quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Ela se chama Rodolfo


Sinopse: Murilo acaba de se mudar para um apartamento no qual a antiga moradora, Francesca, deixou uma tartaruga. Seguindo ordens recebidas por e-mail, tenta entregar o animal por meia Porto Alegre. A peregrinação parece inocente, mas a escritora Julia Dantas sabe que não há nada mais radical e transformador do que o encontro entre pessoas quando minimamente desarmadas.

Desde a pandemia virou tradição na TAG Curadoria enviar um livro mais leve em dezembro, e 2023 não terminou diferente. Recebi Ela se chama Rodolfo da escritora gaúcha Julia Dantas. A indicação foi do também escritor Tobias Carvalho. E o mimo foi um calendário com doze projetos gráficos tanto da Curadoria quanto da inéditos que já me faz companhia na mesa de trabalho.

Murilo é um professor e escritor frustrado que hoje trabalha como porteiro noturno. Contando os dias para sair de férias e ir atrás da ex-namorada Gabbriela, que ao resolver ir para um retiro espiritual em Goiás e só deixou lembranças e dívidas no cartão de Murilo, ele resolve alugar temporariamente um apartamento.

Alugar o apartamento de uma desconhecida, sem contrato nem garantias, era o tipo de ideia que ele jamais teria levado adiante sob circunstâncias habituais.


No banheiro do local encontra uma tartaruga sofrendo por falta de água. Após lhe reacender a vida, entra em contato com Francesca, dona do apartamento, para saber com quem pode deixar o animal

Entre as idas e vindas em busca do novo dono, há os conflitos de sua irmã Lídia, cujo marido em tratamento de câncer parece suga-la até a alma e Camilo, que um belo dia Murilo encontra dentro do apartamento e acaba ficando por ali mesmo.

Todos os dias, constata que o animal está saudável. Come, move-se, esconde a cabeça, o que mais poderia fazer?


E essa convivência irá fazer com que Murilo reflita sobre os últimos acontecimentos, revelando que nem tudo é exatamente como parece.


O que eu achei da escrita de Julia Dantas

Utilizando a narrativa em terceira pessoa, a autora Julia Dantas coloca o leitor para acompanhar as idas e vindas, encontros e desencontros do personagem Murilo.

E embora a história seja leve, ela também é arrastada, pois falta Porto Alegre se a intenção era fazer uma road book. E quem escreve aqui é uma gaúcha que mora justamente na capital do RS.

As lembranças o deixam exausto, cansaria menos se ficasse acordado.


Falta Porto Alegre nas descrições da cidade, onde parecem saídos diretamente do Google Maps, no chimarrão que não estava presente em nenhuma mão, nos diálogos onde não se encontra nenhum Bah.

Por outro lado, isso permite que a narrativa possa ser adaptada em qualquer lugar do mundo, até mesmo em um lugar fictício, já que não há muita descrição ou referência, tornando a história adaptável ao local do leitor.

Sempre a partir do fim da tarde, os urubus se jogam das alturas e despencam em velocidade terrível até a calçada. Não precisam disputar comida. Há de sobra para todos.


No geral um livro que pincela em seus capítulos  - curtos, sem número ou nome - várias situações, que vão de uma pessoa que estuda e acaba sem objetivo na vida até aquela que precisa confrontar a família para se sentir confortável com o que vê no espelho.


O que eu achei de Ela se chama Rodolfo

É curioso como a minha régua sobe quando se trata de um livro enviado pela TAG, mesmo quando se trata de livros mais leves. Eu espero que a história tenha um diferencial, que me apresente algo novo ou tenha algo diferente na narrativa. E infelizmente não é o caso de Ela se chama Rodolfo.

Começo com as várias movimentações do personagem pela cidade com o objetivo de encontrar um dono para a tartaruga: elas não acrescentam nada a história, e eu ficava e perguntando se não era mais fácil economizar as passagens de ônibus e entrar em contato via whats. Aliás, porque a própria Francesca, que tinha acesso a um e-mail, não fazia isso?

Não há jeito. Existe uma aparente incompatibilidade irreversível entre tartarugas e agricultores.


O motivo é que tanto na descrição dos lugares como nos diálogos com os figurantes que entram e saem em uma sucessão de negativas, tornaram esta parte da narrativa bastante enfadonha para mim, pois não acrescentam nada a história.

O personagem principal é um homem que não sabe o que quer da vida. O trauma de infância que cai no colo do leitor no meio da narrativa não surtiu nenhum impacto em mim. Sendo apenas mais uma muleta para um personagem que sai do nada e vai para lugar algum.

Sou do tipo que prefere manter distância dos excessos, inclusive os excessos de gente. Não sou bom com pessoas, e essa é uma expressão perfeita.


Como a narrativa é centralizada no Murilo, não ficamos sabendo muito sobre os personagens coadjuvantes, cujas participações demonstraram ter mais possibilidades para serem explorados. Principalmente Francesca que acaba sendo uma participação especial para justificar o nome da tartaruga. Aqui sim um ponto que achei bem perspicaz.

No geral achei a primeira metade do livro arrastada e repetitiva, a segunda metade melhora, mas não o suficiente para me encantar, e assim achei o livro mais ou menos.

A ideia de trocar palavras ocas com quem ele não tinha intimidade lhe parecia um imenso desperdício de vida.


Mas como ele pode provocar uma reação completamente diferente em você, fica a dica de uma leitura nacional, onde você não vai conhecer a cidade de Porto Alegre, mas quem sabe se conectar com alguns dos pontos abordados e ter uma relação bem melhor que a minha com o livro. 


Ela se chama Rodolfo
Julia Dantas
TAG - DBA Editora
2023 - 263 páginas
Publicado originalmente em 2022

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