sábado, 12 de março de 2016

(Sobre)Viver


Energúmeno, estafermo, desalmada, empecilho, verme. Eram alguns dos nomes carinhosos dados pela avó para a pequena de cinco anos.

Aprende e depressa. Ordenou o raptor.

Pertenço a equipa dos bons. Afirmou o detetive.

Uma luz dentro de um túnel escuro. Era o doutor que lhe ajudou.

Brilhantes, genuínos e verdadeiros. Adjetivos atribuídos para os olhos de quem lhe apresentou o amor.

Filipa Natal narra uma história pesada em dor, força e tristeza com uma leveza que não permite ao leitor cair após cada bofetada, mantendo-lhe em pé junto com a sua personagem principal. O fio condutor é uma mulher, mas alguns dos homens que influenciaram o seu caminho também possuem voz ativa. Livros e músicas são utilizados como referência em várias das situações, tanto que citações abrem e fecham (Sobre)Viver, cujo título dúbio é uma pista para os desavisados de que está não é mais uma história de amor.

(Sobre)Viver é a história da menina maltratada pela avó, que é enganada ao ter um pouco de atenção e paga como preço perder vários anos de sua vida nas mãos de um louco. É também a história de uma mulher traumatizada, mas valente, que descobre a força do amor e todas as alegrias e dores que ele lhe pode trazer.

É a história de várias mulheres em uma. Como avisa a contracapa é sobre recomeçar, por mais difícil que pareça. Morte e vida andam lado-a-lado, e por mais estranho que possa parecer, mesmo em situações extremas existe o poder da escolha: respirar, lutar, abandonar, aprender ou morrer.

Um livro sobre violência e amor, para quem quer pensar e refletir. Talvez você chore quando o coração apertar, ou identifique histórias semelhantes no dia-a-dia, seja na própria casa, nos vizinhos ou páginas de jornal. Quem sabe agradeça a sua sorte ou busque forças para mudar.

A única certeza é que não há como se sentir indiferente na leitura de (Sobre)Viver. E após fechar a última página, ele ainda estará ecoando na sua mente.

(Sobre)Viver
Filipa Natal
Chiado Editora
2014 – 297 páginas 

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