terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Pro inferno com isso



Sinopse: Na orelha o escritor Marco Severo avisa os leitores que: “a obra carrega tons de vibrante realidade, eis aqui um livro assombroso, no melhor sentido da palavra. Nas vinte e oito histórias que você tem em mãos não existem absurdos nem inverossimilhança. Absurda é a vida - e esta obra pulsa, repleta dela”.

O escritor baiano Matheus Peleteiro reúne 28 contos, em sua maioria relativamente curtos, no livro Pro inferno com isso. E justamente pela quantidade não vou repassar um a um como muitas vezes vocês veem por aqui, senão a resenha iria ficar muito longa e cansativa para vocês.

De uma forma geral posso dizer que os contos trazem para o leitor uma mistura de filosofia, comicidade, relações familiares, meio social, política, paixões e muita literatura, ao qual ouso dizer ser a estrela principal deste livro.


Cada minuto parecia uma hora de tortura, cada hora parecia um dia completo e ele estava prestes a surtar quando ouviu o som dos passarinhos cantando ao nascer do sol.


Pois em alguns pontos as referências e o ato de escrever são os personagens principais ao influenciar tudo a sua volta, assim como os sentimentos e escolhas dos indivíduos que acompanhamos em cada história.

Alguns dos meus preferidos foram 'Suave é a noite' que tem um toque filosófico em uma insônia que parece abrir um novo mundo. ‘Legiões urbanas de devoradores de literatura’ ficou muito divertido, adorei a brincadeira das tribos conforme o autor admirado pelos seus integrantes - e fiquei imaginando como seria o pessoal da minha, aliás, fiquei pensando se as tribos aceitariam alguém que pertencesse a mais de uma.


Fazia alguns dias que eu parecia estar vivendo em uma utopia bastante interessante, embora inverossímil.


Quase um miniconto 'O vencedor' tem aquela ironia que arranca um sorriso, já 'E isso doía’ trás toda a magoa de críticas carregadas por um longo tempo, enquanto ‘Edema de Glote’ vem falar dos influencers e o esquecimento da literatura enquanto leitura quando vira só marketing de apresentação, tornando-se segundaria entre o seguido e seus seguidores.

Já em 'O suicídio de um poeta que não teve coragem de se matar' nos recorda da eternização e elogios que muitas vezes só são lembrados após a morte de algum escritor, e como seria tentar utiliza-la para atrair os olhares para quem é desconhecido e deseja a fama repentina para começar a viver.


O pior meio de se educar um filho é tentando incutir disciplina em sua cabeça através da coerção física.


Além dos que mais gostei, para quem é fã de literatura talvez irá se encontrar em 'Um encontro com o velho' onde Bukowski bate um papo com alguns críticos dos tempos atuais ou em 'A Maldição' onde Alberto tem este nome em homenagem a Albert Camus

Ou quem sabe ao acompanhar um escritor e a sua participação em um programa de rádio com o sugestivo nome de ‘Gaiola dos pedantes’. Aliás, achei que este personagem poderia ser continuação do conto 'O Bar da escrita criativa' cujo título deixa claro a base da história.


Além disso, para um artista, não há nada pior que o comodismo e a não eventualidade.


Fechando os contos que tem a literatura como mais do que uma base está 'No tribunal de exceção de suas consciências' e a tortura mental de um escritor desconhecido em relação a sua obra.

Mas como eu havia dito no início da resenha, além da literatura há outros assuntos abordados, como questões familiares. Em ‘Os dois irmãos’ temos os caminhos de dois homens como pensamentos completamente diferentes unidos pelos laços de sangue. Já em ‘O Bastante’ entram os questionamentos em relação a disciplina e ideias dos pais.


A Dona Morte teria me poupado de muita coisa. Mas, desde que afirmei não sentir mais tesão por ela, ela passou a ameaçar me trazer de volta à vida.


Há também os relacionamentos em que hora temos um homem protagonista como em ‘Mãos de Poeta’ e hora uma mulher recebe o holofote como o caso da moça misteriosa que busca vingança após um relacionamento mal sucedido.

Sem esquecer os sociais, como o conto que dá título ao livro, ou em ‘Sem olhar para trás’ e a reação de dois colegas a imagem de dois mendigos. Ou os questionamentos de liberdade em ‘Você também!’. Assim como julgamento prévio como encontramos em ‘Opostos’.

Mulher nenhuma deve alguma coisa. Os homens, por outro lado, devem muito...


Como eu comentei no início do texto os contos são em sua maioria curtos, alguns em uma única página, então para quem gosta de ler mais de um livro ao mesmo tempo, ele ajusta perfeitamente a qualquer tempo para fazer este intercâmbio, sem ter risco de deixar alguma história pela metade.

E assim deixo a dica para quem curte ler contos, para quem busca mais escritores brasileiros, para quem busca conhecer novos escritores, para quem adora a literatura como tema e acompanhada de referências, e claro para quem gosta simplesmente de livros.


Pro inferno com isso
Matheus Peleteiro
Edição do Autor
2019 - 145 páginas

5 comentários:

  1. Os contos são muito interessantes, são contos que vão prender os leitores, é sempre bom conhecer escritores brasileiros, bjs.

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  2. Oi
    Eu adorei a sugestão 🙂 é bem interessante, ainda não conhecia o autor

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  3. Oi, tudo bem? Não leio muitos contos com frequência, mas tenho conhecido alguns livros bem interessantes ultimamente. Gostei dos quotes que separou. Um abraço, Érika =^.^=

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  4. Achei bem interessante, pois é legal ler algo que muda constantemente! Já anotei aqui?!

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  5. Oi Andrea, tudo bem?
    Os assuntos são bem diversificados, o autor irá agradar a todos os gostos. O que chamou minha atenção foi ele falar de literatura, também tenho essa impressão às vezes, de que a literatura está meio que perdida no meio do marketing do livro. Ótima dica.
    beijinhos.
    cila.

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