quinta-feira, 13 de setembro de 2018

História de Quem Foge e de Quem Fica - Série Napolitana



Atenção para quem não leu os dois primeiros volumes: há spoiler.

Sinopse: No terceiro volume da série napolitana, Lenu e Lila partem para os embates da vida adulta. Numa sequencia angustiante e sem espaço para a inocência de outrora, Elena Ferrante coloca o leitor no meio do turbilhão que se forma das amizades, das relações sociais e dos interesses individuais. História de quem foge e de quem fica é uma obra de arte a respeito do amor, da maternidade, da busca por justiça social e de como é transgressor ser mulher em um mundo comandado pelos homens.

Comecei a ler a série napolitana por curiosidade, gostei muito dos dois primeiros livros, mas fui realmente capturada no seu terceiro volume. E como um quebra-cabeça que está perto do final, consegui compreender a maestria de Elena Ferrante em trazer todo o universo feminino sendo representado por duas personagens tão ricas e similares as mulheres de qualquer época.

Elena começa falando do sucesso do seu livro, o primeiro encontro com Nino após a separação dele e de Lila, e a descoberta que seus amores e filhos pipocam sem que ele dê muita importância a eles.

Significava acima de tudo que no outono, ou no máximo no início do próximo ano, nós nos casaríamos e eu deixaria Nápoles.

Com o casamento marcado com um jovem professor de família influente, Elena retorna para casa e é chamada as pressas para cuidar de Lila, momento que vamos descobrir todo o sofrimento que ela passou após abandonar o marido e ser abandonada pelo amante. A beleza perdida em uma fábrica, a inteligência sempre afiada.

Se Elena move mundos e fundos para ajudar Lila, sua recompensa são olhares irônicos, comentários humilhantes e uma tentativa de lhe dar pouca importância por aqueles que já estimou. Nem Lila a defende, apesar de estar sendo salva pela amiga. Enquanto Elena foge determinada do local do seu passado, Lila volta para o bairro para um novo recomeço.

Lila notou como era fácil distinguir entre os rostos dos estudantes e os dos trabalhadores, a desenvoltura dos líderes e o balbucio dos gregários.

E é justamente após este encontro que tudo parece dar errado a Elena. Ao casar com um homem machista, tradicional e fraco perante outros homens, Pietro a trata como um ser inferior, não respeitando nem suas opiniões ou inteligência, subjugando-a como uma mulher de respostas prontas, mas sem conteúdo.

O pano de fundo é uma Itália em rebuliço, fascistas, terroristas, protesto de universitários e operários, e a Camorra ganhando força na cidade de Nápoles. Uma hora ou outra todos se vendem, todos tem o seu preço. E a morte não poupa lado.

E para quebrar minha cara você foi pedir autorização a meu marido?

Outro tema muito bem abordado é a maternidade, se no segundo livro temos uma Lila que tenta estimular o filho ao máximo, agora temos uma Elena que tenta administrar a culpa, vê toda a sua vida mudar, dando a visão mais realista de ser mãe. 

Há também o início do uso de tecnologias, que geram empregos com maiores rendimentos, e os movimentos feministas, que começam a questionar relacionamentos e empoderamento muito antes da palavra virar moda.

E por uns segundos tive a impressão de que Lila não me reconhecesse, mas visse diante de si um espírito que se aproveitava de sua fraqueza.

E para fechar um final que te faz ficar com vontade de iniciar o quarto volume quase que imediatamente, que pode provocar diferentes sentimentos nos leitores. A dúvida entre o despertar e a loucura persiste em minha mente. Assim como o medo de que não haverá final feliz para nenhuma das duas. De onde elas vêm, por mais que se afastem de tudo e de todos, isto não parece possível.

História de Quem Foge e de Quem Fica
Storia di chi fugge e di chi resta
Série Napolitana
Elena Ferrante
Tradução Maurício Santana Dias
Biblioteca Azul – Editora Globo
2013 – 415 páginas

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