segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Ingrid está nua



Lançado em setembro de 2010, o livro Não Há Silêncio Que Não Termine é um tijolo com 553 páginas onde a ex-candidata à Presidência da Colômbia, Ingrid Betancourt, relata as agruras pelas quais passou ao longo dos seis anos em que esteve nas mãos das famigeradas FARC - Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.

Costumo dizer que um livro é bom quando, nos intervalos da leitura, você se pega pensando nos personagens e nos seus dramas, como se fossem pessoas próximas a você. E não há como não fazer isso com o livro de Ingrid, mesmo sabendo-se de antemão que o desfecho foi feliz - se é que se pode dizer isso de alguém que carregará para o resto da vida os traumas do sequestro - com sua libertação.

Ingrid Betancourt descreve os intermináveis dias de cativeiro dando ênfase aos sentimentos. A política fica subentendida mas não ocupa lugar de destaque em sua narrativa.

As nuances psicológicas dos envolvidos na história, sequestrados e algozes, descritas por uma mulher inteligente e acima de tudo sensível - porém ultrajada e humilhada - são, a meu ver, o ponto alto do livro.

Fatos como a hora do banho, a divisão da parca ração, os intermináveis deslocamentos pela mata e, principalmente, as várias tentativas de fuga - que levavam a excruciantes castigos - são narrados de forma simples e direta. É aí que Ingrid se desnuda diante do leitor, mostrando do que é capaz um ser humano exposto a situações-limite.

Não Há Silêncio Que Não Termine é um daqueles livros que se devora, torcendo pela "mocinha".


Não Há Silêncio Que Não Termine
BETANCOURT, Ingrid
Tradução: Antonio Carlos Viana, Dorothée de Bruchard, José Rubens Siqueira e Rosa Freire D'Aguiar
Companhia das Letras - 2010
553 páginas

7 comentários:

  1. Nossa! Tirando o tamanho do livro, me deu vontade de ler! Hehe! Gostei muito da tua impressão sobre o livro! Como sempre, palavras e sentimentos no lugar certo! Parabéns, Dino! Bem vindo oficialmente ao blog!

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  2. Obrigado, Karen!
    Mas, pode acreditar... apesar do tamanho, é uma leitura fácil, gostosa... é daqueles que a gente não quer largar...rs
    Bjos!

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  3. Acho uma generosidade escrever sobre algo que contaminou a sua alma. Parabéns. Beijos.

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  4. Quem me dera conseguir partilhar tudo que me tem contaminado nos últimos dias. Há uma coisa aqui dentro tão presa, tão grande e boa. Acho que eu precisava de uma solidão pra fazâ-la nascer, ou de competência. Ou conviver mais com você. Ou deixar de ser besta. Beijão

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  5. Dino,

    Me arrepiei com a tua resenha, e fiquei pensando nas sensações que este livro deve despertar.

    Abraços

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  6. Andrea, ao mergulhar na leitura, chega-se a sentir as dores de Ingrid. Principalmente as dores da alma...

    Obrigado por seu comentário - e por me acolher no blog!!!

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  7. As FARCS são hoje um exército armado do narcotráfico - não há mais razões políticas em sua revolta. O antigo governo Uribe, subsidiado pelo Tio Sam, promoveu uma guerra ao tráfico de "drogas", da mesma forma que o atual presidente, Manuel Santos. Certamente o que Ingrid passou foi desumano, cruel e bárbaro. Infelizmente, após estar em liberdade sua imagem foi imensamente explorada por Uribe, como propaganda da vitória de sua guerrinha financiada$ por nossos brother's do norte!

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