Sinopse: Em aguardado romance inédito após o sucesso da Tetralogia Napolitana, autora narra os conflitos da adolescência em uma cidade dividida As mudanças no rosto de Giovanna anunciam o início da adolescência e não passam despercebidas em casa. Dois anos antes de abandonar a família e o confortável apartamento no centro de Nápoles, Andrea não se dá conta do que sentencia quando sussurra para a esposa que a filha é muito feia. Essa feiura estética, mas que também indica uma possível falha de caráter, recai sobre Giovanna como uma herança indesejável de Vittoria, a irmã há muito renegada por Andrea. Aos doze anos, a menina vê um rosto no espelho e, embora não compreenda a fundo o peso daquela comparação, sente que algo está irremediavelmente à beira de um abismo. O amor e a proteção oferecidos pelo lar são as primeiras estruturas a desmoronar quando Giovanna decide conhecer a mulher que pode encarnar seu futuro. Os encontros com a tia são o ponto de partida para o embate com inúmeras questões existenciais — é possível pertencer a algum lugar em uma Nápoles de contrastes entre o cinza industrial e sua sociedade rica e instruída? Ou transcender os erros e pecados cada vez mais aparentes de pais outrora perfeitos? Como sobreviver ao despertar do desejo? Ao longo dos anos acompanhamos os percalços da transição da infância protegida de Giovanna a uma adolescência exposta às complexidades daqueles que a cercam, evocando também a possibilidade de levar a vida adulta como nenhuma outra mulher fizera até então. Um romance extraordinário sobre transições, paixões e descobertas.
Com a Covid-19 e o isolamento social, acabei tomando coragem para assinar mais um clube de livros: o da Intrínsecos. E foi com muita felicidade que descobri que o primeiro livro que eu receberia era justamente o novo título da Elena Ferrante, escritora pelo qual me encantei após lera tetralogia napolitana (se você ainda não leu, o meu conselho é leia!).
Uma família perfeita. Os pais se amam e são companheiros. A filha é obediente, estudiosa e tem no pai a figura de um herói. Mas um dia a borboleta bate as suas asas e tudo se transforma não somente na casa de Giovanna, mas também a sua volta.
O bater de asas aqui é quando Andrea, pai de Giovanna, após saber pela esposa que a filha havia tirado notas ruins afirmou: Não tem a ver com a adolescência: está ficando a cara de Vittoria. Escondida escutando a conversa, ela espera pela defesa da mãe, que não vem.
Nascemos bem-feitas e não devemos desperdiçar isso.
Vittoria é a irmã de seu pai, que assim como os demais parentes paternos é uma desconhecida para Giovanna. A única coisa que ela sabe sobre a tia é o fato da mesma ser sinônimo de feiura e maldade para o seu pai. Em um primeiro momento os sentimentos foram de medo e asco, justamente pelas reações que seus pais tinham em consideração a Vittoria.
Giovanna que já não estava confortável com o início da adolescência, como a menstruação que lhe transmitia a sensação de sujeira, sentiu uma dor muito grande com a comparação, mas como era natural, logo veio a curiosidade e até mesmo um certo desespero em saber como era o rosto da tia.
Ainda hoje tenho curiosidade de saber como nosso cérebro elabora estratégias e as executa sem revela-las a si mesmo.
Da busca por fotografias até o encontro cara a cara com a mulher foi um passo, saindo da redoma da classe média napolitana ela conheceu o subúrbio e o dialeto. Ao mesmo tempo que passa a conviver mais com a tia, ela também se isola dos colegas escola. E logo Vittoria faz com que tudo em sua casa mude, fazendo com que verdades sejam reveladas e suas crenças questionadas.
E sim, a tia Vittoria aqui é o segundo personagem desta história, apesar de não sabermos o que ela realmente pensa. Entre bons e maus conselhos, ela sem querer amplia a visão até então limitada que a sua sobrinha tinha da vida. Com uma personalidade forte e dominadora, sua índole não é muito diferente do pai de Giovanna, com a diferença que o segundo se afastou da vida da periferia.
Se a blasfêmia me permite um pequeno avanço que for, eu blasfemo.
Narrado em primeira pessoa e dividido em sete partes, A Vida Mentirosa dos Adultos trata tanto das mudanças de uma menina em mulher, do estilo de se vestir, o reconhecimento da sexualidade, seus questionamentos sobre religiosidade, as amizades, o primeiro amor até a desmistificação dos adultos que a cercam. No caso de Giovanna, mais do que perder o olhar de herói para os pais, as revelações sobre os mesmos são desagradáveis. Entre a mágoa e o amor, os laços são modificados, e ela precisa descobrir quem é.
Mas apesar da juventude da nossa narradora, não pense que o livro é para adolescentes, pois a leitura é bastante reflexiva. Começando pelo posicionamento das mulheres da história, temos mães, esposas, amigas, viúvas e amantes. A devoção das mulheres adultas pelos homens é bem curiosa, um amor que resiste as mentiras, e norteiam o seu modo de vida.
E certamente também me treinou, queria que eu fosse como ele, até eu decepcioná-lo.
Da mesma forma a relação dos homens com as mulheres, que vão do respeito a violência física, do olhar lascivo de um homem mais velho para o corpo de uma jovem, do rapaz que bate na namorada por se sentir pressionado, ao fato de que todos são infiéis.
A escrita de Elena Ferrante é fluída, tornando o livro fácil e rápido de ler. A história possui um bom ritmo, do tipo que algumas vezes você se pega pensando por que raios Giovanna está tendo determinado comportamento, ao mesmo tempo que em outros tem vontade de lhe dizer que é normal sentir tantas incertezas.
Eu não estudo, sou reprovada e sou uma vadia.
Entre as leitoras femininas, não é difícil se identificar com um ou mais momentos da personagem, seja na mudança de opinião em relação aos adultos, seja as situações vividas em uma fase nem sempre tão fácil chamada adolescência.
Sobre a edição da Intrínsecos, gostei bastante. O livro em capa dura veio na cor rosa, o tamanho das letras assim como a distribuição do texto na página facilita que o leitor tenha como foco somente a história. De mimo mais uma ecobag para a minha coleção. Aprovei, fiz o plano anual para formar a minha opinião definitiva, então agora vocês terão resenhas de dois clubes de livros no blog. Lembrando que nenhum é patrocinado, ambos são pagos na totalidade pela leitora aqui.
A vida mentirosa dos adultos
La vita bugiarda degli adulti
Elena Ferrante
Tradução: Marcello Lino
Editora Intrínseca
2019 – 429 páginas
Outros livros de Elena Ferrante resenhados no Blog:
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