quinta-feira, 28 de outubro de 2021

A Trégua



Sinopse: Publicado em 1960, A trégua é o mais famoso romance de Mario Benedetti e uma das obras mais importantes da literatura latino-americana contemporânea. Escrito em formato de diário, com um texto incisivo, muitas vezes irônico, o livro conta a história de Martín Santomé, um "homem maduro, de muita bondade, meio apagado, mas inteligente."

No mês de setembro recebi da minha assinatura da TAG Curadoria o livro indicado pela escritora Aline Bei chamado A trégua do escritor uruguaio Mario Benedetti, que já havia sido enviado pelo clube em fevereiro/19 com o romance Primavera num espelho partido. O mimo foram duas colheres de café.

É através do diário pessoal de Santomé que o leitor descobre que este homem se encontra próximo do seu aniversário de cinquenta anos e parece estar entrando na famosa crise da meia idade ao contar os dias para a sua aposentadoria de uma forma um tanto desanimada, pois não sabe o que irá fazer da vida quando ela chegar.


Digo a mim mesmo que não, que não é do ócio que preciso, mas do direito a trabalhar no que eu quiser.


Viúvo a mais de vinte anos quando sua esposa Isabel morreu no parto do filho caçula, ele mantém uma relação um tanto distante com os três filhos agora adultos. Também não possui nenhuma relação amorosa, tendo encontros esporádicos de apenas algumas horas com algumas mulheres aos quais não procura saber maiores detalhes.

Sua rotina muda drasticamente quando ele resolve prestar a atenção em uma nova funcionária que está sob a sua supervisão, uma moça que regula de idade com a sua filha e parece bastante tímida, e também bastante atenta e competente. E aos poucos Avellaneda vai sem fazer esforço algum ganhando o seu coração, dando uma trégua em sua vida sem cor, e trazendo à tona um homem diferente até em relação aos filhos.


Mas tudo sempre foi por demais obrigatório para que pudesse me sentir feliz.


Por ser um diário, A Trégua não possui capítulos, mas dias, e assim o leitor é convidado a acompanhar a vida de Santomé do dia onze de fevereiro até o dia vinte e oito de fevereiro do ano seguinte, sem identificação do ano exato. Naturalmente é uma narrativa em primeira pessoa, onde o personagem expõe sem pudor os seus pensamentos em relação aos filhos, aos colegas e a sua vida em geral.

E por este motivo é um livro sobre escolhas, ironias do destino, relações familiares, relacionamentos pessoais, felicidade e tristeza, no melhor estilo a vida como ela é, sem filtros ou photoshop para deixar os acontecimentos do jeito que os personagens gostariam, pois ao contrário das redes sociais, diários são memórias lidas apenas pelo seu autor.


As pessoas me olham, me sorriem, algumas até chegam a fazer careta que precede o soluço; depois se dedicam a abrir o coração.


Ao contrário de Primavera num espelho partido, eu gostei muito de A Trégua, pois se no primeiro achei a história um pouco superficial, aqui são os pensamentos em palavras, questionando Deus, a vida e a morte. Pois Santomé é extremamente comum, e, portanto, muito humano, em sua forma de se expressar e de reagir conforme a época em que vivia. 

É interessante ver as dubiedades humanas, como a falta de ânimo que Santomé tem com a aposentadoria, e mesmo assim paga para obtê-la de forma mais rápida. O enorme amor que diz ter por Avellaneda, sem nunca perguntar a sua opinião ou usar o seu primeiro nome, Laura, em nenhum momento em que compartilham suas vidas.


A segurança de me saber capaz para algo melhor me deu o controle da postergação, que no fim das contas é uma arma terrível e suicida."


Ou o fato do filho preferido não se sentir amado, e assim preferir fugir de sua família, considerando de pronto que eles não irão aceitar as suas escolhas, impressão plenamente justificada por outros comentários feitos por Santomé em outros momentos e pela reação de seu irmão.

De bônus o leitor ganha uma viagem literária por Montevideo, onde pode circular por seus cafés e praças, despertando para quem tem o espírito de sair por aí, o desejo de replicar os passos de Santomé e conhecer a capital uruguaia ao vivo e a cores.


Às vezes, penso que precisaria viver apressado, tirar o máximo partido destes anos que restam.


Um livro de fácil leitura, relativamente curto, mas que pode levar o leitor a refletir sobre a vontade de viver e de morrer, sobre sobreviver e estar vivo, sobre envelhecer e rejuvenescer, sobre relações humanas, planos, expectativas e desejos. E sobre ficar com aquela pulga de como será o dia seguinte.


A Trégua
La Tregua
Mario Benedetti
Tradução: Joana Angélica D'Avila Melo
TAG - Alfaguara
1960 - 205 páginas

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Assinatura integralmente paga pelo autor da resenha.

10 comentários:

  1. Oi
    Que interessante 🙂 ainda não conhecia o trabalho da autora, parece ser bem legal

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    1. Olá,
      A escrita do autor uruguaio Mario Benedetti é realmente muito interessante.

      A Aline Bei não é a autora, é a pessoa que indicou o livro para os leitores, mas os livros dela também são belíssimos.

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  2. É um ótimo livro com temas importantes, nos trás um pensamento que a vida muitas vezes não dá trégua, gostei muito do bônus de uma viagem literaria em Montevideo um presente para o leitor.

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  3. O livro, A trégua, parece bem interessante. Ainda não conheço a escrita do autor, mas gostei da sua opinião sobre a leitura. Penso que a história de Martín Santomé é a mesma vivenciada pela maioria dos homens. Sugestão anotada!
    Bjs!

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  4. Eu gosto de livros assim, em primeira pessoa, com personagem que nos identificamos e aprendemos a gostar de acompanhar. Me passou a impressão de que a leitura é como se tivesse conversando com o senhor Santomé né? Gostei muito dessa indicação.

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  5. Oi, tudo bem? Ah, que interessante ele ser escrito em forma de diário. Creio que isso nos aproxima do personagem. Gosto muito da caixinha da Tag. Que bom ter sido uma leitura fácil! Um abraço, Érika =^.^=

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  6. Bem interessante, já deixo marcado aqui como uma sugestão de leitura, final do ano chegando e tenho de ter cartas nas mangas para boas leituras!

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  7. Oi Andrea, tudo bem?
    É difícil não se comover com a história do personagem escrita em forma de diário, acho que fica mais pessoal, mais intimista. E mesmo que o leitor não esteja na fase da vida em que o personagem está, em algum momento irá chegar lá. Em algum momento terá seus próprios questionamentos sobre sua própria vida e sobre o mundo. Dica mais do que anotada! Sua resenha ficou ótima!
    beijinhos.
    cila.

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  8. Esse romance é muito interessante, já ouvi falar desse livro. “A Trégua”, parabéns ao escritor uruguaio Mario Benedetti. Li em português "Gracias por el fuego", Um autor excelente de dramatologia.

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  9. é bem interessante quando pega se livros de meiados do seculo XX ate pela maneira de conversar dos personagens a discrição e palavras. Ao ler sua resenha parece ter esta noção de voltar um pouco no tempo. Beijos

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