terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

O fim da eternidade


Sinopse: Um dos livros de viagem no tempo mais divertidos já escritos e uma das principais obras de Asimov, O fim da eternidade conta uma história de amor envolta em ficção científica da mais alta qualidade. O técnico Andrew Harlan é responsável por fazer pequenas modificações na história durante suas viagens no tempo. Por menores que sejam - tirar um objeto do lugar, interromper uma conversa -, cada uma dessas mudanças altera a vida de milhares de pessoas, evitando até catástrofes séculos à frente. Em uma de suas missões, conhece Noÿs Lambent, uma mulher que abala suas convicções e o faz questionar as regras do próprio trabalho, podendo colocar em risco o rumo da humanidade.

Andrew Harlan utiliza cápsulas para viajar entre os séculos. Nascido no século 95, desde que aos 15 anos se tornara um aprendiz na Eternidade, nunca mais retornara para casa ou viu sua família. 

Hoje ele exerce a função de técnico, um perfil que exige uma estrutura mental fria e impessoal, o que o torna bastante distante das demais pessoas que circulam na Eternidade, tornando-o bastante solitário. 

Não esperava nenhum movimento; nem para cima nem para baixo, para a esquerda ou para a direita, para a frente ou para trás.


Em cada viagem pelo tempo ele precisa se adaptar a cultura do século destino para passar despercebido na realização de suas mudanças, que por menores que sejam, geram mudanças que ecoam pelos séculos futuros, impactando em nascimentos, mortes e eventos.

Mas todas as suas crenças serão colocadas a prova em uma missão no século 482. Recebendo como parceira a tempista Noÿs Lambert, que conquista o coração e a mente do até então muito frio técnico, que irá rever e começar a questionar tudo o que viveu e aprendeu até se deparar com sua primeira paixão.

Tudo funcionava perfeitamente antes, mas agora tudo estava diferente para ele, e os pedaços do que havia se quebrado não poderiam ser juntados de novo.


E para viver esta paixão ele pode colocar em risco tudo o que se entende como a organização chamada Eternidade.


A escrita de Isaac Asimov

O escritor americano Isaac Asimov utiliza a narrativa em terceira pessoa para que o leitor acompanhe a jornada de Andrew Harlan em sua jornada pelo tempo e o desafio de tomar as próprias decisões.

Optando em já o apresentar como técnico, utiliza de pensamentos para pincelar como ele foi convocado a trabalhar na organização chamada Eternidade, suas funções anteriores e sua escolha para uma função tão desafiadora. 

A história que tentam ensinar aos Tempistas muda a cada Mudança de Realidade. Não que eles se dêem conta disso. Em cada Realidade, a história deles é a única história.


No primeiro capítulo o autor optou em deixar uma pulga atrás da orelha de quem inicia a leitura, e os capítulos seguintes vão em uma crescente de acontecimentos e situações que geram reflexões não só sobre alterar os acontecimentos passados, mas sobre a humanidade em si.

A tecnologia está presente, mas como uma coadjuvante para levar o personagem principal de um século a outro, o verdadeiro foco está nas atitudes dos Homens em si.

Acima de tudo, havia desenvolvido o sentimento de poder de um Técnico. Tinha o destino de milhões de pessoas nas pontas dos dedos e, se isso era fonte de solidão, também era fonte de orgulho.


A escrita no geral é fluída, inicialmente parece mais engessada, mas ela vai ficando mais solta no decorrer dos capítulos, aos quais todos possuem um título, deixando ganchos de uma passagem para a outra.


O que eu achei de O fim da eternidade

O que dizer de um livro cujo título já é um possível spoiler?

Confesso que não o achei divertido, já que não houveram gargalhadas durante a leitura, mas sim bem interessante as reflexões que ele proporciona ao longo da leitura e após sua finalização.

Teria de falar o menos possível, fazer o menos possível, ser o mais possível somente uma parte da parede. Sua verdadeira função era ser dois olhos e dois ouvidos.


Primeiro é o machismo explícito de um grupo chamado Eternidade que viaja pelo tempo alterando eventos e assim mudando diferentes realidades que em sua maioria é composta por homens em toda a sua hierarquia.

Curiosamente ao mudarem as grandes dores de nossa história, o ser humano para de evoluir e os séculos, apesar de terem culturas diferem, tendem a uma padronização a cada mudança realizada no passado.

Era muito pior do que apenas antiético, mas há muito isso não lhe importava. No último fisiomês tornara-se, aos seus próprios olhos, um criminoso.


A verdade é que a cada mudança parece que eles apenas pioram mais o cenário. O poder do homem de ser Deus, interrompendo outras vidas, mudando caminhos, me provocou como leitura uma certa inquietação, principalmente quando se pensa no período atual, em que estamos no meio de tantas guerras espalhadas pelo mundo e outros tantos desejos de invasão.

Seria bom consertar tudo isso e vivermos tempos de paz para tentar dar uma sobrevida ao nosso planeta? Com certeza. Mas aí teríamos que colocar mulheres para participarem das análises, algo vetado na Eternidade de Harlan, e assim termos sensibilidade em relação as pessoas afetadas. Ao mesmo tempo surge a pergunta quem somos nós para decidir os caminhos dos outros?

Um juramento de posse quebrado, que não era nada no 482, era execrável na Eternidade.


Voltando a ficção, em O fim da eternidade tudo muda quando um dos técnicos mais capazes se apaixona. E aí temos uma ficção científica love story que coloca o amor na batalha contra o poder de uma organização.

Confesso que fiquei curiosa se o filme De volta para o futuro se inspirou nele, principalmente na questão de uma pessoa não poder se encontrar durante as viagens. Também me recordei do filme Efeito Borboleta e da série Dark, onde temos as pequenas alterações no tempo e um vai e volta constante.

Ninguém o questionara. Ninguém o detivera. Haveria essa vantagem, de qualquer modo, no isolamento social de um Técnico.


Em resumo eu gostei, não achei o máximo, mas no geral a leitura me agradou. Achei o início um pouco arrastado, contrastando com o final que já prende bem mais, mesmo quando as descobertas feitas são um tanto óbvias.

Ficando a dica para quem gosta de ficção científica, histórias diferentes, reflexões sobre o comportamento humano e claro, quem não resiste a um livro que já quer ler.


O fim da eternidade
The end of eternity
Isaac Asimov
Tradução: Susana L. de Alexandria
TAG - Aleph
2023 - 256 páginas
Publicado originalmente em 1955


Nenhum comentário:

Postar um comentário