terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Vestígios



Sinopse: Algumas das onze histórias que compõe este livro começaram a ser elaboradas por Ana Maria Machado há muitos anos. Independente entre si, mas conectadas pelos fios das relações familiares, elas versam sobre as nossas escolhas, memórias afetivas e a passagem do tempo. Os personagens são pessoas comuns em situações cotidianas - uma mulher de meia-idade diante de uma infidelidade, um homem que busca dentro de si o mesmo encantamento com a vida que experimentou na infância. O lirismo e a profundidade destas narrativas são tais, que naturalmente nos confrontamos com nossas próprias escolhas e suas consequências. Em seu inconfundível estilo, Ana Maria Machado nos mostra como as alegrias e dissabores do presente podem ser vestígios de tempos "que os anos cada vez trazem mais".

Existem livros que são como um abraço, que nos confortam, nos fazem relembrar histórias antigas, que aquecem o nosso coração fazendo com que invariavelmente sorrisos escapem. 

Foi isso que a bela seleção de contos da autora carioca Ana Maria Machado representou pra mim. Suas histórias me trouxeram uma leveza que nem eu havia percebido que estava precisando. Então antes de mais nada eu já digo, se você está como o Olaf precisando de um abraço quentinho, Vestígios talvez possa lhe dar isso através das palavras.

Como de costume, compartilho abaixo um pouquinho dos onze contos, mas sem muitos detalhes para não estragar a leitura de quem for ler.


Estações


Mal conteve uma exclamação de surpresa ao abrir a porta.


O conto de abertura nos coloca no reencontro de pai e filho no Canadá, onde o filho ainda tem dúvida de seguir os mesmos passos profissionais paternos. Em um restaurante eles encontram um brasileiro ao qual sem saber seu pai havia mudado a vida.

Logo de início Ana Maia nos apresenta uma história muito gostosa de ler ao misturar um grande amor nas relações familiares com o impacto que uma pequena ação pode ter na vida dos outros.


A melhor parte


Quem parte, reparte, e não fica com a melhor parte... ou lhe sobra siso, ou lhe falta arte.


No segundo conto temos duas irmãs que convivem entre divisões e escolhas, em uma busca incessante por maior atenção enquanto compartilham comparações e ciúmes.

Uma brincadeira sobre a convivência entre irmãos relatada de forma leve e com um toque de humor nas disputas que são levadas aos detalhes.


Burrinho de presépio


Desde pequena tinha aprendido a se portar de maneira contida.


A evolução de uma menina que nasceu tendo bons modos e cresceu sendo uma pessoa contida é o tema do terceiro conto, cuja vida da personagem encontra simbologia em um presépio.

Uma história delicada sobre como a personagem lida com os próprios sentimentos mesmo em momentos extremos.


O.k., você venceu 


Amor não pode ser prisão. Um não é dono do outro.


Um casal opta por ter um relacionamento aberto, ao qual estabelecem uma série de regras. Mas um dia o homem resolve quebra-las para se envolver com uma mulher mais jovem.

Eu achei muito interessante como o quarto conto foi conduzido, onde fatos e questionamentos se misturam no fim de um relacionamento sem ter nada de tedioso para o leitor, prendendo até o desfecho final.


Além das fronteiras


Fase provisória, etapa passageira.


No quinto conto temos a despedida de Marina do local onde mora antes de sua mudança com o marido e a relação que ela tem com uma ave local.

Eu achei essa história tão fofa, pois existe uma delicadeza ao tratar dos ciclos que se encerram e dos laços de amizade mais improváveis.


Tratantes


A gente confia, espera, o tempo passa, não aparece ninguém.


Ao contrário do que se possa imaginar, o título do sexto conto é uma pegadinha e o que ele traz é uma linda história de avó e netos.

Ele encanta por nos lembrar que a felicidade está nos detalhes, nos pequenos gestos amorosos, que ficam para sempre na nossa memória.


Sem deixar rastros


Era cuidadosíssimo. Mesmo quando andava na fase da maior paixão, conseguia ficar atento e não baixar a guarda.


Com um toque de ironia, coisa que eu particularmente adoro, o sétimo conto nos apresenta um homem que evita deixar vestígios em seus relacionamentos extraconjugais.


Em nome do pai


Aquela história de transformar os militares em carcereiros de presos políticos vindos de longe não era vista com bons olhos por todos.


Padre Olímpio é bom de bola, e é isso que distrai a ele e outros prisioneiros políticos enquanto são mantidos presos em um quartel quase na fronteira com o Uruguai. Até que ele é convidado para substituir um jogador machucado no torneio dos militares.

O oitavo conto consegue misturar um pouco da história da ditadura militar brasileira com as lembranças paternas deste tão simpático personagem fictício, resultando em outra leitura encantadora.


Não mais


Era em pleno tempo do ainda não.


No nono conto temos um retorno as lembranças de uma infância na casa dos avós, onde a luz ainda não havia chegado e as histórias eram contadas em volta da fogueira.

Mais uma vez a valorização do que realmente é precioso para nós e o quanto isto fica eternizado em nossa memória independentemente de onde andamos.


Uma velhota frágil


Mas à primeira vista, era uma velhota frágil. Miúda, de cabeça branca.


A falsa fragilidade dada para uma senhora que muda não só o rumo do seu dia, mas também dos passageiros de um ônibus.

Eu adorei a massagista Marieta do décimo conto, a frágil senhora em questão, que deve fazer massagens maravilhosas.


Todas as filhas


Com as palavras dispostas na página de modo diverso, as letras se entrecruzando na coincidência das repetições.


No décimo primeiro e último conto uma paixão de idas e vindas que fazem Olivia acreditar que Miguel é a pessoa com quem quer estar até receber uma proposta de seu pai.

Aqui Ana Maria explora um amor que parecia ser para sempre até ter a sua resistência testada.


O que eu achei...

Se ainda não ficou claro na resenha, eu amei este livro de contos. É uma mistura de memória, afeto, escolhas, decepções, amores, mudança, aceitação, que não seria difícil de acreditar que houvessem acontecido no nosso dia-a-dia, devido a escrita sensível e os finais tão verossímeis que facilmente poderiam se passar por reais.

Além disso os contos têm uma doçura, uma leveza que abraça o leitor. Mesmo nos mais irônicos há uma gentileza na forma como é escrita, aquecendo facilmente o coração em dias tão confusos e tensos.

Por isso a minha dica é em especial para quem procura livros leves e inspiradores, que tragam à tona bons sentimentos e que arranquem sorrisos para quem anda precisando de uma dose. E naturalmente para que gosta de bons contos e de ler.


Vestígios
Ana Maria Machado
Alfaguara
2021 - 111 páginas

Esta edição faz partes dos livros recebidos pelo Time de Leitores 2021 da Companhia das Letras, cuja resenha é independente e reflete a verdadeira opinião de quem o leu.

9 comentários:

  1. Oiee linda! Parece um livro tão bom! Adoro quando as obras nos trazem uma espécie de lembranças, nostalgia. Eu acredito que esses contos devem ser grandes ensinamentos.
    Beijos!!

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  2. Adorei a dica. Adoro contos e uma leitura leve. Já querendo ler Vestígios.

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  3. Não conhecia esse livro! Interessante um video com 11 contos. É sempre bom ler um livro que nos traga tanto carinho!

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  4. Oi
    Eu simplesmente amei a sugestão de livro 🙂 ainda não conhecia o trabalho da autora

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  5. Gosto muito da escrita da Ana Maria Machado. Suas impressões me deixaram com vontade de fazer essa leitura que foi prazerosa para você.
    Bjs.


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  6. São contos leves agradáveis de ler, um livro cheio de sentimentos, a autora tem uma escrita maravilhosa, uma boa sugestão de livro para os leitores bjs.

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  7. Oi, tudo bem? Gostei muito da sugestão. Interessante a maneira como o livro foi dividido. Não lembro de ter lido algo da autora. Um abraço, Érika =^.^=

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  8. O livro é cheio de história e uma verdadeira imersão nas lembranças .

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  9. Não conhecia este livro. O bom de ler contos é que pode iniciar e terminar uma estória mais rapidamente. Muito boa sua indicação

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