quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

A Praça do Diamante



“Mas ela me fez acompanha-la querendo ou não, porque eu era assim, sofria se alguém me pedia alguma coisa e eu tinha de dizer não.”

Na primeira página do primeiro capítulo Natália descreve a sua personalidade com a simplicidade e até mesmo uma ingenuidade com a qual ela irá levar o leitor por todas as páginas do livro.

Seus sims irão selar o seu destino, e o resultado disso pode tanto entediar como encantar quem acompanha a sua história.

No meu caso a personagem me cativou, vi perder sua identidade para ser a Colometa de Quimet, um homem que podia ser encantador ou cruel conforme a sua necessidade. Ser engolida pela guerra civil espanhola em um total desamparo e miséria. 

Mercè Rodoreda, assim como Raquel de Queiroz em Três Marias, empresta parte de sua biografia para a personagem. O espelhamento entre os pombos e Natália (cujo apelido Colometa significa pombinha em catalão) permitem sentir o aprisionamento da personagem em um casamento que lhe suga até a alma. Sua incapacidade de dizer Não é a chave para uma loucura que como ondas podem puxa-la ao fundo ou devolve-la de soco para a areia.

Ao mesmo tempo ela é uma mulher que está sempre buscando forças, mesmo que seja o toque em uma balança desenhada em um corrimão. Ao ver-se sem dinheiro, ela vai em busca de trabalho, e toma decisões difíceis ao se ver no limite da sobrevivência.

A Praça do Diamante não é para chorar, mas para refletir. Os perfis psicológicos ali traçados misturados com o momento histórico são narrados de forma delicada e cuidadosa, mesmo em momentos que podem provocar aflição no leitor.

A Praça do Diamante
La plaça del Diamant
Mercè Rodoreda
Tradução Luis Reyes Gil
TAG – Planeta
1965 – 253 páginas

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