Sinopse: Ao longo de 203 fragmentos, Oswald de Andrade toma como inspiração os procedimentos da colagem para criar uma obra radical, situada entre a ficção, as anotações, as memórias, a sátira e a poesia. Definido por Haroldo de Campos como "romance-invenção", o livro, publicado originalmente em 1933, foi recebido como escandaloso e se estabeleceu como um acontecimento singular na nossa literatura. A transformação industrial de São Paulo serve como pano de fundo para um retrato implacável das aspirações burguesas. Em meio ao moralismo, ao tédio e à infelicidade do casamento, os personagens de Serafim Ponte Grande não conseguem conter suas ambições comezinhas, sua obsessão pelo dinheiro e seus impulsos sexuais.
Serafim Ponte Preta é uma espécie de anti-herói. O protagonista que dá título ao livro é um funcionário público corrupto e desiludido, cujo estilo de vida se divide entre a busca desenfreada por dinheiro e pela insatisfação conjugal. Um homem comum que realiza uma busca desenfreada por prazeres e pela incapacidade de se adaptar às convenções sociais.
Casado com Lala, uma mulher inicialmente resignada que vive um casamento infeliz, já que ela não é uma personagem secundária só na história, como na própria vida do protagonista.
A obra de ficção em minha vida corresponde a horas livres, em que estabelecido o caos criador, minhas teorias se exercitam com pleno controle.
Já Pinto Calçudo, o secretário do anti-herói, é presença frequente nos encontros e desencontros de Serafim com políticos corruptos, amantes, amigos e inimigos, e inclusive em uma viagem que parece resgatar as viagens realizadas pelo próprio autor, Oswald de Andrade, nos anos de 1920.
Tudo ambientado de uma forma a levar os leitores de qualquer época para uma viagem ao passado, sob as perspectivas de quem só se preocupa com o seu cotidiano.
A escrita de Oswald de Andrade
O autor e pensador paulista Oswald de Andrade foi uma das personalidades da Semana de Arte Moderna de 1922. Formado em direito, seguindo os ritos das famílias ricas e tradicionais, acabou direcionando-se a sai paixão que era a literatura.
Viajante frequente para a Europa, viu seu estilo de vida mudar com a crise econômica de 1929. Gerando uma mudança não só no ritmo com que levava seu dia-a-dia, mas também na criação de Obras como Serafim Ponte Grande, que é uma crítica a sociedade tradicional do período.
O caminho a seguir é duro, os compromissos opostos são enormes, as taras e as hesitações maiores ainda.
Serafim Ponte Grande pode causar um estranhamento inicial no leitor ao passar pelas suas páginas e ver que não temos um romance padrão. Motivo pelo qual a obra é considerada uma grande inovação.
O escritor Oswald de Andrade utiliza uma mistura que inclui tanto a linguagem formal da época quanto a popular, ao mesmo tempo que relaciona citações eruditas e termos técnicos.
Parece que Deus quer ver no primeiro dia deste ano inteiramente evoluída a minha transformação psíquica, tantas vezes ameaçada pelos acontecimentos.
Essa babel linguística mistura poemas, micro contos e capítulos inteiros, não sendo muito explicativa, embora pareça respeitar uma linha do tempo para contar as diferentes facetas da sociedade brasileira, especialmente a paulistana, do período do modernismo.
Recheado de ironia e humor, os caminhos tortos do seu protagonista levam a situações inusitadas e algumas vezes beiram ao irreal. Ao mesmo tempo ele também se utiliza da literatura como base de referência, completando a visão cultural da época.
Nada mais incômodo do que esse negócio de ter filhos sem querer.
O que torna a escrita bastante atemporal e um livro relativamente rápido de ser percorrido.
O que eu achei de Serafim Ponte Grande
No mínimo diferente. Inicialmente me pareceu uma espécie de diário, onde uma frase ou parágrafos podem definir o dia do protagonista Serafim. Na sequência uma espécie de crítica política e desilusão com a vida que se leva no Brasil.
O que me fez pensar que Serafim é muito louco como narrativa e também como personagem. Mas apesar de misturar poemas, romance e formatos diferentes, no decorrer da leitura comecei a achar chato e repetitivo.
Por cem becos de ruas falam as metralhadoras na minha cidade natal.
Como eu li antes O Guarda-roupa modernista, em vários momentos levantei a hipótese de ser uma sátira do que o próprio autor tenha vivido em suas várias idas a Europa, fato depois confirmado por um dos autores dos textos adicionais sobre o livro. Mas sendo sincera, eu não achei graça.
E assim eu acabei fazendo um paralelo com a geração de hoje que acham os programas humorísticos das décadas de 80 e 90 enfadonhos, pois foi exatamente o que ecoou em mim ao ler as desventuras de Serafim.
Esta noite, mais do que nunca, sinto-me só , brava e reganhada! Só verto sorvetes de sangue pelos olhos, pelos lábios e pela boca. Nem tenho mais coragem, nem fé, nem nickel!
Pensando em um aspecto histórico, imagino que o livro tenha horrorizado os mais conservadores de sua época com sua linguagem direta, utilizando um personagem que não leva absolutamente nada a sério. E sim, provocado graça anos depois, quando muitas coisas da sociedade já estavam sendo questionadas.
No geral nem gostei nem desgostei de Serafim Ponte Grande, embora tenha achado o início promissor e o final muito bem executado, a etapa das viagens foi o que quebrou o ritmo da minha leitura, já que achei a correria do personagem atrás dos rabos de saia muito repetitiva, o que acabou deixando as críticas, que tinham um contexto mais interessante, perdidas em segundo plano.
Sob as árvores soltas do verão, debaixo dos balões cativos das lanternas. A orquestra mistura falas, altifalantes, serrotes e gaitinhas.
Mas sim, ele pode ser um livro bem interessante para quem quer ter uma visão da burguesia paulista nos anos de 1920, para quem quer conhecer um dos principais participantes do movimento modernista no Brasil e para quem é curioso e gosta de ler de tudo.
Serafim Ponte Grande
Oswald de Andrade
Companhia das Letras
2022 - 223 páginas
Publicado originalmente em 1933
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