terça-feira, 1 de outubro de 2024

O labirinto dos espíritos



Sinopse: Em O labirinto dos espíritos, Zafón nos conduz ao emocionante desfecho da série que começou com A sombra do vento e impactou leitores por todo o mundo. Personagens novos e antigos povoam as páginas, se entrelaçando em uma despedida grandiosa.

O IV livro da série O cemitério dos livros esquecidos fecha essa tetralogia que mistura a história de Barcelona com uma homenagem aos escritores e livros.



Ele inicia em Madrid nos anos de 1950 e quem guia o leitor é Alicia Gris, uma jovem mulher que ainda na infância sobreviveu aos bombardeiros que arrasaram Barcelona durante a guerra e lhe deixaram dolorosas cicatrizes no corpo e na alma.

Ele fechou os olhos e, um segundo depois, emergiu na vida constatando que o simples ato de respirar era a experiência mais maravilhosa que tivera em toda a sua existência. 


Investigadora sagaz de uma equipe que trabalha nas sombras, ela recebe a missão de localizar o ministro Mauricio Valls, que desapareceu junto com o seu guarda-costas de confiança. As pistas a levam de volta para casa, isto é, Barcelona, onde ela vai se aproximar da família Sempere e reecontrar o homem que ajudou a salvar sua vida, Fermín Romero.

Na família, apesar da paz aparentemente reinar, Daniel não consegue ser totalmente feliz , o enigma de sua mãe Isabella é algo permanentemente presente em sua mente, algo que nem Bea nem Juliàn conseguem distraí-lo. E o fato de tentarem protege-lo o irrita ainda mais.

A caça, a caça de verdade, é um duelo entre iguais. A gente não sabe quem realmente é até derramar sangue.


E conforme as peças são encontradas por Alicia, mais fatos obscuros começam a vir à tona, e o conhecimento destes fatos se torna um fardo perigoso para os que carregam, recordando ao leitor o que realmente tornava a cidade sombria naquela época.

Com o retorno dos personagens dos três primeiros livros e a chegada de novos, a narrativa é um verdadeiro convite a desvendar em definitivo os enigmas tão bem distribuídos por Zafón, com suas alegrias e tristezas, podendo emocionar os fãs da série.


A escrita de Carlos Ruiz Zafón

Nascido em Barcelona, Carlos Ruiz Zafón foi um renomado escritor e roteirista. Conhecido por sua habilidade em misturar elementos de mistério e romance em suas obras de ficção gótica, ele ganhou destaque internacional justamente com seu romance A Sombra do Vento (2001), livro que abre a série O cemitério dos livros esquecidos.

Zafón faleceu em 2020 - o que aperta o meu coração até os dias de hoje, já que ele está na minha lista de autores favoritos -  e seus livros foram traduzidos para mais de 40 idiomas, tendo vendido milhares de exemplares pelo mundo.

Uma lenda é uma mentira concebida para explicar uma verdade universal. Os lugares onde a mentira e a miragem envenenam a terra são particularmente férteis para o seu cultivo.


Especificamente sobre O labirinto dos espíritos, o escritor optou por uma narrativa em terceira pessoa, o que permite ao leitor uma visão ampla e detalhada dos personagens e da trama, além de sempre especificar em cada nova parte a cidade e o ano que os fatos estão ocorrendo. 

O livro é interligado com os outros volumes da série O Cemitério dos Livros Esquecidos, mas como ocorre nos anteriores, é possível ler o mesmo de forma independente, mesmo eu considerando isso um pecado já que além dos personagens, são os detalhes que fortalecem os laços entre os quatro livros.

Acho surpreendente como sempre procuramos no presente ou no futuro as respostas que estão no passado.


Como ocorreu nos três livros anteriores da série, a narrativa fluída de Zafón se destaca pela sua riqueza descritiva e pela construção de uma atmosfera densa e envolvente, que faz o leitor caminhar por uma Barcelona sombria.

E isto é complementado ao alternar diferentes tempos e pontos de vista, permitindo que a história se desdobre de maneira complexa ao mesmo tempo que se aprofunda nos personagens principais, revelando aos poucos todos os segredos e mistérios que foram guardados ao longo dos quatro livros da trama.

Você decide se quer viver ou apodrecer pouco a pouco, como deixou acontecer com tantos inocentes.


Além disso a intertextualidade e as referências literárias utilizadas ao longo da história são marcantes, refletindo a paixão do escritor espanhol pela literatura e encantando a todos que se entregam a leitura desta série.

Tudo isso utilizando uma linguagem fluída, que convida virar mais uma página, ler mais um capítulo e se apaixonar pela série.


O que eu achei de O labirinto dos espíritos

Foi emocionante realizar a leitura de O labirinto dos espíritos, uma história que homenageia os escritores e os livros, fechando de forma redonda esta série que tanto adoro e fiquei com vontade de reler ao fechar a contracapa.

Como nos três primeiros livros, nos deparamos com a força da literatura em um período que escureceu a hoje iluminada Barcelona, tendo como base a história de um país e todas as injustiças que ocorreram durante a época retratada.

Antes de sair ainda deu uma última conferida no espelho do saguão e se aprovou. Você partiria o próprio coração, pensou. Se tivesse um.


Tornando o livro ao mesmo tempo maravilhoso e doloroso, pois enquanto reforça a importância da literatura, nos lembra da destruição que uma ditadura faz não apenas nos livros, mas também na vida das pessoas, principalmente das crianças atingidas diretamente, cujas vidas são alteradas de forma definitiva.

Gostei da ampliação de locais que a narrativa trouxe, incluindo Madrid e Paris no caminho de alguns personagens. E já me peguei pensando em retornar as cidades só para fazer o roteiro de O labirinto dos espíritos. Pois sim, eu fiquei tão fã de A sombra do vento que quando fui a cidade de Barcelona passei por diversos dos pontos citados no livro, incluindo a rua onde fica a Livraria Sempere.

Você não mente para as pessoas; elas sozinhas se mentem. Um bom mentiroso dá aos bobos o que eles querem ouvir. Esse é o segredo.


E amei que apesar dos livros se completarem de tal forma que não possuem uma ordem certa , O labirinto dos espíritos fecha todas as pontas que os três primeiros deixaram ao longo do caminho, não deixando o leitor com perguntas, tudo de uma forma natural e fluída.

Aliás, para quem já leu os livros da série, uma dica, o Epílogo de O prisioneiro do Céu é um gancho para O Labirinto dos Espíritos.

As pessoas são como marionetes ou brinquedos de corda, todas têm um mecanismo oculto que permite manipular seus fios e fazê-las ir na direção que se deseja.


Então sim, eu indico, recomendo e saliento: quem ama literatura, quem ama livros, precisa entrar neste Cemitério. A chance de você se apaixonar pela escrita do Zafón e se apegar a família Sempere é muito grande.


O labirinto dos espíritos
El Laberinto de los Espíritus
Carlos Ruiz Zafón
Tradução: Ari Roitman e Paulina Watcht
SUMA
2017 - 679 páginas
Primeira versão publicada originalmente em 2016


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