Sinopse: Há muitas maneiras de ler este livro. Uma delas é reconhecer no texto que Dostoiévski redigiu na juventude alguns traços de estilo - a dicção veloz, a mescla de registros, a análise psicológica aguda - que mais tarde se tornariam marcas inconfundíveis do autor de Crime e Castigo. Outra é simplesmente se deixar levar pelas mãos do escritor, que apresenta ao leitor sua cidade.
Eu nunca havia lido nada do famoso escritor russo Fiódor Dostoiévski, então quando o livro Crônicas de Petersburgo foi oferecido como mimo para renovar a minha assinatura anual da TAG Curadoria, meus olhos imediatamente brilharam.
O livro é relativamente curto, e começa com o Prefácio da tradutora e professora de Língua e Literatura Russa Fátima Bianchi, para depois seguir uma apresentação do almanaque O Trocista e cinco crônicas do ano de 1847, todos escritos pelo autor.
Prefácio
Fátima Bianchi compartilha com o leitor toda uma explicação sobre o autor Fiódor Dostoiévski, da sua inspiração inicial em Balzac, o que motivou o escritor ser um seguidor da Escola Natural, as obras escritas, até o surgimento de dívidas que o obrigaram a ceder e a escrever sob encomenda.
Tudo com referências bibliográficas complementares, o que auxilia os mais curiosos a pesquisarem mais.
Com a reputação quase destruída, ele abandona todos os trabalhos iniciados e passa praticamente o ano inteiro de 1847 desaparecido da vida literária.
O Trocista
Projeto literário de Nikolai Nekrássov, O Trocista era para ser um almanaque humorístico, mas este foi censurado antes de ter a chance de ser publicado. como recordação ficou a apresentação realizada por Dostoiévski, que praticamente transforma a publicação em uma espécie de pessoa, ao qual pela descrição desperta a vontade de conhece-la.
E eis que já julgaram e condenaram, senhores; condenaram sem ouvir! Esperem, ouçam!
Crônica 13 de abril de 1847
O texto escrito em parceria provável com Aleksei Pleschêiev por não ser assinada começa falando dos impactos da mudança de estação pela cidade de Petersburgo, até chegar a comentários sobre literatura e ópera, onde ocorre um certo deboche nas tentativas da sociedade local em imitar a Europa e finaliza com uma forte crítica aos filantropos.
Mas a época do amor e a época da poesia não chegam ao mesmo tempo, diz o poeta, e graças a Deus que é assim.
Crônica 27 de abril de 1847
Como um fio de lã puxado por um gato, a crônica começa falando da primavera, depois dos moradores de Petersburgo e a aqui perturbadora pergunta Quais são as novas?, passando pela citação de um personagem que irá aparecer em dois contos seus no ano seguinte até os detalhes de uma novela que ele está lendo, tudo com muita ironia e pequenas observações sobre a sociedade.
Mas eis que enfim saiu o sol e essa novidade, indiscutivelmente, vale mais que qualquer outra.
Crônica 11 de maio de 1847
Na primavera a fofoca vestida de novidade é aceita alegremente entre os moradores de Petersburgo, que somadas aos gastos desnecessários de uma pobre sociedade rica, formam a tônica de um texto crítico as classes mais altas.
Ao fato de que, num momento tão solene, o homem de Petersburgo toma consciência de toda a sua dignidade, de toda a sua importância, e faz plena justiça a si próprio.
Crônica 1 de junho de 1847
Com a proximidade da chegada do verão começa o abandono da cidade, e aqui Dostoiévski começa a lista sobre o que poderiam fazer os que ficam, seguida de uma reflexão da visão negativa dos estrangeiros em relação a Petersburgo, o que desencadeia os motivos pelo fato de eles ousarem ser diferente, as mudanças de mentalidade até chegar aos avanços científicos e literários, além de comentar sobre a vontade de todos expressarem suas opiniões.
Há moradores de Petersburgo que não saem de seu quarteirão há uns dez anos ou mais e só conhecem bem o caminho para a repartição onde trabalham.
Crônica 15 de junho de 1847
A última crônica é uma série de divagações sobre os moradores da cidade de Petersburgo, da sua relação com o trabalho, retornando a fuga no verão, a preguiça, a tristeza e os que sonham. O incrível nesta crônica é que várias das descrições podem ser aplicadas as pessoas no dia de hoje, indicando que temos uma evolução muito mais material do que humana.
Sempre despetalamos e despedaçamos a flor para sentir melhor o seu perfume, e depois ainda nos queixamos quando, em vez do aroma, só experimentamos um inebriamento.
O que eu achei
Eu gostei bastante deste livrinho curto, que me despertou o desejo de ler outros livros de Dostoiévski, pois me agradei muito da sua escrita direta, com pitadas de ironia, opinião e história.
Através das suas crônicas me senti caminhando na rua de Petersburgo observando de perto a sociedade de 1847, e fiquei curiosa em saber como é a cidade hoje, o que ela poderia guardar das visões do autor, o que mudou, o que segue igual, o que foi valorizado e o que terá sido esquecido.
Um livro de leitura rápida que pode dividir tranquilamente o tempo de leitura com um romance mais denso, sem que o leitor em questão se preocupe em misturar as histórias.
Ficando a dica para quem tem vontade em conhecer os escritos de Dostoiévski, para quem gosta de literatura russa, e naturalmente para quem curte viajar sem sair do lugar.
Crônicas de Petersburgo
Peterbúrgskaia Liétopis
Fiódor Dostoiévski
Tradução: Fátima Bianchi
TAG - editora 34
2020 - 95 páginas
Parece ser um bom livro, genial a sua resenha, tem uma história incrível, o livro é um presente para os fãs da literatura russa, bjs.
ResponderExcluirNunca li nada do autor, achei interessante e me despertou curiosidade! Quando for na livraria vou ver se encontro algo para ler desse autor!
ResponderExcluirEu também nunca li nenhuma obra desse autor. Fiquei animada para ler Crônicas de Petersburgo e viajar no tempo através das palavras do autor. Amei a indicação!
ResponderExcluirOie, tudo bem? Ah, tenho muita curiosidade em conhecer a literatura russa. Esse autor está na minha lista por indicação de uma amiga. Esse livro não conhecia. Um abraço, Érika =^.^=
ResponderExcluirEu adorei a resenha! Já fiquei curiosa para ler! Beijos
ResponderExcluirNão li nada do autor ainda e acho que nenhuma literatura russa, está aí uma ótima pedida para conhecer a escrita do autor. Amo contos.
ResponderExcluirOi
ResponderExcluirEu adorei a sugestão de leitura 📚 é bem interessante.
Adorei a sua resenha, eu adoro literatura russa e já entrou na minha lista.
ResponderExcluirAdorei sua resenha do livro, gosto de conhecer novos autores, ainda não conhecia esse autor, ótima leitura.
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