quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Ficção 2006 - 2014



Sinopse: Alejandro Zambra é sem dúvida uma das principais vozes da literatura mundial hoje. Neste volume, estão reunidos de forma inédita Bonsai (2006), A vida privada das árvores (2007), Formas de voltar para casa (2011), Meus documentos (2013) e Múltipla escolha (2014). O livro traz ainda nove histórias dispersas, publicadas em revistas, jornais e antologias. O que há em comum aqui é o tom, cristalino, delicado, com que Zambra conduz suas tramas. "O tom é a sua grande invenção", anotou o argentino Alan Pauls, um dos que fazem parte da irmandade cada vez mais numerosa de admiradores de Alejandro Zambra.

Nesta coletânea que mistura romances mais curtos com histórias que lembram contos, é possível ter uma visão dos temas favoritos do escritor chileno Alejandro Zambra, que nos leva para o Chile dos escritores em diferentes períodos da sua história.

Quem abre é Bonsai, suas 53 páginas são divididas em cinco partes para contar a história do fim do relacionamento de Julio e Emília.

Não se escondia das mulheres, mas da seriedade, pois sabia que a seriedade era tanto ou mais perigosa que as mulheres.


Em A vida privada das árvores a história que ocorre em uma única noite intercala lembranças e pensamentos enquanto Julián cuida da sua enteada Daniela enquanto esperam o retorno da mãe da menina.

Já Formas de voltar para casa faz um vai e vem entre presente e os anos 1970/1980, onde um menino descobre o primeiro amor em plena ditadura de Pinochet e anos depois desvenda as relações familiares da menina que amava.

O caso é que não tinha, a rigor, uma melhor amiga, quer dizer, tinha muitas amigas, que sempre a procuravam em busca de conselhos, mas a confiança nunca era totalmente recíproca.


O formato começa a mudar em Meus documentos, onde são reunidos onze textos que podem ser classificados como romances curtos ou contos, todos de formação, abordando principalmente o amor.

O para tudo ocorre em Múltipla escolha, as perguntas e as múltiplas possibilidades de resposta são recheadas de ironia, cotidiano e relações pessoais, que abordam tanto passagens da história como o tempo presente, possibilitando ótimas reflexões.

Às vezes acho que sempre esteve largado ali, pensando. Mas talvez não pensasse em nada. Talvez só fechasse os olhos e recebesse o presente com calma ou resignação.


E o livro fecha de forma perfeita com os Contos dispersos, onde diferentes histórias podem facilmente envolver o leitor.


A escrita de Alejandro Zambra

Nascido em 1975 na cidade de Santiago, no Chile, o escritor Alejandro Zambra tem até o momento suas obras traduzidas para 20 idiomas, apresentando assim para o mundo a sua visão do Chile do passado e do presente.

E em Ficção 2006-2014 não é diferente. Nos seus diferentes textos, que misturam desde a escrita padrão, passado por inovações - pelo menos para mim, que não havia visto um autor utilizar o formato de questões de prova para gerar micro contos - ele explora a complexidade das relações humanas de uma forma acessível e também provocativas.

Nós, crianças, entendíamos subitamente que não éramos tão importantes. Que havia coisas insondáveis que não podíamos saber nem compreender.


O que dá um toque muito grande de realidade na sua ficção, principalmente quando explora o período da ditadura e seus efeitos, e o conservadorismo chileno que tornou a realidade de alguns direitos bastante recentes para sua população, um exemplo é a lei do divórcio, onde o Chile foi um dos últimos países ocidentais a implantar.

Tornando o Chile e seus personagens muitos próximos do leitor justamente pela sua escrita que é ao mesmo tempo simples, direta, pessoal e intimista. Tornando os seus textos um convite quase irresistível de se mergulhar e esquecer da rotina por algum tempo.


O que eu achei de Ficção 2006-2014

Eu conheci a escrita de Alejandro Zambra através do livro O poeta chileno, que me encantou e me divertiu em todas as suas páginas. O que fez a minha expectativa para o livro seguinte subir bastante a régua.

Começo confessando que tive sentimentos diversos durante a leitura deste livro que mistura romances curtos e contos.

Talvez eu possa colocar desta maneira: meu pai era um computador e minha mãe, uma máquina de escrever.


A razão para isso foi que eu achei as primeiras quatro histórias muito parecidas, a ponto de um dia mais sonolenta achar que a segunda história ainda era primeira, visto que até o nome dos personagens Julio e Julián eram semelhantes.

O perfil dos personagens principais: homem, escritor, confuso, atrapalhado se repetem, sendo o principal motivo do sentimento de déjà-vu durante parte da leitura.

Queixar-se era algo estúpido, precisávamos aguentar, sermos machos. Mas a ideia de ser macho era confusa: às vezes significava valentia, às vezes, indolência.


Em compensação, achei Múltipla Escolha sensacional, uma crítica à política, educação, relações pessoais, entre outros assuntos, onde não existe resposta certa. Com o toque certo de acidez, elas vão do bom humor a reflexão muito fácil, tornando a leitura ao mesmo tempo divertida e inteligente.

Também gostei muito dos Contos dispersos, quase todos rápidos e envolventes, abordando situações diversas, fechando com a pandemia que afetou a todos a tão pouco tempo e uma que está no nosso dia-a-dia chamada e tela.

E tampouco escreve cartas de amor, nunca o fez, talvez porque não saiba nada sobre o amor, e não goste do que sabe, pois o que sabe é monstruoso.


Para quem busca mulheres protagonistas, pode ter um certo estranhamento, já que a presença delas são como agentes de transformação do homem - no geral escritor - a ser acompanhado durante a narrativa.

Em relação ao Poeta Chileno, em Ficção 2006-2014 encontrei menos humor, e em alguns momentos senti falta de diversidade entre as narrativas, o que me fez pensar que teria sido mais interessante intercalar a leitura com outros livros, pelo menos dos quatro romances curtos, isso daria tempo de me desconectar da história anterior.

Acorda com um grito, um grito próprio. E embora saiba que não era apropriado gritar, recebe o abraço cansado de alguém e fica em silêncio.

Mas no geral gostei sim do livro, e o segundo livro me consolidou como fã do escritor Alejandro Zambra. Então sim, recomendou este livro que me levou até diferentes décadas do Chile e tem aumentado cada dia a minha vontade de conhecer este país pessoalmente.


Ficção 2006-2014
Alejandro Zambra
Tradução: Josely Vianna Baptista, José Geraldo Couto e Miguel Del Castillo
Companhia das Letras
559 páginas

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