Sinopse: A promessa, primeiro título deste livro, é uma obra engenhosa, filosófica e paradoxal, que satiriza e reverencia o gênero policial de forma simultânea. Já a novela A pane revela o brilhantismo de Friedrich Dürrenmatt em elaborar debates teóricos ao mesmo tempo que presenteia o leitor com uma história tão cômica quanto original. Em ambas as obras, saltam aos olhos alguns dos temas que tornaram Dürrenmatt um dos maiores escritores suíços do século XX: a justiça, o dever moral, a responsabilidade e a absurda força do acaso.
Na edição de agosto a TAG uniu um romance e um conto do suíço Friedrich Durrenmatt. Em ambos o autor mexe com a imaginação do leitor, fazendo o mesmo idealizar diferentes caminhos para as histórias até ser impactado com o seu final.
No romance A Promessa temos um escritor do gênero policial sem nome que termina a sua palestra para um público não exatamente animado, pois na mesma cidade havia outra com Emil Staiger sobre o Goethe tardio. No hotel ele encontra o doutor H., um ex-comandante de polícia do cantão de Zurique que lhe oferece carona e ele aceita.
O silêncio no hotel era inumano; dormir, nem pensar, pois logo surgia o medo de nunca mais acordar.
No caminho doutor H. indaga a inverosimilhança das histórias policiais, onde tudo é organizado para que o detetive principal encontre a solução nas páginas finais. O que dificultaria a vida real dos policiais, já que as pistas dos crimes nem sempre possuem obviedade.
Para demonstrar como está certo, ele para em um posto de gasolina, onde o homem que está na bomba demonstra sinais de estar fora da realidade. Saindo do local se descobre que ele se chama Matthäi e era um tenente sênior que estava prestes a ir para a Jordânia no auge de sua carreira quando uma ligação mudou a sua vida.
Não tinha um bom pressentimento sobre aquele caso; de alguma forma, tudo tinha dado errado; eu só não sabia como, apenas sentia.
Uma garotinha assassinada, uma promessa feita sem querer aos pais da criança, a certeza de que o acusado não era o culpado o levam a abandonar tudo e partir para uma investigação própria. Descobrir o verdadeiro assassino vira a sua obsessão.
E neste momento o leitor passa páginas e páginas em dúvida sobre o que ocorreu, torcendo e se horrorizando, visto que é sabido o seu estado atual. Em um romance tipicamente policial um final feliz é quase certo para o seu detetive. Mas na obra de Friedrich ficamos na mão de uma suposta realidade.
Pois o que o assassino não ousa fazer com mulheres ele faz com meninas.
Já em A Pane temos o representante comercial Alfredo Traps que se vê com problemas no carro e a previsão de conserto somente para o outro dia. Ele possuí duas opções: pegar um trem e em 30 minutos estar junto à família, ou dormir na pequena cidade.
Ao optar pela segunda opção, Traps se depara com outro problema: todos os hotéis estão ocupados devido a um evento. Sua única solução é pedir abrigo em uma mansão onde vive um juiz aposentado. E neste momento você não sabe mais se está em uma história de comédia, terror ou reflexão da personalidade humana.
Existem, ainda, histórias possíveis, histórias para escritores?
Graças ao juiz e seus amigos aposentados somos apresentados à tertúlia, um tribunal com juiz, promotor, defensor e carrasco, onde o interrogatório é feito com boa comida e muitos vinhos de qualidade e o veredito final só é dado após a sobremesa.
Entre uma taça e outra a inocência irá se perder, e entre risadas e queijos, Traps irá analisar seus atos de outra forma. Deixando ele e o leitor em dúvida sobre o seu papel em várias situações da vida. O engraçado é que justamente por ele ser comumente malandro, o leitor pode ficar preocupado cada vez que ele abre a boca e dá argumentos ao promotor.
Nosso jogo é um tanto singular, talvez. Passamos a noite encenando nossas velhas profissões.
De presente está a primeira parte em A Pane, onde o autor começa questionando se ainda há historias possíveis para escritores, o que ele pode ou não produzir. A quem ele deve atender. Uma reflexão sobre a escrita e sobre a nossa sociedade.
Duas histórias muito bem escritas, que não apenas distraem, mas trazem as mais diversas reflexões.
A Promessa / A Pane
Das Versprechen / Die Panne
Friedrich Durrenmatt
Tradução Petê Rissatti e Marcelo Rondinelli
TAG - Editora Liberdade
1986 - 220 páginas
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