poderia deixar de ser, a história é cheia de referências a década de 1980, desde o surgimento do rock, passando pelas manifestações das diretas já, passando por locais ícones do Rio de Janeiro como o Círculo Voador e as pelas praias, até a eleição de Collor para presidente.
Na minha percepção a história tem como personagens bases os três masculinos, onde César e Inácio nos dão o ponto de vista das classes média e alta carioca, enquanto Rosalvo transita entre a portaria de um edifício de bairro nobre e o morro com seus moradores e facções.
Porque, uma vez que se está no topo, não existe nenhuma alternativa que não seja a queda.
Aliás, achei muito bonita a amizade entre Inácio e César, onde o apoio incondicional, a troca de conhecimento, mostram como algumas pessoas criam barreiras bobas por prejulgar o outro. O modo como os dois evoluem juntos e fazem suas próprias escolhas sem romper os laços mostram a força de um amor que encara toda e qualquer dificuldade da mesma forma que compartilha alegrias.
Pois é através dos dois que vemos todo o surgimento e evolução da aids no Brasil, a morte rápida de quem estava em sua volta, a sentença de morte ao conseguir realizar o teste e obter o resultado positivo, a espera pela manifestação da doença, o preconceito enfrentado ao apresentar os sinais que a identificavam.
Sem aviso, as festas da adolescência, com dança da vassoura e bolo ruim, foram substituídas por funerais-surpresa.
Eco semelhante encontrado em Rosalvo, um senhor que respeita a todos e por sua postura também é respeitado, que parece se reinventar em meio a diversas situações, aceitando recomeçar em nome de um amor que exige que a morte do filho não saia impune. Ele também passa por uma evolução, ao qual ao avaliar as características e o período tornam tudo ainda mais surpreendente, pois ao aceitar a escolha do filho se identificar como mulher não muda em nada o seu sentimento, apenas a forma de chama-la.
O que me incomodou um pouco no livro foram as personagens femininas, que me pareceram ser as menos trabalhadas no decorrer da história. Selma ainda tem momentos fortes, inclusive uma das cenas mais marcantes na minha opinião. Mas Baby é colocada de uma forma muito artificial, suas poucas aparições na narrativa são sempre tão perdidas, como se fosse uma eterna adolescente.
Ditador, não importa o disfarce que assuma, continua ditador.
Mas isso não me impede de recomendar a leitura do livro, que trata de temas tensos sem ser pesado, além de ser uma ótima forma de relembrar ou ter uma noção dos anos 80 em território carioca, entender um pouco mais do início da aids, e do que mudou, ou não, de lá para cá.
Gostaria que você estivesse aqui
Fernando Scheller
TAG Inéditos - Harper Collins
2021 - 320 páginas
É um livro que aborda temas bastante relevantes, vimos que os personagens tem histórias dolorosas, achei o livro muito real, a leitura é bem fluída, bjs.
ResponderExcluirGosto muito de enredos que misturam ficção com fatos reais. Essa linguagem cinematográfica e a ambientação nos anos 80 também acho atraente. Adorei conhecer o livro.
ResponderExcluirEu amo a década de 80 e ter um livro cuja história dos personagens se passa nessa época é fantástico. Os temas de muita importancia até os dias de hoje e sem dúvidas é uma leitura muito boa. Ja vai entrar para a minha lista, adorei a resenha, beijos
ResponderExcluirOi, tudo bem? Achei incrível a história ser ambientada nos anos 80, minha época favorita do mundo. Acho lindas as edições da Tag. Uma pena os personagens deixarem a desejar. Mas concordo com você, a leitura sempre vale a pena. Um abraço, Érika =^.^=
ResponderExcluirEnredo surpreendente, o livro é uma realidade escrita. Muitas coisas aconteceram na década de 1980, o HIV e a AIDS não tinham cura. Músicas no auge que acumulavam muito vírus.
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