A TAG Inéditos encerrou o ano enviando em Dezembro/22 o romance inglês Igualzinho a você do escritor Nick Hornby. O mimo foi um calendário de mesa para 2022 - é dele as imagens que uso para indicar o mês dos livros lidos no Instagram.
Lucy tem quarenta e dois anos, é professora, mãe de dois meninos, e se divorciou quando viu o alcoolismo de Paul aumentar a cada dia, assim como o impacto que a bebida estava tendo em suas ações. Mas a separação não impediu que os dois mantenham uma relação que podemos considerar amigável, visto que eles possuem filhos pequenos em comum. Para diminuir a solidão, ela se relaciona com homens de aplicativo e conhecidos apresentados pelos amigos.
E é justamente quando precisa de uma babá para um jantar que ela acaba se aproximando de Joseph, um rapaz negro, de 22 anos, que entre seus vários empregos, é atendente aos sábados em um açougue localizado no bairro onde Lucy mora.
Como alguém podia ser capaz de dizer com alguma certeza o que mais odiava no mundo?
Os períodos como babá acabam aproximando Joseph dos meninos, que adoram alguém que jogue vídeo game com eles, rapidamente ele e Lucy viram amigos e logo vem um relacionamento íntimo, mas sem o rótulo de relacionamento fixo.
Mais do que gerações diferentes, eles não possuem nem mesmo gostos em comum, ela gosta de livros e peças de teatro, e ele revira os olhos para isso. Ela acompanha política, para ele tanto faz tanto fez. Ela tem liberdade de ir e vir, ele está sujeito a revistas policiais.
Mas mesmo assim as horas vão se tornando dias, semanas, meses, em uma relação que se vive o momento e não existem planos futuros.
A disputa agora era com o resto do mundo, e o resto do mundo era ao mesmo tempo grande e bom de bola.
Os personagens
A história é centralizada em Lucy e Joseph, que são colocados como opostos. Ela é branca, adora ler, é mais velha, contra o Brexit, seu círculo de amizade é uma bolha com as mesmas ideias e ideais, e sua situação financeira é estável, com uma boa casa e emprego.
Joseph está saindo da adolescência, é negro, indiferente ao Brexit, seus amigos são jovens e o seu negócio é fazer música e quem sabe um dia ser Dj. É um rapaz que não deseja ter relacionamento sérios e ainda mora com a mãe, que não controla os seus ir e vir. Financeiramente sua vida é bem mais simples, o que o faz dividir o tempo em diferentes trabalhos.
Talvez acreditasse que Deus criara o universo, mas não sabia como aquilo o afetava.
Fazendo figuração em volta do casal estão os vizinhos caricatos de Lucy, como Emma, uma mulher casada que frequentemente tenta flertar com Joseph no açougue, a mãe de Joseph que não aprova o relacionamento, o ex-marido que se sente no direito de fazer várias perguntas, moças jovens e bonitas que podem dar perspectiva de família futura para Joseph, além dos amigos de ambos os lados que aparentemente não se importam com as diferenças dos dois, sejam ela de idade, classe ou de raça.
A escrita de Nick Hornby
Utilizando a narrativa em terceira pessoa, Hornby inicia a sua história na primavera de 2016 e percorre em longos capítulos os nuances deste relacionamento em detalhes no período aproximado de seis meses, até dar um salto no tempo e finalizar na primavera de 2019.
Anos e anos de vida adulta tinham lhe presenteado com pistas totalmente inibidoras sobre o que se passava na cabeça das pessoas.
Sua escrita coloca o leitor dentro da cidade de Londres, e como eu já havia lido em A segunda vida de Missy, o assunto principal é a forte discussão que polarizou opiniões a respeito do Brexit. No caso de Igualzinho a você o foco se amplia ao entrar em discussão os diferentes lados sobre a saída do Reino Unido do bloco europeu conforme idade, raça e classe social. As visões são muitas, assim como as opiniões dos personagens em relação aos políticos ingleses que ainda são figurinhas fáceis nos telejornais.
E aqui também entra o fato de Londres ser uma cidade muito cara, a disputa de empregos com imigrantes, aos quais muitos locais acusam de roubar as suas vagas e veem no Brexit a oportunidade de recupera-las.
Ele estava querendo fazer sexo com uma pessoa da idade da mãe dele!
E naturalmente também é abordado o racismo, como a reação de um vizinho que chama a polícia ao ver Joseph batendo na porta de Lucy em uma noite. É através de Joseph que ele também levanta questão de frases e conceitos pré-estabelecidos em vários diálogos.
O que eu achei...
Eu particularmente achei o livro muito chato. O sentimento que eu tive durante a leitura era que Lucy estava com Joseph para não ficar sozinha, pois ele é um guri do tipo babaca, que tem vergonha dela e frequentemente a compara mentalmente com a própria mãe, e cuja dinâmica me fez acha-lo tão tóxico para ela quanto o ex-marido. Pois Lucy parece eternamente pisando em ovos com ele, tendo que ter cuidados na forma de se expressar e agir que ele não tem.
Estava em forma para seus quarenta e dois anos, mas, de qualquer modo, tinha um corpo de quarenta e dois anos.
E ao mesmo tempo o comportamento dele me parecia algo natural, pois ele é um cara muito jovem ainda em formação, suas ideias de mundo ainda não ganharam amplitude, ao mesmo tempo em que ele já encarou situações que ninguém deveria ter que enfrentar, fazendo com que ele esteja em um processo de amadurecimento entre extremos.
Além do seu mundo ser muito mais adolescente do que adulto. E é isso que o relacionamento com Lucy oferece a ele, sexo sem compromisso ou responsabilidade.
E ao contrário do que é indicado na orelha da página, não acho que Lucy fosse igual a Paul - seu primeiro marido -, seu círculo social talvez, sua cor com certeza, mas existe algo chamado personalidade, que nos torna únicos em relação aos outros. E no caso de Lucy ela se molda aos pares, o que possibilita que seus relacionamentos durem até as situações ficarem extremamente desconfortáveis para ela.
E, se você acha mesmo que eu sou racista, talvez você não devesse estar aqui.
E talvez por ela repetir um comportamento tão comum entre as mulheres de ser a pessoa que cede, espera e precisa tomar as decisões, que eu não tenha conseguido sentir a leitura fluir. O que me fez pensar que Lucy merecia ter um dedo melhor para os seus relacionamentos.
Naturalmente talvez a narrativa faça muito mais sentido para quem já viveu ou tem um relacionamento inter-racial, ou com essa diferença em que um está chegando na vida adulta enquanto o outro já está na fase da estabilidade e maturidade, possibilitando maior identificação.
Pois como são realidades distante pra mim e o livro não é movido a grandes ações ou acontecimentos, mas sim descrevendo a rotina de um casal, que mesmo sendo de polos tão distintos, consegue conviver em relativa harmonia. Para quem viveu ou está vivendo as mesmas situações o impacto causado pela leitura pode ser muito maior.
O referendo dava a grupos de pessoas que não se gostavam, ou ao menos que não se compreendiam, uma oportunidade de brigar.
E como já citei no texto, a visão ampliada do Brexit também me ajudou a aprender mais um pouquinho sobre o que causou toda a disputa e até mesmo encontrar semelhanças com a polarização que enfrentamos aqui no Brasil.
Então mesmo literaturando fica a dica de leitura para que você leia e descubra se concorda ou discorda de mim, afinal, a literatura é muito semelhante a gastronomia, cada um tem os seus gostos e preferências.
Igualzinho a você
Just Like You
Nick Hornby
Tradução: Christian Schwartz
TAG - Companhia das Letras
2020 - 415 páginas
oi
ResponderExcluirAdorei o livro :D a historia é maravilhosa, torci muito para os personagens ficarem juntos ;)
Oie, tudo bem? Acredito que um casal para dar certo precisa ter aspectos diferentes e semelhantes. Um equilíbrio, na verdade, permite que os relacionamentos dêem certo. Um abraço, Érika =^.^=
ResponderExcluirJa adorei a resenha desse livro, parece ser bom!
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