quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

As Garotas Madalenas


Sinopse: Dublin, 1962. Dentro dos portões do convento das Irmãs da Sagrada Redenção opera uma das Lavanderias de Madalena. Outrora um lugar de refúgio, essas lavanderias se tornaram sombrios reformatórios de trabalhos forçados. E é para lá que a jovem Teagan Tiernan, de 16 anos, é levada pela família, depois de ter sido transformada em personagem de uma intriga que também envolvia um jovem e belo padre.
Entre mulheres “em desgraça” – mães solteiras, prostitutas, menores infratoras – e garotas comuns, cujos únicos pecados se resumiam a serem bonitas ou independentes demais, Teagan faz amizade com Nora Craven, uma jovem rebelde que pensou que nada poderia ser pior que sua miserável vida familiar. Mas isso até conhecer a Madre Superiora e suas punições cruéis – sempre em nome do amor. Entre fracassadas tentativas de fuga, Teagan e Nora vão descobrir como é árduo o mundo exterior, principalmente para jovens de reputação arruinada.

Encontrei este livro caminhando ao acaso pela livraria, o título me chamou a atenção ao utilizar uma das figuras de história mais contraditória: Maria Madalena. A sinopse cheia de detalhes me deixou em dúvida, mas ao ver que o subtítulo Quem poderá salvá-las? Não estava no original, me decidi por leva-lo.

Assim era a vida, pensou, ensolarada em um momento, e nublada, em outro.

Narrado em terceira pessoa, temos três moças como personagens principais nesta história, que começa de forma boba, até mesmo leve, e vai ganhando uma intensidade ao qual você se pega virando páginas e torcendo por cada uma delas, conforme o destino, ou melhor, o autor V.S. Alexander, vai nos surpreendendo.

Suas mãos estavam descascadas e vermelhas de alvejante e detergente.

A primeira jovem é Teagan, uma menina bonita, filha única de um casal de irlandeses, que em uma brincadeira boba com uma amiga fica alguns minutos sozinha com o padre recém-chegado. O homem é bonito, atraente, mas nada ocorre entre eles.

Padres não mentem.

Mas este encontro é o suficiente para mexer com ele, que revela os pensamentos sexuais ao padre mais velho da igreja. A solução encontrada? Mandar Teagan limpar os pecados que não são seus em um convento de freiras.

Eu tenho tarefas mais importantes a cumprir do que passar a manhã ouvindo o canto dos pássaros ao lado de uma pecadora.

A menina vaidosa e bem arrumada perde absolutamente tudo, incluindo o seu nome. Em um lugar onde a desesperança está em cada olhar, ela tenta fugir da loucura ao fazer amizade com outra novata.

Um vazio terrível apoderou-se dela; até as lágrimas se recusavam a cair.

Esta novata é a segunda jovem principal da história. Nora detesta a família e suas regras, tenta desesperadamente arrumar uma alternativa para ir embora para Londres. E nesta ansiedade, em um passo em falso, vai parar no meio das freiras.

Todas as Madalenas sofreram morte cerebral.

Seu desdém lhe rende uma solitária logo de início, mas seu espírito corajoso e rebelde não tem maturidade suficiente para aguentar as consequências de atos impensados em um local cujo objetivos parecem ser faturar com a lavanderia e quebrar o espírito das jovens que trabalham em regime de escravidão.

...se eu tivesse que escolher uma companheira de cela na prisão, seria você.

A terceira moça é Lea, que está no convento há quatro anos e não lembra mais o seu verdadeiro nome. A menina órfã foi colocada ali pelo padrasto, que não queria mais sustenta-la. Diferente das outras, ela não realiza os trabalhos forçados, e sim trabalha em um livro.

Lea é a figura sobrenatural da história, cujas revelações servem para contar um pouco mais dos fatos das verdadeiras lavanderias de Madalena. Pois ao contrário das personagens, estes locais são eram mera ficção até o ano de 1996, e seus crimes são tão chocantes quantos os de pedofilia. 

O desejo de se dobrar às freiras, de chorar e de desistir de tudo nunca fora tão forte.

A quarta personagem da história é a Madre Superiora, uma mulher que diz com frequência a palavra amor sem ter um pingo dele dentro da alma. As justificativas para os castigos e maldades revelam um grau de loucura de uma pessoa despreparada para lidar com outros seres humanos, mas respeitada pelos que a cercam.

Eu não quero que você morra no pecado. Quero que ressuscite no paraíso.

As Garotas Madalenas é um livro tenso e intenso, onde religião, machismo, traumas, desafetos se misturam em uma escrita fluída, de fácil leitura, mas difícil de esquecer. 

As Garotas Madalenas
The Magdalen Girls
V.S. Alexander
Tradução: Nilce Xavier
Editora Gutenberg
2017 – 283 páginas

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