Sinopse: Depois de quinze anos de casamento, Olga é abandonada por Mario. Presa ao cotidiano estilhaçado com dois filhos, um cachorro e nenhum emprego, ela se recusa a assumir o papel de poverella (a "pobre mulher abandonada"). Essa opção a projeta num turbilhão de obsessões, angústias e ímpetos violentos, capazes de afastar Olga do fato de que as derrotas precisam ser assumidas para que a vida possa enfim seguir adiante.
Olga queria escrever, possuía ideias firmes sobre a independência da mulher. Mas um dia conheceu Mário, se casou, teve um casal de filhos, um cachorro que ela não queria, e passou a procrastinar os seus planos. Um belo dia, após o almoço, Mario comunica a Olga que queria se separar, não era culpa dela, nem das crianças, mas ele estava confuso e cansado.
Eu o conhecia bem, sabia que era um homem de sentimentos tranquilos, a casa e os nossos rituais familiares eram para ele indispensáveis.
Em um primeiro momento Olga fica em choque, após refletir e lembrar de outras vezes que Mario fez a mesma coisa, passa a esperar o seu retorno. A cada visita aos filhos, ela é extremamente educada com ele, esperando pelo dia em que o marido irá permanecer. Afinal, já superaram outras situações, e Olga sabe que Mario precisa deles.
Só que no dia em que ela percebe que não haverá volta, afinal o confuso possui outra mulher. A chave vira na cabeça de Olga e ela entra em uma espécie de surto. Olga passa a brigar com todos os conhecidos, deixa de se cuidar fisicamente, passa a ignorar os filhos, adota um palavreado chulo e começa a criar um paralelo com uma vizinha de infância, que foi se tornando vazia após ser abandonada pelo marido.
Você não pode me deixar aqui tendo esperança, quando na verdade você já decidiu tudo.
A comparação amplia a depressão de Olga, pois ela sempre julgou a mulher fraca por se entregar de tal forma, lembrando a todos que nunca sabemos quando as nossas palavras podem retornar afiadas para o nosso peito. Mas isso em um primeiro momento não lhe ajuda a sair de um caminho que só a destrói.
O comportamento dos filhos é dividido entre o apoio e o deboche, conforme eles querem chamar a atenção da mãe, que parece cada dia mais distante, deixando ambos abandonados em uma casa onde as contas não são pagas, a mãe grita histericamente e muitas vezes simplesmente esquece deles.
Hoje à noite o seu pai vem, temos que fazer tudo para que ele não vá mais embora.
Em um livro relativamente curto, Elena Ferrante se utiliza da narrativa em primeira pessoa para nos colocar no turbilhão que se torna a cabeça de Olga. Das memórias de infância, repassando pela relação com a mãe, até o que ela abriu mão para que o marido evoluísse enquanto ela permanecia como dona de casa. Sua obsessão em ter o marido de volta a levam quase a loucura, pois o amor já foi esquecido e o que permanece é o orgulho ferido pelo abandono.
O livro também aborda o fato de desconhecermos as pessoas mesmo após muitos anos dividindo o mesmo teto, conceitos arcaicos que se tornam mais fortes do que opiniões, assim como o dia D que define se você se entrega ou luta para recomeçar e se reencontrar.
Não é fácil passar da tranquila felicidade do passeio sentimental à desordem, a desconexão do mundo.
Como todos os livros de Elena, a leitura é fluída e impactante. Dias de abandono é particularmente pesado, enclausurando o leitor junto com os personagens no apartamento, e por mais que você queira fechar o livro para espairecer, você não encontra as chaves que irão te libertar, suspirando com o fim do peso somente após a última página.
Dias de Abandono
I giorni dell'abbandono
Elena Ferrante
Tradução: Francesca Cricelli
Biblioteca Azul
2013 - 183 páginas
Outros livros de Elena Ferrante resenhados no Blog
A vida mentirosa dos adultos
Amiga Genial
História do novo sobrenome
História de Quem foge e de Quem fica
História da Menina Perdida
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