quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Encontro com Rama



Sinopse: Após a terrível colisão de um meteorito contra o continente europeu, líderes mundiais e cientistas criaram um sistema de monitoramento para evitar que essas catástrofes voltassem a acontecer. Quase cinquenta anos depois, a humanidade acompanha, alarmada, a chegada de um novo objeto de proporções inimagináveis que avança na direção de nosso Sol. Uma expedição é enviada para explorar o que se imagina ser um meteoro colossal, mas que se revela uma sofisticada construção, repleta de enigmas que desafiam a mente e os conceitos humanos.

A humanidade se espalhou pelos planetas do sistema solar após um evento catastrófico que tirou algumas cidades do mapa no ano de 2077. Mas principalmente investiu em sistemas de vigilância espacial para detectar e lidar com possíveis ameaças e assim evitar a ocorrência de eventos semelhantes, chamado projeto SPACEGUARD, a guarda espacial.

Um dia o que muitos achavam que era um meteoro no radar é identificado como um gigantesco objeto cilíndrico, cuja perfeição geométrica desafia a todos da vigilância. Cruzando o Sistema Solar em velocidade constante, lhe é dado o nome de Rama e uma expedição humana é enviada para uma melhor verificação.

Após o choque inicial, a humanidade reagiu com uma determinação e uma unidade que teriam sido impossíveis em qualquer época anterior.


Quando os astronautas conseguem entrar no objeto imenso e de origem desconhecida, se deparam com um mundo silencioso e artificial, cuja complexidade indicam uma tecnologia muito superior à humana, despertando uma mistura de curiosidade, prazer, receio e o sentimento de estar vivenciando algo único.


A escrita de Arthur C. Clarke

O inventor e divulgador científico inglês Arthur C. Clarke foi um dos escritores mais influentes no século XX no gênero ficção científica. Seu interesse por ciência, astronomia, inovação e tecnologia ecoam na página dos seus livros, dando verossimilhança em suas narrativas.

Encontro com Rama é um exemplo disso, e não é à toa que se tornou um dos marcos da ficção científica e inspirou outros escritores. Ao descrever uma estrutura complexa, com detalhes técnicos da espaçonave alienígena, Clarke convida o leitor a ter um novo olhar sobre como podem ser as civilizações vizinhas.

Um objeto de quarenta quilômetros de comprimento, com um período de rotação de quatro minutos - onde isso se encaixava na ordem das coisas astronômicas?


Pois em sua narrativa em terceira pessoa é possível encontrar um universo extremamente rico não apenas nos detalhes do ambiente interno e externo a espaçonave Rama, mas também filosófico, já que quando a equipe se depara com algo totalmente novo, a cada descobertas novas perguntas existenciais vão surgindo, conforme o perfil do personagem que está sendo acompanhado.

Tudo isso em uma linguagem incrivelmente fluída, onde os capítulos - todos nomeados - convidam a seguir em frente em uma história que consegue colocar o leitor junto da equipe de expedição.

O encontro, tão esperado e tão temido, finalmente ocorrera. A humanidade estava prestes a receber seu primeiro visitante das estrelas.


Uma curiosidade, no título original é utilizada a palavra francesa Rendezvous, que pode servir para enfatizar a natureza planejada e importante de um encontro, mas também pode sinalizar um encontro com o destino e mistério. Combinando perfeitamente com a história narrada.


O que eu achei de Encontro com Rama

A primeira coisa que chamou a minha atenção é que o livro escrito em 1972 informa em sua primeira página uma bola de fogo cruza o céu da Europa às 09h46 da manhã do dia 11 de setembro de 2077. E para quem viveu o 11 de setembro do início dos anos 2000, é impossível não vir esta primeira lembrança.

A segunda coisa foi a forma como a humanidade se espalhou pelo universo solar até o ano de 2130, quando ocorre o encontro com Rama. Gerando situações curiosas, como um dos personagens que possui duas famílias, uma no planeta Terra e outra em Marte. Será um sinal que os homens evoluem em tecnologia, mas não em seus hábitos?

Embora estivessem tomados por uma sensação de confiança e contido entusiasmo, após algum tempo o silêncio quase palpável de Rama começou a pesar sobre eles. 


A terceira coisa foi o nome da nave de expedição: Endeavour, uma referência ao navio carvoeiro que deu a volta ao mundo entre 1768 e 1771 comandado pelo capitão James Cook.

Mas como vocês já devem ter percebido na parte sobre a escrita, o livro realmente me envolveu. Os capítulos curtos, a forma como são finalizados com um gancho convidando a continuar, fizeram com que a leitura fosse muito rápida.

As coisas não eram o que pareciam ser; havia algo muito, muito estranho num lugar que era simultaneamente novo em folha - e tinha um milhão de anos.


Principalmente pelos sentimentos despertados. Na etapa que eles entram na nave alienígena eu já fiquei em agonia, me lembrando do filme alien. Quanto mais eles avançavam, ou quando havia momentos de tensão, mais eu queria seguir na leitura para descobrir o que iria acontecer.

Encontro com Rama é um sci-fi que explora a curiosidade científica, o de se arriscar pelo desconhecido, a superação do medo em busca de uma descoberta, de nem sempre encontrar respostas para as perguntas que vão surgindo.

Esse era um mundo estéril, segundo os testes mais sensíveis que o homem poderia aplicar. Mas agora acontecia algo que não podia ser explicado pela ação de forças naturais.


O livro também explora o lado político, em um sistema que a humanidade se dividiu entre planetas, explora o fato daqueles que acham ter o direito de tomar decisões em nome de todos, baseado na velha crença do bem versus o mal, de heróis contra vilões.

E embora o lado pessoal dos personagens seja pouco explorado, em Encontro com Rama isso não atrapalha, pois só são detalhados o que mais tem relação com a narrativa, não deixando pontos de interrogação ou necessidade de mais, já que complementa o suficiente para manter a fluidez.

Treinamento era uma coisa, realidade era outra, e ninguém podia ter certeza de que os antigos instintos humanos de autopreservação não dominariam durante uma emergência.


Eu gostei muito de Encontro com Rama, achei que a leitura estimulou a minha curiosidade, já que sempre tive interesse no assunto de outros seres fora do sistema solar, e ao mesmo tempo ela reafirma o fato de que os anos vão passando, mas a evolução na forma de pensar parece estar longe de acompanhar os avanços tecnológicos.

Ficando a dica para quem gosta de histórias de ficção científica, de histórias com questionamentos existenciais e claro, para quem não resiste a uma boa leitura.


Encontro com Rama
Rendezvous with Rama
Arthur C. Clarke
Tradução: Susana L. de Alexandria
TAG - Aleph
2023 - 288 páginas
Publicado originalmente em 1972


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