sexta-feira, 8 de março de 2024

O guarda-roupa modernista


Sinopse: Entre 1923 e 1929, Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade formaram um par icônico da cultura brasileira. O casal Tarsiwald - apelido cunhado por Mário de Andrade -- se consagrou como um símbolo tanto no campo das artes visuais quanto no da literatura. Em O guarda-roupa modernista, a professora e pesquisadora Carolina Casarin mostra como os dois se apropriaram da moda para deixar a sua marca. Inédita, esta farta pesquisa revela como os ideais modernistas e as contradições do movimento podem ser compreendidos a partir da escolha das roupas de dois notáveis intérpretes do Brasil. 

Em O guarda-roupa modernista: o casal tarsila e oswald e a moda, a escritora alagoana Carolina Casarin compartilha sua pesquisa de doutorado relacionando diferentes registros da época: vestimentas, fotografias, pinturas, obras literárias, correspondências, depoimentos e recibos, para contar não só a história de um casal que marcou época pela sua personalidade, mas do próprio Brasil que começava a conhecer o modernismo.

O primeiro ponto a se observar é que, como já cantava Cazuza: vivemos em um museu de grandes novidades. E assim podemos dizer que o poeta Mário de Andrade foi quem iniciou a moda de shippar um casal com a utilização do Tarsiwald, sem a # por conta da época, obviamente.

Poucas peças do guarda-roupa de Tarsila e Oswald foram preservadas, e nem todas as que sobreviveram estão acessíveis ao publico.


Assim como mostrar uma sociedade intelectual burguesa que bebe muitos vinhos, viaja para a Europa e não dispensa a moda francesa para transmitir a sua mensagem e realizar o seu marketing pessoal através da roupa. 

No caso de Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade as cartas registram as trocas de mensagens entre viagens, além de amenidades, listas de compras e indicações de estilistas, como Poiret, o favorito do casal modernista que curiosamente já havia perdido a popularidade na Europa por não se atualizar nas suas criações.

E, para Oswald, a "passagem" do Império para a República é um deslizamento de poder percebido de forma natural, mais continuação do que ruptura.


O livro aborda principalmente o período entre os anos de 1923 e 1929, tempo de relacionamento do casal título, que terminou justamente no ano da grande recessão, afetando não só os bolsos, mas como as relações sociais e amorosas da elite paulistana. Mas possui também citações de outros anos de ambos ao comentarem suas memórias.

Uma mistura de moda, busca pelo reconhecimento, arte e poesia entre os protagonistas do grande movimento cultural chamado modernismo no início do século XX, ao qual os ecos repercutem até os dias de hoje.


A escrita de Carolina Casarin

Por ser um livro baseado em uma pesquisa e de não-ficção, confesso que a escrita da autora Carolina Casarin me surpreendeu positivamente. Pois existe fluidez nos capítulos, tornando a leitura agradável.

Fazendo um paralelo com um documentário, os capítulos são bem divididos, e os textos conseguem misturar bem a pesquisa sobre as roupas e os fatos que estavam acontecendo tanto com o casal, quanto com os outros integrantes do movimento que originou o Modernismo.

Tarsila soube desfrutar de sua rara condição de autonomia, que lhe garantiu a liberdade de mulher adulta, manteve o desejo de independência e propiciou o contato com as novidades oferecidas pela vida cosmopolita.


A inclusão das fotos permite um entendimento melhor não só do estilo de roupa optado da época, como também observar por uma fresta um pouco da vida e as próprias obras da Tarsila, ao qual confesso ser fã.

Para quem deseja saber mais, ao final do livro estão listadas todas as biografias, notas e origens das informações utilizadas.


O que eu achei de O guarda-roupa modernista

Eu ganhei estes livros em uma ação comemorativa aos 100 anos do Modernismo feito pela editora Companhia das Letras. E devido ao meu tempo livre ter se reduzido nos últimos tempos, acabei postergando a leitura. Mas confesso que foi uma grata surpresa.

Por ser um trabalho de pesquisa dedicado ao detalhamento das roupas, dei uma pulada em algumas partes por ter achado mais maçante, até porque não sou da área nem uma aficionada em moda. Mas para os fashionistas de plantão, fiquei com a impressão que pode ser bem interessante, até pelo fato de a moda ser bastante cíclica.

O movimento modernista brasileiro foi amplo, com várias fases, e englobou literatura, artes plásticas, música e literatura.


O que realmente me atraiu foram os fatos históricos, as relações interpessoais da época, as personalidades que fizeram acontecer o movimento do modernismo, principalmente de Tarsila. 

Achei muito interessante conhecer um pouco mais da artista através das cartas trocadas e de comentários retirados de antigas entrevistas. Assim como o relacionamento do casal com a escritora Pagu, e fiquei imaginando se uma parte de Parque Industrial foi inspirada no que ela viveu junto ao grupo. 

As fotografias de grupo são exemplares para conhecermos os gestos, as poses e as fisionomias apreendidas pelos retratos.


Um livro de não-ficção que conta um pouquinho de uma geração do início do século XX que pode surpreender desavisados como eu e também quem curte saber sobre a influência da moda na nossa própria história.


O guarda-roupa modernista
o casal tarsila e oswald e a moda
Carolina Casarin
Companhia das Letras
2022 - 275 páginas

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