Sinopse: Narrado a quatro vozes, Uma casa no fim do mundo acompanha a vida de Jonathan e Bobby, dois jovens solitários de Cleveland que se aproximam na época da escola e desenvolvem uma delicada relação de amor e amizade. Depois de terminar a faculdade, Bobby vai ao encontro de Jonathan em Nova York e conhece Clare, com quem o amigo divide o apartamento. Quando Clare se envolve com Bobby, os três decidem comprar uma casa perto da emblemática Woodstock e construir juntos seu ideal de família. Do aclamado autor de As horas, este é um relato magistral da complexidade dos relacionamentos humanos e da busca pelo verdadeiro significado de “lar”.
A TAG Curadoria fechou o ano de 2019 com um livro indicado pela escritora argentina Mariana Enriquez. Ao contrário do gênero preferido da curadora, Uma casa no fim do mundo do escritor Michael Cunnigham não possui nada de terror para quem sabe lidar bem com sentimentos humanos.
Quer ter alguma coisa para deixar para nós, alguma coisa para passarmos adiante.
Narrado em primeira pessoa, cada capítulo é identificado pelo nome do personagem que está contando a sua história, facilitando a vida do leitor que não se perde quanto ao narrador.
Podemos dizer que a história possui dois personagens principais, que são Bobby e Jonathan, e suas personalidades são apresentadas logo nos dois primeiros, quando ambos possuem cinco anos. O capítulo de Bobby é como uma pintura, rápido e ao mesmo tempo forte, ele nos conta uma lembrança carregada de sonhos de infância. Já Jonathan, como um futuro jornalista, é detalhista, e conta passo a passo um episódio da sua vida familiar.
Creio que sei o momento em que meu interesse se transformou em amor.
A casa do título é um detalhe, pois a história é muito mais do que a sinopse descreve. Em uma escrita fluida e delicada, Michael Cunnigham nos convida a conhecer cada um de seus personagens, ora pelos próprios olhos, ora pelos outros três.
Nenhum deles é um super-herói, nenhum deles é perfeito, são pessoas comuns, com suas histórias, escolhas, desafios, amores e desafetos. Mais do que julgar, é um exercício de empatia compreender cada um deles.
Você pode ter o mundo inteiro sem me botar para fora da sua vida.
Ouso dizer que Bobby é o personagem chave, calado, que as vezes pode parecer um tanto idiota para os demais, quando na verdade ele é o que melhor decifra as pessoas. Ele é também o que possui mais perdas, o que lhe dá uma carência e ao mesmo tempo uma forma diferente de viver, já que ele vive pelos vivos e pelos mortos. Assumo que foi o meu personagem favorito, que muitas vezes tive vontade de abraça-lo ou de simplesmente sentar ao seu lado para curtir uma música.
Aliás, para quem curte fazer seleção musical para seus livros, Uma casa no fim do mundo é um primor, com vários clássicos do rock estando presente em vários capítulos.
Será que eu fora o tipo de mãe que afasta o filho das mulheres?
Jonathan é o contador de histórias, que nos traz a escolha pela homossexualidade, o eterno solteirão na visita aos pais, o cara que vive a superficialidade por estar em busca do momento certo para a felicidade. É através dele que o autor também trás a grande angústia com o aparecimento da AIDS, que nos anos 80 era uma sentença de morte.
Ele é tão caninamente fiel em sua dedicação, tão interminavelmente agradável.
A narrativa é complementada por duas vocês femininas, começando por Alice, mãe de Jonathan. Uma mulher que não se adequa aos ritos da sociedade dos anos 60, que escolheu o casamento precocemente para fugir da vida familiar, que ama muito o seu filho e não quer ficar fora do seu mundo. Que se torna uma segunda mãe e uma referência para Bobby.
Seu personagem traz o leitor para os vários papéis que uma mulher pode exercer, em diferentes fases da vida. Da esposa insatisfeita a mãe que se abre para as descobertas junto com dois adolescentes.
Eu não morreria sem me realizar, pois estive aqui, bem aqui e em nenhum outro lugar.
Clare completa o quarteto sendo uma figura mais controversa, figura feminina na casa com os dois rapazes, é uma rica herdeira que vê a juventude se esvaindo enquanto o relógio biológico começa a bater. Sua intimidade com Jonathan é superficial, visto que os dois conseguem dividir um teto, mas não os problemas.
Um livro maravilhoso, reflexivo e encantador, em uma leitura que pode perfeitamente misturar calma e pressa, conforme o momento. Creio que ficou claro o quanto adorei ler este livro, ao qual recomendo de olhos fechados.
Uma Casa no Fim do Mundo
A Home at the End of the World
Michael Cunnigham
Tradução: Isa Mara Lando
TAG Curadoria - Companhia das Letras
1990 - 387 páginas
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