Sinopse: Neste celebrado romance de Elena Medel há duas mulheres: María, que no final dos anos 1960 deixa a sua vida pacata numa cidade de província para trabalhar em Madri; e Alicia, que faz o mesmo caminho trinta anos mais tarde, por razões bem diferentes. E há, claro, a mulher que as une e de quem praticamente não se fala: filha de uma e mãe de outra. As maravilhas é uma história sobre afetos, cuidados, responsabilidades e expectativas. É também, uma jornada sobre o passado recente da Espanha, do final da ditadura franquista até a explosão do feminismo, contada por duas mulheres que tampouco podem ir às manifestações, porque têm, evidentemente, de trabalhar para arranjar o seu sustento.
Recebi pela minha assinatura da TAG Curadoria no mês de Novembro/22 o livro As maravilhas da escritora espanhola Elena Medel, indicação de uma outra escritora, a brasileira Giovana Madalosso. O mimo foi o que gerou mais dúvida em todos os meus anos de assinatura na TAG: uma cinta de livros.
Na cidade de Córdoba cedo María se depara com uma gravidez indesejada, sem apoio do pai da criança, tudo é ajeitado pelos pais, que a enviam para morar com os tios e trabalhar na capital espanhola, enquanto eles criam a bebê Carmen.
Vazios os da calça, também os do casaco: nem sequer um lenço de papel úmido, amassado.
Nos raros reencontros, a jovem mulher identifica que o seu bebê tem cheiro de cigarro e não o mesmo perfume agradável da criança que cuida. Se no início ela sonha em carregar a filha junto, cedo é dissuadida que isso não é possível, e ela cede, escasseando visitas e telefonemas, até a filha ser uma completa estranha.
Carmen também engravida cedo, mas ao contrário da mãe, acaba casando e formando uma família, que com o empreendedorismo do marido, gera uma vida cheia de pequenos luxos para as filhas Alicia e Eva. Até a tragédia chegar, e ela ter que se virar para sustentar suas meninas.
Durante o dia, ela cozinha, limpa, passa roupa e obedece, mas à noite se dedica à memória.
Alícia é mimada, e nem mesmo a perda a faz evoluir de sua necessidade de se sentir superior. Vontade que não é suficiente para que ela estude e busque uma vida melhor, e como a avó que desconhece, vai parar em Madrid, vivendo um dia de cada vez sem objetivo nenhum.
A escrita de Elena Medel
Utilizando uma narrativa em terceira pessoa, a escritora espanhola Elena Medel conta a história de três gerações de mulheres da mesma família no período de 1969 a 2018. O que acaba entrelaçando a vida delas aos acontecimentos históricos da Espanha, como o pós guerra civil ao qual se seguiu a ditadura Franquista, a transição espanhola após a morte do general Franco, os impactos das crises econômicas até o momento presente de avó e neta: a greve das mulheres.
Como personagem principal temos justamente avó e uma das netas, já que a mãe/filha e a outra menina - Eva - só aparecem através da visão das protagonistas.
Tudo nela as desnorteava: escrevia sem erros de ortografia, sabia de cor datas e nomes de personagens históricos, não bocejava na aula.
Ao contar a história de pessoas comuns, a autora acaba abrangendo uma diversidade de questões, que vão das diferenças sociais, passando pela maternidade, as relações familiares, mágoas, independência feminina, machismo e escolhas.
O livro tem o presente e o passado dos personagens, não há um mistério ou segredo a ser desvendado além do da própria vida, pois são elas crescendo e envelhecendo em uma brincadeira de ida e volta dos anos que a autora faz, permitindo que assim o leitor construa aos poucos o perfil e o porquê de cada personalidade.
Algumas manhãs a mulher lhe faz essa pergunta: de onde você veio? Como chegou aqui?
Personalidades bem diferentes, pois se de um lado María aceita o que lhe foi negado e aos poucos vai encontrando a si mesmo em uma evolução constante, Alicia busca pelo sexo se afirmar, presa no mesmo sonho todas as noites e parecendo nunca deixar de ser uma pré-adolescente.
Tudo em uma escrita bastante fluída, que permite um bom ritmo de leitura em uma trama bem costurada, onde há mais reflexões sobre as situações vividas do que questionamentos.
O que eu achei de As maravilhas
Gostei da forma como a história da Espanha entra como um pano de fundo para a narrativa, não há explicações sobre o período, são os diálogos, as ações, os pensamentos que nos fazem entender como cada personagem encara o momento em que está vivendo.
A maternidade, assunto que foi muito abordado nos livros enviados pela TAG este ano, aqui aborda a ausência de laços e o desejo de não vivê-la. Seja pela personagem María, convencida pelos pais da incapacidade de criar a própria filha a ponto de acabar abandonando a mesma na mão dos familiares e não desejar nem mesmo ver as fotos que registram o seu crescimento.
Tanto faz se são homens ou mulheres, jovens ou velhos: ninguém confessa sonhar com outras coisas.
Até chegarmos a Alicia, uma menina que segue sombria e vazia na vida adulta, que mesmo chegando a Madrid com mais oportunidades que a avó não abraça isso, se satisfazendo com empregos precários e não desejando laços, e com isso dizendo sabiamente não ao maior deles: a maternidade.
Mas o curioso no meu caso é que em um livro tão voltado as questões femininas, quem ganhou o meu coração é o Chico. O irmão de María apaixonado por filmes que ainda criança usa uma caixa para trabalhar em um balcão e assim ser visto. O tio de Carmen que abre a sua casa para ela quando tudo fica difícil. O familiar que está ali para quem precisar e tenta sempre ter notícias de todos.
São os livros e os filmes que vão contar tudo para os nossos filhos, nossos netos, assim como nós sabemos através dessas obras o que aconteceu antes.
No geral eu gostei do livro, confesso que achei a história um pouco linear, tendo alguns capítulos mais tensos, mas no geral é acompanhar a vida de avó e neta. Motivo pelo qual senti falta de algo mais, talvez da visão de Carmen e Eva, para completar o quadro das três gerações.
Mas isso não o deixa menos interessante, pois como comentei, gostei da escrita e da história, e a forma natural como as relações podem trazer consigo imposições, as questões de gênero, o rompimento de alguns conceitos quando se escolhe em não assumir o papel, tornam as personagens muito ricas, complexas e interessantes.
Não se preocupe: não falo dormindo, não choramingo com o alarme do celular; acabei me acostumando.
Ficando a dica principalmente para quem gosta de livros onde se pode viver por algumas páginas na pele de outro sem ter poder de escolha ou aconselhamento.
As maravilhas
Las maravillas
Elena Medel
Tradução: Rubia Goldoni
TAG - todavia
2020 - 188 páginas
Assinatura integralmente paga pelo autora da resenha.
Acho interessante histórias que tem o presente e o passado, a história relata o peso da família, é um bom pra ler, anotado aqui a indicação do livro.
ResponderExcluiroi!
ResponderExcluirEu adorei a sugestão de livro :D ainda não conhecia o trabalho da autora é bem interessante
Oi, tudo bem? Que edição mais bonita. Gosto muito quando o autor traz informações históricas sobre a ambientação, deixa a leitura bem mais rica. Também gostei de trazer personagens tão diferentes, fiquei bem curiosa para ler. Um abraço, Érika =^.^=
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