A obra Brida pode ser caracterizada como um texto de auto-ajuda de esoterismo, pois narra a trajetória de uma jovem que procura a compreensão de si mesma através do descobrimento de conhecimentos de magia.
Como os demais textos do gênero, em geral, apresenta-se como um guia, uma metodologia para a conquista do sucesso material ou realização pessoal, que no caso consubstancia-se através da história da personagem e seu crescimento pessoal, descobrindo-se como feiticeira.
O autor, utilizando-se da fórmula da auto-ajuda, aproveita-se da constante busca do ser humano por poder, status, felicidade, etc, para apresentar soluções fáceis, baseadas em uma filosofia rasa, que vai seduzir as camadas médias urbanas – principal consumidora dessa literatura.
No primeiro capítulo de Brida, já se percebem os primeiros elementos característicos do livro de auto-ajuda: o autor quer ensinar algo. Por meio da experiência da personagem na floresta escura sozinha, o autor quer mostrar que a fé pode fazer a pessoa sentir-se protegida e vencer o próprio medo. A evocação de Deus naquele momento, de trechos da bíblia que a avó da moça costumava recitar para ela, bem como de outras lembranças de sua infância fazem com que se sinta calma e vença o medo de estar sozinha na floresta à noite, tanto que consegue relaxar e adormecer.
Quer o autor ensinar que as pessoas também, a exemplo de Brida, se tiverem fé em Deus, ou em algo que acreditem, vencerão seus medos.
Para ilustrar, transcreve-se o seguinte trecho, retirado da página 24: “Tinha fé. E a fé não deixaria que a floresta fosse de novo povoada por escorpiões e cobras. A fé manteria seu Anjo da Guarda acordado e velando.
Recostou-se de novo na rocha e dormiu sem perceber.”
Na medida que a personagem vai aprendendo e tirando lições dos acontecimentos é que se percebe a intenção do autor de que o leitor também tire lições.
Brida é o leitor, que está sendo ensinado.
Está, também, visível, no texto, outro elemento da literatura de auto-ajuda, que é a ilusão da onipotência, isto é, promessa de apresentar algo que vai mudar a vida do leitor, que vai fazê-lo superar o que o aflige. No caso, o autor apresenta um tipo de crença, ligada à magia, que vai preencher a lacuna deixada pela religião na busca pela solução dos problemas existenciais das pessoas.
Essa crença vai sendo apresentada no livro na medida em que vai se dando o aprendizado da personagem a esse respeito. Geralmente é uma solução mais fácil e imediatista ,que seduz o leitor a aceitá-la, pois responde aos seus anseios.
O autor se utiliza também da repetição, outro elemento característico da auto-ajuda, para desenvolver a história. Recorre a todo tempo às lições que Brida angariou de suas experiências de magia com o Mago e com Wicca, sua mestre, e vai acrescentando outras. Verifica-se essa retomada em vários trechos do livro, quando a personagem relembra a experiência na floresta, e associa com fatos cotidianos, dizendo que “a vida é uma noite escura” e refere-se às revelações da lua para interpretar outros fatos que lhe acontecem.
A presença de elementos do imaginário popular (crenças) como filosofia espiritual estão em todo o texto como linha norteadora. No caso, ele explora a crença de que certas pessoas possuem um determinado dom para a magia que as permite entender e interpretar o mundo de maneira diferente e aqueles que dominam o dom podem ajudar os outros que não têm.
Conforme ensina RÜDIGER , os textos de auto-ajuda utilizam-se, também, de relatos de pessoas que aplicaram as técnicas para a solução de seus problemas, atuando como modelos para os leitores, que acabam se convencendo de que, se outras pessoas conseguiram, eles também conseguirão. É uma maneira de aproximar a realidade ao leitor, para que não fique apenas absorto na teoria demonstrada.
O autor apresenta a teoria e a comprova com o testemunho de alguém que teve sua vida modificada pela auto-ajuda. Os relatos podem ser místico, egoísta ou ascético.
No relato místico, o interelocutor utiliza-se dos exemplos de pessoas que encontraram a solução para seus problemas no seu “eu interior”. O remédio para os seus males reside no controle da mente e no contato com o eu superior.
A felicidade e a paz de espírito requerem a superação dos desejos egoístas, encontram-se no caminho contínuo e insistente do conhecimento.
Já no relato egoísta, a exploração ordenada dos recursos interiores e do potencial humano não objetiva de maneira imediata a solução dos conflitos morais que vitimam nosso eu, mas se relaciona antes com o desejo de “fazer com que as pessoas não apenas o estimem”, mas também “realizem aquilo que você deseja”, nos vários campos da vida social.
No relato ascético, o entendimento terapêutico combina o crescimento pessoal e a prática do pensamento positivo. Determinada pessoa conta para o leitor como, através de uma atitude mental positiva, atingiu o sucesso. Partindo da máxima de que o pensamento é a forma mais potente de sugestão, relata como o subconsciente transforma um desejo ardente em realidade quando o indivíduo acredita que pode alcançá-lo, fazendo com que aja para conquistar seus objetivos.
Essa experiência apresenta um elemento a mais que os relatos anteriores, consubstanciada na atitude positiva na direção do que almeja.
Na obra Brida, verifica-se a utilização de um tipo narrativa que se aproxima do relato místico.
Apesar de ser uma obra de ficção, a história de Brida funciona como uma parábola, em que há espaço para a interpretação do leitor, no sentido de que busque em sua crença pessoal a solução de seus problemas.
Explica-se o sucesso da literatura de auto-ajuda pelo fato de que a própria mídia estimula a busca da realização pessoal, por meio da divulgação de novos fenômenos que propiciam o crescimento do ser humano e, então, nomenclaturas comumente relacionadas a esoterismo, pensamento positivo, etc., passam a fazer parte do dia-a-dia e a serem exploradas pelos autores.
Daí que podemos afirmar que o público-alvo dessa literatura é a classe média urbana, sedenta por resolver seus problemas por meio das “receitas de sucesso” apresentadas, especialmente por autores intitulados “magos” como é o caso de Paulo Coelho. A linguagem utilizada, como no caso de Brida, vai estar relacionada com termos e assuntos esotéricos ou do pensamento positivo.
O leitor, diferentemente do self-made man do passado, que precisava trabalhar para atingir seus objetivos, será estimulado a simplesmente aplicar as técnicas esotéricas ou mentais ensinadas para obter sucesso. Basta seguir a fórmula ali indicada, e a pessoa alcançará o que almeja.
Os livros de auto-ajuda pretendem ocupar a lacuna deixada pela religião, oferecendo soluções fáceis de bem-estar. Há uma promessa, que é apresentada no texto de resolver os anseios do leitor, onde, ao final, será demonstrada “a fórmula”, “a solução” de como fazê-lo. Geralmente convencem o leitor de que a técnica já foi amplamente testada e comprovada, tornando o caminho mais fácil, pois o leitor não precisa entender como e por que ela funciona, basta acreditar nos seus efeitos para provar seus frutos.
No caso de Brida, o autor não chega a apresentar uma fórmula pronta, mas conduz o leitor à crença de que é possível resolver seus próprios problemas com sua força interior e que será feliz quando encontrar sua outra metade.
Essa “receita" de como apreender o real através da força da mente ou força interior (ao invés do trabalho, estudo, etc.) é que faz com que os livros de auto-ajuda sejam amplamente consumidos atualmente, pois em conformidade com a velocidade das transformações de um mundo globalizado, onde o imediatismo regula as relações e as pessoas não tem tempo para esperar os resultados, querem as respostas imediatas.
Li na adolescência. Adorei a tua tese sobre a obra. Também gostei da tua definição, dizendo que o leitor e a Brida.
ResponderExcluirObrigada pelas observações relevantes, j[a fiz as correções que vc indicou. beijinho.
ResponderExcluirParabéns gostei bastante do que vc comentou sobre o livro e por esse motivo vou lê-lo,pois comprei ele há 20 dias pois uma amiga me indicou,e eu realmente naõ estava motivada a ler ,mas agora vou fazê-lo.obrigado por ter postado .
ResponderExcluirganhei o livro de um amigo, q a mt observa meu interesse nas leituras de Paulo Coelho, assim q ganhei entrei no blog para ter um prólogo sobre o livro, q pareçe ser muuuuito bom. Vou lê-lo depois posto outro comentario sobre uq achei. vlw!
ResponderExcluirBrida,mais do que o texto em si e sua narrativa é o que ele provoca em cada um que o lê.
ResponderExcluirdevemos lembrar que : qualquer texto e em especial do referido autor, existe a sua parte biográfica e neste sentido Paulo tambémé personagem do que escreve .
necessário se faz, conhecer um pouco sobre o autor para um maior entendimento da sua obra.
qualificar de auto-ajuda descrevendo sua finalidade , é reduzir ,como a um quadro, somente a sua imagem sem considerar os detalhes das cores , sombras , luz ou mesmo movimento..
Assim é brida ...interiorize o que te tocar na narrativa , sem uma finalidade pré-determinada..auto-ajuda ou não ! vc leitor a define.
Edson A Viana Leitor de Paulo Coelho...prof Ms PUCSP. militando na rede pública. e-mail nosde anaiv@bol.com.br
Bom Dia gostaria de ganhar este livro de presente.
ResponderExcluirOlá, anônimo.
ResponderExcluirVi que você colocou isto em diversas resenhas. Minha sugestão para que o seu desejo se realize: compartilhe o link com a resenha dizendo que está querendo muito ler este livro. Fica de sugestão para quem quiser lhe dar um presente.