domingo, 1 de março de 2009

Ensaio Sobre a Cegueira


Sinopse: Um motorista, parado no sinal, subitamente se descobre cego. É o primeiro caso de uma "Treva branca" que logo se espalha incontrolavelmente. Resguardados em quarentena, os cegos vão se descobrir reduzidos à essência humana, numa verdadeira viagem às trevas. O Ensaio sobre a cegueira é a fantasia de um autor que nos faz lembrar "a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam". José Saramago nos dá, aqui, uma imagem aterradora e comovente de tempos sombrios, à beira de um novo milênio, impondo-se à companhia dos maiores visionários modernos, como Franz Kafka e Elias Canetti.

Decidi ler Ensaio após assistir sua versão para o cinema. O filme de Fernando Meirelles me fez sair da sala impactada, mas por mais que ele tente ser fiel, não consegue transmitir a confusão de sentimentos que José Saramago me fez sentir meses depois a cada virada de página. 

Nada, é como se estivesse no meio de um nevoeiro, é como se tivesse caído num mar de leite

Narrado em terceira pessoa, os personagens não possuem nome, são identificados por sua profissão ou alguma característica. Em meio a cegueira que se alastra, há uma exceção, a mulher do médico segue enxergando, mas mente sobre isso para acompanhar o marido. E ela verá todos os horrores desencadeados pela situação única, assim como a divisão entre opressores e oprimidos.

Eu poderia dar diversas interpretações, dizendo que o livro é uma provocação sobre o que o homem pode fazer em situações de caos, ou simplesmente, por saber que ninguém está olhando. Afirmar que é um livro crítico ao governo, que se livra dos indesejados em qualquer lugar, sem perceber que o mesmo mal irá lhe afligir cedo ou tarde. Ou que trata sobre a covardia humana, onde a maioria se encolhe ao que fala mais alto. 

A mãe não vinha com ele, não tivera a astúcia da mulher do médico, declarar que estava cegar sem o estar, é uma criatura simples, incapaz de mentir,  mesmo para seu bem. 

Talvez acreditar que se trate do machismo (que exige o sacrifício feminino) e do orgulho que esse possui (onde a mulher do outro pode ir, mas a minha não). Ou resumir em uma loucura total, onde o caos e situações bizarras se misturam. 

Mas não. Ensaio não possui definição e nem um resumo apropriado, pois ele depende inteiramente da visão (ou falta) do leitor. É ele quem precisa mergulhar nessa história fantástica e identificar o que lhe atrai, tirando assim a venda sobre os próprios olhos. 

Passada uma semana, os cegos malvados mandaram recado de que queriam mulheres. 

Pois ao terminar a leitura, essa foi a minha conclusão: Ensaio sobre a cegueira trata unicamente da alma do ser humano, que apesar de enxergar o sinal de trânsito todo dia, permanece tateando na vida, o que me faz definir tudo em uma única frase: Cegos somos, e cegos continuaremos.

E para quem gostar da leitura, fica uma dica preciosa, existe uma continuação, chamada Ensaio sobre a Lucidez, que você simplesmente não pode deixar de ler.

Ensaio sobre a cegueira
José Saramago
Companhia das Letras
1995 - 310 páginas

3 comentários:

  1. Já tinha lido o livro há muitos anos, em 2004, o primeiro do Saramago que li.
    Fiquei curiosíssima com a versão cinematográfica, que não vi ainda, mas imagino que deva ser ótima.
    Acho que a tua última frase definiu perfeitamente o indefinível: cego somos e cegos continuaremos.

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  2. Li o livro e assisti o filme. Geralmente é difícil fazer uma adaptação cinematográfica e, principalmente, ser fiel à obra. Ainda mais quando se trata de complexidades do ser humano.

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  3. Na verdade li o livro de propósito para ir ver o filme.
    O livro achei fantático, dos melhores que já li até hoje. O filme não desiludiu.

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