terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

As histórias de Pat Hobby


Sinopse: Na Hollywood dos anos 40, o decadente Pat Hobby luta para conseguir o próximo trabalho. Sempre tramando alguma coisa na surdina, ele tenta fazer o jogo para subir de escalão, com um olho na mesa dos poderosos e outro nas secretárias. Assim, ele embarca para uma humilhação cada vez maior, sofrendo reveses tanto no campo profissional quanto no romântico. Essas histórias, publicadas na revista Esquire e inspiradas pelo período quando Fitzgerald viveu como roteirista, formam um relato vigoroso de Hollywood e seus tipos, em caminhos que vão da fama efêmera à implacável sarjeta.

Com 17 histórias que podem ser lidas separadamente em formato de conto ou como um romance curto, o escritor norte-americano F. Scott Fitzgerald presenteia os leitores com as divertidas, sem noção e visão do personagem Pat Hobby.

De roteirista bem remunerado que torrava o seu dinheiro em bebidas, mulheres e futilidades como se ele fosse infinito, o que acompanhamos é a sombra do homem que agora consegue um trabalho aqui e outro ali, muito mais como revisor do que no seu papel original de roteirista, indo todos os dias no estúdio para comer e dormir, e nos intervalos buscando algo que lhe renda alguma coisa.


O autocontrole. no fundo, pelo menos, era norma por ali. Já não era ruim o bastante estar no trabalho na véspera de Natal?


Com vinte anos de experiência, sua cabeça dói demais quando ele lê, para economizar ele dispensa a secretária em véspera de natal para não comprar presente, trabalha em feriado para tentar renovação - que muitas vezes não vem - e tem o seu trabalho considerado antiquado pelos revisores mais jovens.

Há também os trabalhos realizados fora dos estúdios, a relação entre produtores, diretores e roteiristas, e claro o seu relacionamento com as mulheres.


A escrita de F. Scott Fitzgerald

Os contos publicados entre janeiro de 1940 e maio de 1941 possuem a mesma fluidez, ironia e deboche elegante que eu já havia encontrado em outro livro de F. Scott Fitzgerald, o clássico e conhecidíssimo O Grande Gatsby.

Utilizando a narrativa em terceira pessoa para nos contar as desventuras de Pat Hobby, é possível ver as fissuras do mundo dourado das produções hollywoodianas, com o conhecimento de quem também foi roteirista. 

Era roteirista, mas nunca escreveu muita coisa, ou tampouco leu todos aqueles "originais" que serviam de base para o seu trabalho, pois sua cabeça doía quando lia demais.


Conhecido por retratar a sociedade norte-americana, seus contos, como seus romances, mostram sequencias que vão do engraçado ao inacreditável, o que despertam facilmente aquele desejo de ler mais um. 

Mas não confunda leveza com histórias bobas, pois a escrita captura o leitor justamente pela inteligência de suas ironias.


O que eu achei de as histórias de Pat Hobby

Me surpreendi com o livro, leve e divertido, caminhei junto com Pat Hobby pelos estúdios que são sua casa enquanto ele faz das suas. Não senti falta do seu antes, quando era um roteirista de sucesso do cinema mudo. Mas fica claro que a transição para o falado não fez bem a sua carreira, e por isso acompanhamos apenas a sua decadência e sobrevivência, motivos pelo quais ele vive situações surreais enquanto sente saudades dos bons tempos.

Nas páginas dos contos são referenciados os nomes de astros e escritores famosos, assim como a rivalidade dos roteiristas antigos com os mais jovens, as diferenças salariais, e o que ocorre com quem consegue não ter bons relacionamentos profissionais, não se atualiza na profissão ou fica apenas no corpo mole. No caso de Pat ele sintetiza as duas últimas, e só se mantém pela sua rede de contato.

Por ser da Hollywood do passado, ele entendia suas piadas, suas vaidades e sua hierarquia social, com as repentinas oscilações.


Também achei interessante a quantidade de vezes que a idade do personagem é citada, tornando-a difícil de esquecer: 49 anos, como que para contrastar com a imaturidade de Pat, cuja descrição física nos remete muito mais a velhice do que a juventude.

Uma curiosidade da edição que eu li é que cada história tinha o título traduzido em português, o original em inglês e o mês e ano que ela foi publicada originalmente.

A benzedrina e grandes quantidades de café o acordavam pela manhã, o uísque o anestesiava à noite.


Resumo da ópera eu adorei este livro de contos, achei ele perfeito para o período de férias, ao unir leveza e risadas. Ficando a dica para quem gosta de uma pitada de ironia nas páginas que vira.


As histórias de Pat Hobby
The Pat Hobby stories
F. Scott Fitzgerald
Tradução: Hilton Lima
TAG - Dublinenses
2022 - 160 páginas
Publicados originalmente na Revista Esquire entre os anos de 1940 e 1941

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