terça-feira, 20 de julho de 2021

Pequena Coreografia do Adeus


Sinopse: A protagonista é Júlia, jovem que chegou à vida adulta tentando juntar os cacos de um relacionamento destroçado: sua mãe não suporta a ideia de ter sido abandonada pelo marido, enquanto o pai não suporta a ideia de ter sido casado. Ela cresceu sufocada por uma atmosfera de brigas constantes e a falta de afeto e, pouco a pouco, tenta se desvencilhar da bagagem familiar.

A história começa ainda na infância de Júlia, ao ver o pai a distância acompanhado de outra mulher, ela se sente abandonada, invisível, e é tomada por um grande desejo de correr até a figura feminina e lhe pedir para ser adotada, e assim receber amor. 


ela era mais bonita que a minha mãe

cheirava melhor também


Mas o pai não lhe vê, e assim ela acaba jogando toda a sua raiva na amiga que a acompanhava, socando a menina. A reação pode parecer extrema, mas é o exemplo que ela tem em casa, quando a mãe externa todas as suas infelicidades através de grandes surras na filha.

A mãe de Júlia é um ser distante, que bebe e só se aproxima da filha na madrugada, quando a menina compartilha com ela a cama, ocupando o espaço que ela não queria que estivesse vazio. São os únicos momentos de afeto, ao qual a personagem se agarra com grande fervor.



e segurava a mão do meu pai, entrelaçada, tão bonita quanto uma atriz de cinema.


Já o pai não quer nem pensar em ficar com a menina, lhe sendo suficiente as visitas esporádicas nos dias de domingo, que lhe tiram qualquer responsabilidade no crescimento da filha e em sua orientação, e assim lhe deixando livre para recuperar a juventude perdida.

E neste ambiente caótico ela irá iniciar o ciclo de despedidas e primeiras vezes que todas as mulheres passam, da menstruação que dá adeus a infância, nas adaptações ao próprio corpo, as tentativas de ter novas habilidades, até finalmente encarar de frente todo o peso da figura materna que ela carrega e decidir se quer ou não manter aquela relação abusiva.


Ela derramava o seu óleo de insatisfação pelos cômodos formando um longo tapete de Dor e Glória.


Eu desconhecia a escritora Aline Bei e fiquei simplesmente encantada pela escrita sensível e forte que encontrei em Pequena Coreografia do Adeus, que mistura de forma gentil sentimentos como ausência, solidão, inferioridade, carência e afetividade após descrever situações que envolvem perdas e descobertas, além dos sonhos que a própria personagem tem e busca a sua maneira realizar.

Tudo começa com a forma como o texto está em cada página, em um primeiro momento o leitor pode pensar que se trata de poemas, pela forma como as frases estão distribuídas, e talvez não esteja tão enganado, pois existe um toque lírico na narrativa.


as pessoas morrem, ninguém precisa estar doente ou velho para que isso aconteça, a Morte se instala muitas vezes sem aviso


Aliás, a forma é uma das coisas que mais me atraíram neste livro, como o fato de algumas palavras possuem tamanhos diferentes, o que mudou a minha percepção de leitura, como se elas me fizessem sentir com mais força cada sentimento e sensação da personagem. Assim como a utilização da narrativa em primeira pessoa, que neste caso tornam a Júlia muito próxima do leitor, o que inúmeras vezes me provocava o desejo de poder abraça-la.

Pequena Coreografia do Adeus é um livro de leitura rápida e intensa, que provoca o leitor a relembrar os próprios adeus, enquanto sente a impotência de não poder proteger a própria Júlia. Em paralelo ele explora algumas faces das relações humanas, começando com as mais íntimas entre pais e filhos - e quebrando assim o paradigma do amor automático -, até evoluir para amigos, colegas, conhecidos e desconhecidos, estes as vezes muito mais amigáveis e dispostos ajudar do que qualquer outra pessoa mais próxima.



a máscara era o meu passaporte, um sinal de que cedo ou tarde eu também realizaria os meus sonhos


Uma bela história para ser lida a qualquer momento, onde memórias e laços afetivos vão se desenroscando para abrir espaço para o novo, para a própria busca, e de como isso pode ser ao mesmo tempo doloroso e libertador.





Pequena Coreografia do Adeus
Aline Bei
Companhia das Letras
2021 - 282 páginas
Onde encontrar: Amazon

Esta linda edição autografada faz partes dos livros recebidos pelo Time de Leitores 2021 da Companhia das Letras, cuja resenha é independente e reflete a verdadeira opinião de quem o leu.

8 comentários:

  1. Oie minha linda! Parece ser uma obra muito interessante e tocar na alma. Acredito que seja muito emocionante.
    Passa lá no blog. Tem postagem nova e gostaria de saber sua opinião.

    Beijos,
    Paloma Viricio💫💜

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  2. A capa do livro chama muito a atenção, deu pra sentir que a personagem sofre muito, o livro é bastante intenso e forte, mais é ao mesmo tempo uma história emocionante da Júlia, bjs.

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  3. Parece uma história muito comovente. Pobre Júlia! Estou impressionada com a sua opinião e quero conhecer a escrita da autora.
    Bjs!

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  4. Gostei da temática do livro,, é importante falar desse assunto mesmo que em ficção para que as pessoas entendam como é dolorido uma rejeição e o mal que pode causar, já quero esse livro!

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  5. Oi
    Eu adorei a sugestão de leitura 📚 e amei o nome do livro, a história é bem interessante

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  6. Oi, tudo bem? Ah, recebi esse livro e estou bem ansiosa para iniciar a leitura. Fiquei encantada com a edição, está lindíssima. Um abraço, Érika =^.^=

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  7. Todo o livro é bem forte e intenso, Julia é uma personagem cativante. Já quero o desfecho dessa história. Adorei a resenha. Beijos

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  8. Olá, tudo bem?

    Li essa obra assim que lançou e tive uma experiência maravilhosa. A escrita da autora foi realmente uma surpresa, assim como os sentimentos que ela consegue colocar na narrativa dela, que é forte e impactante. É um daqueles livros para relermos!

    Beijos!

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