Sinopse: A garota que não se calou conta a história de Adunni, uma jovem que, mesmo tendo crescido em uma vila rural nigeriana, almeja por estudar e ser ouvida. Após ser vendida pelo pai para ser a terceira esposa de um homem ansioso para que ela lhe dê um herdeiro, Adunni foge, buscando transpor os obstáculos da pobreza, do machismo e de uma sociedade arcaica. Corajosa, Adunni vai contra todos aqueles que dizem que ela não pode sonhar.
No mês de abril a TAG Inéditos enviou para os associados a inspiradora história A garota que não se calou, da escritora nigeriana Abi Daré. Como mimo, um pequeno copo de vidro, eu recebi A Hora da Saideira da Clarice Lispector, uma referência a conhecida obra A Hora da Estrela, já resenhado por aqui.
Pra dizer a verdade, o dia que eu parei de ir pra escola e o dia que minha mãe morreu são os piores da minha vida.
A mãe de Adunni sempre incentivou a filha a estudar, dizendo que esta é a forma de tornar sua voz mais alta e se fazer ouvir pelas pessoas ao seu redor. Antes de morrer, ela faz o marido prometer que não irá casar a menina de quatorze anos e seguirá pagando os estudos da filha, para que ela tenha um futuro diferente das outras meninas que a cercam.
Mas o pai de Adunni não cumpri a promessa. Em meio à pobreza extrema, ele opta em ficar com os dois filhos meninos e em troca do dote da filha aceita o pedido de casamento de Morufu, um homem mais velho que trabalha como motorista de táxi da aldeia onde eles moram.
Eu não quero chorar na frente desse homem. Eu nunca, nunca quero mostrar para ele nenhum sentimento meu.
Morufu já possui duas esposas, e com elas só teve filhas mulheres, e assim ele consome a relação sem dó e piedade com essa menina-criança, em busca do filho homem. Enquanto se adapta a uma rotina longe dos estudos, Adunni acaba se envolvendo em uma situação perigosa, que a faz fugir e assim romper os laços com a família.
Levada para trabalhar como empregada doméstica em Lagos, o que no início parecia salvação, vira servidão. Mas Adunni nunca desiste do seu sonho, e entre as diferentes situações que ela enfrenta, é isso que a mantém em pé, mantendo a esperança dela e de quem lê as suas palavras.
Pra que fazer do mundo um lugar grande, triste e silencioso porque todas as crianças não têm voz?
A escrita Abi Daré nos presenteia com um livro forte e ao mesmo delicado sobre a importância da educação, o papel das mulheres em todas as idades, e o forte machismo em todas as classes sociais da Nigéria, onde a mulher, por mais sucesso que tenha, não possui os mesmos direito dos homens.
Sua forma narrativa pode causar um estranhamento inicial, como ela utiliza primeira pessoa, nos colocando dentro da mente de Adunni, nós a lemos com todos os erros de linguagem, já que ela não teve uma educação completa.
Eu sei o significado de abandonar. Eu sei que significa que é quando alguém te deixa sozinha. Que é quando você não tem utilidade pra pessoa. Um desperdício desperdiçado.
No meu caso, o efeito deste estilo de narrativa foi uma leitura foi mais lenta, pois o meu cérebro insistia em corrigir as palavras. Ao mesmo tempo tornou Adunni muito real para mim, pois não teria como uma menina que frequentou poucos anos na escola narrasse de forma perfeita, deixando apenas para os diálogos a diferença de linguagem.
Reais também são as suas descrições, que despertam os sentidos como se por um momento eu estivesse dentro do corpo fictício de Adunni, sentindo os cheiros, tendo a mesma visão, a mesma sensação ao toque e até um milésimo do eco da sua dor.
Você sou eu. Eu sou você. Nossas patroas são diferentes, mas elas são iguais.
Como efeito colateral, esta menina que não tem vergonha de perguntar, que muitas vezes coloca em voz alta questionamentos que são verdadeiros dedos na ferida, nos impulsiona a novos questionamentos sobre o mundo que nos cerca, principalmente quando quem o lê é uma mulher.
Pois os questionamentos de Adunni são globais entre todas as mulheres, e não possuem resposta, já que eles são o olhar do absurdo, do machismo, de uma estrutura que ainda não foi quebrada, mostrando que há ainda muito a conquistar em relação a respeito e igualdade.
Quero perguntar, gritar, por que as mulheres na Nigéria estão sofrendo por tudo muito mais que os homens?
Finalizei a leitura achando a história muito bonita, sendo um sopro de esperança mesmo em meio a tanta violência. Ao unir os ensinamentos de uma mãe forte e com uma visão diferente sobre a criação de sua filha com a importância de não desistir, e somar a isso o apoio de pessoas que são verdadeiros anjos com o aspecto cultural de um país, o resultado foi de uma leitura que ficou ecoando mesmo após fechar a última página.
Por isso ouso dizer que A garota que não se calou é o tipo de livro que a leitura se torna essencial pra refletir sobre temas bases para a criação de nossas meninas.
A garota que não se calou
The girl with the louding voice
Abi Daré
Tradução: Nina Rizzi
TAG - Verus Editora
2020 - 352 páginas
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Oi,tudo bem ?
ResponderExcluirNão conhecia a obra mas achei a proposta incrível, assim como a mensagem que o livro entrega. Sua resenha não apenas apresentou bem a obra, como também ressaltou os pontos fortes. Os quotes estão lindo... Parabéns pela resenha e indicação.
Comecei a ler a resenha e quando ela terminou me senti orfã. Amei a história e já quero demais ler esse livro, com certeza é fantástico. Beijos
ResponderExcluirNossa que livro sensacional! Gosto de livros assim fortes e delicados ao mesmo tempo. Acredito que iria me envolver bastante com a personagem e adorei saber da forma q autora usou para narrar a trama.
ResponderExcluirBeijos,
Paloma Viricio💙💫
Gostei da indicação, é um tipo de leitura que eu adoro!
ResponderExcluirOlá, tudo bem?
ResponderExcluirAinda não conhecia o livro, mas já amei demais a premissa e fiquei muito animada para me aventurar na história. Saber que é uma obra forte e que traz um sopro de esperança me anima demais para me aventurar no enredo. Você arrasou no post, conseguiu me deixar com vontade de ler.
Beijos!
Oi, tudo bem? Ah, já tive experiência com a Tag e gosto muito das caixinhas. Dos mimos mais ainda. Quando assinei também peguei a inéditos justamente por ser livros diferentes. Não lembro de já ter lido uma história ambientada na Nigéria mas gostei muito da Adunni. Um abraço, Érika =^.^=
ResponderExcluirOi Andrea,
ResponderExcluirNão conhecia esse livro, mas adorei sua resenha, pois mostra o quanto ele aborda temas fortes e necessários para pensar. Participei de um projeto de leituras de autoras negras ou protagonista, já vou indicar esse para o grupo. Amei a dica.
Belos quotes e bela resenha. Gostei muito da dica literária.
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