Sinopse: Medicina Macabra é uma leitura para pessoas de estômago forte e humor peculiar. Remédios irremediáveis, relatórios verídicos, curas extraordinárias, cirurgias que tinham tudo para dar errado, casos insólitos e lamentáveis embaraços: está tudo aqui. Você está pronto para dissecar as excentricidades do nosso passado?
Durante uma pesquisa para um artigo, Thomas Morris se deparou com uma chamada promissora de um caso médico de 1829, um artigo que tinham toques de terror e fascínio, e assim nasceu uma coletânea de histórias médicas que vão do início do século XVII até a virada do século XX.
Dividida em sete partes, todas com um texto introdutório, fica claro que ficar doentes em séculos anteriores era para os fortes, já que os próprios tratamentos são impensáveis nos dias de hoje. O que mostra a evolução da medicina e o quanto as pesquisas e a tecnologia se tornaram aliados para tratamentos com mais conforto do paciente.
Não demorei muito para perceber que é quase impossível folhear uma revista médica antiga sem encontrar pelo menos um relato irresistivelmente nojento, hilário ou bizarro.
A primeira incisão, isto é, a primeira parte, é o que incontestavelmente o autor chama de Vergonha Alheia. Algo ainda comum nos dias de hoje, conta os casos de paciente que chegam em situações constrangedoras, como um homem que resolveu usar um garfo para sanar a sua prisão de ventre, o marinheiro que resolveu engolir todos os canivetes do navio ou o menino que ficou engasgado com uma laringe de ganso.
Aqui alguns casos estão mais para arte infantil do que vergonhosos, mas fiquei pensando se casos absurdos, que estão ocorrendo neste exato momento nas salas de pronto-atendimento, poderão vir a público para a diversão de futuras gerações.
Boa parte dos casos médicos bizarros de que se tem registro cabe numa categoria que podemos chamar de "coisas inacreditavelmente estúpidas feitas por rapazes".
Na segunda incisão nos deparamos com a Insólita Medicina, onde logo na introdução somos informados da dificuldade de diagnosticar doenças raras, ainda mais sem recursos para uma investigação completa, onde os efeitos da doença só eram observados após a morte, durante a autópsia.
Entre os relatos estão um rapaz com uma substância carnosa, cuja semelhança lembrava uma serpente, em seu coração. A família que foi contaminada por uma estranha doença que gangrenava braços e pernas e os dentes que explodiam na boca das pessoas.
De acordo com a teoria humoral, as doenças seriam causadas por desequilíbrio entre os quatro fluídos corporais ou humores: sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra.
Já na terceira incisão temos os Remédios Irremediáveis, onde são relatados alguns dos tratamentos bem estranhos. Aliás, durante a leitura inteira fica bastante claro o quanto os médicos dos séculos passados gostavam de sangrias e laxantes. Se houvesse um aplicativo para dizer qual era o tratamento naquela época, todos os casos retornariam os dois.
Além dos dois tratamentos de base, neste capítulo há coisas impensáveis, como soprar fumaça de cachimbo em diferentes partes do corpo - incluindo os pulmões do pobre doente -, pomada de ópio com suco gástrico de corvo, inalação de cigarro de mercúrio, além do uso bizarro de animais.
Se há algo que a maioria das pessoas sabe sobre a história da medicina é que os médicos de antigamente costumavam indicar alguns tratamentos bem estranhos.
Em uma época que não havia anestesia, a quarta incisão tem como sugestivo título Cirurgias Macabras relata cirurgias ousadas para o período, onde o paciente ficava acordado durante todo o tempo, independentemente do local do corte.
Entre elas nos deparamos com a cirurgia de um homem que engoliu uma faca, a autocirurgia para remover um cálculo renal, amputações e até uma cesariana realizada por um açougueiro.
A primeira transfusão de sangue humano bem-sucedida foi conduzida por James Blundell, no ano de 1818, também para tratar uma hemorragia pós-parto.
Para amenizar todo o pavor do capítulo anterior, a quinta incisão relata as Curas Extraordinárias, onde na introdução descobri que o Museu da Caça da Faculdade Real de Cirurgião da Inglaterra é uma das maiores coleções médicas do mundo - para quem curte muito o assunto, lugar para colocar no roteiro em uma viagem para Londres.
Entre as curas milagrosas relatadas estão algumas histórias de guerra, com pessoas que sobreviveram a tiros que aparentemente seriam fatais, um homem que teve o braço arrancado e não sentiu nada e um adolescente que caiu sobre uma foice, atravessando-a em seu peito.
Uma das mudanças mais surpreendentes na área de cuidados da saúde é o turismo médico, que se expande cada vez mais.
Nos aproximando do fim, temos a sexta incisão com Histórias Macabras, onde temos aquelas histórias em que existe um ponto de interrogação sobre o que é real e o que é ficção.
Aqui temos histórias de pessoas que diziam ficar semanas embaixo da água, o homem que dizia ter 152 anos, a mulher que entrou em combustão espontânea e as crenças traumáticas no período da gravidez, entre outras.
Ainda que muitos editores tivessem nobre intenções de publicar apenas a verdade pura e simples, e nada mais, suas publicações algumas vezes se perdiam no campo da completa ficção.
A sétima e última incisão trata dos Perigos Escondidos, afinal de contas, o mundo é um lugar perigoso, e situações de vida e morte estão em todos os cantos, como nos lembram nossas mães desde os primeiros anos de vida.
Nos casos relacionados pelo Thomas Morris, temos congestão por consumo exagerado de pepinos - os vegetais, deixando bem claro -, a indicação de que crianças não deveriam usar chapéus e mulheres não deveriam andar de bicicleta ou o não uso de fornos de ferro fundido.
Os médicos do século XIX eram especialmente adeptos a procurar situações de vida ou morte em qualquer lugar para onde olhassem.
Terminei a leitura convencida de que, em termos médicos, os séculos passados não eram exatamente um lugar fácil para se viver. Ao mesmo tempo observei que esta loucura em ações e palavras que observamos em todos os meios de comunicação nos dias atuais não são nenhuma novidade.
Em relação ao texto, apesar de naturalmente ter alguns termos técnicos - visto que são retirados de artigos de publicações médicas - o autor sempre as explica, deixando tudo claro o que se trata, além de sempre se ter uma contextualização histórica de quem eram e onde atuavam os autores dos relatos.
Tirando o fato de a vida do garoto estar em perigo, é preciso admitir que eu não perderia a chance de ouvir uma criança fazendo barulhos de ganso.
A única coisa que me incomodava ocasionalmente no texto é o senso de humor um tanto peculiar de Thomas Morris. Confesso que nem tudo achei tão engraçado, e alguns comentários me parecessem um tanto desnecessários. Mas nada que atrapalhe a leitura.
Então mesmo para quem não é da área médica, o livro se torna muito fácil de ler. E super recomendo para quem, como eu, tem essa curiosidade sobre a área, não só no presente, como também em relação a como funcionava no passado. Ou simplesmente para quem quer ficar feliz de ter nascido no nosso século.
Isso mesmo: a leitura de livros (e a escrita também) não só causaria a queda de cabelo, como também poderia criar a ilusão de que seu corpo se transformara num delicioso derivado do leite.
O livro Medicina Macabra faz parte de uma série, mas não são todos ligados a medicina. Na época eram três livros e eu no impulso comprei todos. Os outros são Vitorianas Macabras, com contos de terror escritos por mulheres da era vitoriana e Antologia Macabra, que reúne contos contemporâneos de terror, todos já resenhados aqui no blog. Se ficou curioso, basta clicar nos títulos para conferir.
Medicina Macabra
The mystery of exploding teeth and other curiosities from the history of medicine
Thomas Morris
Tradução Carlos Norcia
Macabra - DarkSide
2018 - 432 páginas
Uma ótima dica de leitura, vou procurar aqui!
ResponderExcluirÉ um livro com uma história interessante, o livro tem um conteúdo bastante curioso, confesso que fiquei muito curiosa pelo livro, bjs.
ResponderExcluirGente ainda bem que você avisou, realmente é uma leitura pesada, por isso gosto das suas resenhas...
ResponderExcluirAbraços, Alécia do Blog Arrojada Mix
Oi
ResponderExcluirEu adorei a sugestão é bem interessante :) já quero ler. Fiquei bem curiosa..
Nossa, amei! Já quero ler ele de cabo a rabo. Eu me interesso muito por essas coisas.
ResponderExcluirfiquei muito curiosa, kkk vou procurar pra ler.
ResponderExcluirUma boa reflexão de como nossos antepassados sofriam com tratamento ineficazes de diversas doenças,sem acesso a um conhecimento amplo,as pessoas se viam Obrigada a confiar em médico e,o que ocasionou na época muitas mortes.Fiquei muito curiosa para conhecer essa trilogia de relatos médicos da Medicina macabra,prevejo muito sofrimento,ignorância e falta de bom-sendo.
ResponderExcluirOlá, Renata.
ExcluirComo digo no último parágrafo da resenha: "O livro Medicina Macabra faz parte de uma série, mas não são todos ligados a medicina...Os outros são Vitorianas Macabras, com contos de terror escritos por mulheres da era vitoriana e Antologia Macabra, que reúne contos contemporâneos de terror".
Sobre os médicos, acho que muitos faziam verdadeiros milagres na época, e mesmo sem a tecnologia necessária conseguiam salvar seus pacientes. Assim como há muita estupidez das pessoas que as levam com os males mais absurdos aos consultórios.
Claro que também há erros, principalmente em relação ao desconhecido, por isso devemos dar viva a evolução das ciências, que seguem melhorando as formas de bem-estar e diagnóstico.
Esse livro é bem intenso, fiquei curiosa para ler.
ResponderExcluirOlá Andrea, tudo bem?
ResponderExcluirTenho muita vontade de ler e essa obra só me deixou querendo mais ainda navegar por esse enredo, que parece ser tão bom. Esse senso de humor um tanto peculiar acho que iria me fisgar, pois gosto disso. Arrasou demais na resenha!
Beijos!