terça-feira, 29 de março de 2022

A Pintora de Henna



Sinopse: Um retrato vívido e irresistível da luta de uma mulher em busca de realização pessoal e profissional em uma sociedade que oscila entre a tradição e a modernidade. A pintora de henna abre ao leitor a porta para um mundo - a Índia pós-independência - que é ao mesmo tempo exuberante e encantador, duro e cruel.

Como associada da TAG Inéditos recebi no mês de janeiro/22 o livro da indiana Alka Joshi chamado A pintora de henna. De mimo recebi um planner para o ano de 2022, sim, igual ao que recebi na Curadoria, este foi de presente para a minha mãe.

A história de A Pintora de Henna ocorre entre setembro de 1955 e novembro de 1956, e a protagonista se chama Lakshmi, uma mulher que apesar de pertencer a casta dos brâmanes, ganha a vida pintando os corpos das ricas mulheres da sociedade de Jaipur.

A independência mudou tudo. A independência não mudou nada.


Filha de um professor, ela foi forçada a se casar aos 15 anos com Hari Shastri, marido do qual foge aos 17 anos. Ao procurar meios de sobrevivência acaba aprendendo a técnica da pintura de henna, que somado com os seus conhecimentos medicinais atraem Samir Singh, um arquiteto renomado que a leva para Jaipur e através da sua esposa introduz os serviços de Lakshmi na sociedade local.

Tudo parecia estar no caminho certo na vida desta jovem mulher, que agora, treze anos depois, constrói uma casa e sonha em trazer os pais para morarem com ela, tendo como auxiliar o sempre experto Malik, um menino perdido que virou seu assistente.

Eu punha um pavão persa dentro de uma concha turca, transformava uma ave das montanhas afegãs em um leque marroquino.


Mas sua bolha vai estourar no dia em que o ex-marido bate na sua porta trazendo uma irmã que ela desconhecia a existência. E quando uma carta sai do lugar, o castelo construído até ali não terá a mesma estrutura, assim como a visão que a própria Lakshmi passa a ganhar de mundo.


Os personagens

O universo de A pintora de henna tem diversas personalidades representadas, e entre inspirações em pessoas reais e os ficcionais, é impossível não se encantar ou se revoltar com alguns deles.

Lakshmi é uma mulher séria e focada, que batalha duro para viver dentro da bolha de proteção que ela construiu para si. Suas reações são por demais humanas quando se vê a frente com a irmã mais nova Radha, ao qual desconhece e precisa aprender a conviver.

Não sabia de que outra maneira agir, porque ninguém havia lhe ensinado um jeito melhor.


Já Radha é a mistura da sua juventude dos treze anos com uma vida curta carregada de dificuldades, começando com a fuga da cidade para encontrar a irmã após o falecimento dos seus pais. Viver na cidade grande acaba confundindo ainda mais a sua cabeça, que ainda não possui maturidade suficiente para lidar com todas as novidades e armadilhas.

Quem presta suporte as duas é o menino de idade não definida Malik, que com a esperteza adquirida de quem nasceu e cresceu nas ruas surpreende não só as irmãs, como quem entra na leitura. Sendo um personagem muito querido.

Eu deveria ficar satisfeita por ela estar se desligando de mim, se tornando independente, tomando as próprias decisões?


Já Samir Singh e sua família representam o que a falta de limites de uma família com dinheiro e influência, mas sem ética e respeito com o próximo, pode fazer. Mostrando que da mesma forma que eles abrem portas, eles também acreditam tornar os indesejáveis invisíveis.

Outra família é as do Agarwal, onde temos Kanta, uma jovem esposa de vinte e seis anos que conheceu o seu marido, também indiano, na Universidade, e teve a felicidade de poder casar por amor. Mas agora enfrenta a pressão da sogra de ter um filho.

Podíamos ter esperança desse amor, mas não havia garantias.


Outras figuras interessantes são as maranis Indira e Latika, madrasta e esposa do atual marajá. É através dela que sabemos um pouco do funcionamento da realeza, como suas crenças para seleção de herdeiros.

Completando o quadro que nos transporta para a Índia dos anos 50 estão vizinhos, outras clientes, figuras importantes do passado de Lakshmi, assim como um médico que se encanta com os métodos naturais dela.


A escrita de Alka Joshi...

Utilizando a narrativa em terceira pessoa, Alka Joshi sempre inicia os seus capítulos indicando o local, o mês e o ano em que as personagens estão, sendo que na maior parte do tempo acompanhamos a própria Lakshmi. Logo de início vivemos o dia-a-dia das irmãs, e conforme as circunstâncias entram pequenos saltos no tempo.

Sua forma de escrever é bastante fluída, há uma descrição cuidadosa dos locais, desenhos e acontecimentos, e ao contrário do que se possa imaginar, longe de ser chata.

Eu havia cometido o primeiro pecado, abandonando meu marido, com quem deveria ter ficado por sete vidas.


Muito pelo contrário, através das descrições de Alka Joshi é quase possível sentir os cheiros, sabores, mergulhar nas cores e saber um pouco mais da cultura indiana.

Ela também transmite com veracidade toda a força e as dúvidas dos personagens. Tornando-os tão humanos em suas reações que é fácil de se compreender, se indignar junto com eles e fazer os mesmos questionamentos, o que me permitiu em alguns momentos antever até mesmo os seus arrependimentos.

Por que eu não conseguia formular uma frase sequer que pudesse ajudar minha irmã a entender que tudo que eu estava fazendo era para o bem dela?


Na edição brasileira que eu recebi antes de iniciar a história tem uma lista com alguns personagens, mas ela não está completa, faltam três pessoas importantes na vida de Lakshmi: a sogra que ensinou toda a parte medicinal e as mulheres que ensinaram ela a fazer a henna. Mesmo assim já é uma base, principalmente para quem demora a se acostumar com nomes diferentes dos que usualmente são utilizados por aqui.

No final também há um glossário e algumas das receitas citadas na história, caso alguém queira se aventurar.


O que eu achei...

Eu adorei entrar no universo de A Pintora de Henna, ao mesmo tempo que a escrita tem uma leveza e uma fluidez, ela levanta importante discussões sobre o papel da mulher, educação, diferença de classes, machismo e divórcio.

Mas o livro não se passa em 1955? Sim, se passa. E seria cômico se não fosse triste como muitas coisas ainda não mudaram, como algumas situações podem facilmente acontecer nos dias de hoje, e como a luta das mulheres ainda está longe de terminar.

Que isso pudesse humilhá-la ou envergonhá-la não importava para ele; ela era sua propriedade.


Retornando ao livro, é muito fácil se deixar levar por suas páginas, se encantar pelas duas irmãs e seu fiel escudeiro, torcer para que elas tomem as melhores decisões e principalmente que o destino lhe reserve algo melhor do que vemos em algumas páginas.

E para quem gosta da dupla leia o livro e veja o filme, a Netflix irá fazer uma série adaptando a história, e confesso que já estou em dúvidas se vou querer assistir, pois normalmente gosto de fazer o caminho inverso, isto é, olhar primeiro e ler depois.

Então fica a dica para quem gosta de viajar pelas páginas, conhecer outras culturas, e se encantar com personagens que poderiam facilmente ser reais.


A Pintora de Henna
The Henna Artist
Alka Joshi
Tradução: Cecilia Camargo Bartalotti
TAG - Versus Editora
2020 - 351 páginas

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7 comentários:

  1. Uau! Muito interessante esta obra, Pintora de Henna. Fiquei bastante encantada com a história e a força dela. Uma história que a vida de muitas mulheres!

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  2. Adorei o tema da Pintora de Henna e por ele se passar na Índia. Fiquei com vontade de ler!

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  3. Genial o livro, acho interessante livros que falem sobre a luta da mulher na sociedade, histórias assim nos inspira, legal que vai ter série adaptada do livro bjs.

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  4. Oi
    Eu adorei a sugestão de leitura 🙂 é bem interessante, já quero ler

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  5. Oie, tudo bem? Ah, não sabia que o livro já tinha vindo na TAG. Vou receber a edição da Galera Record. Um abraço, Érika =^.^=

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  6. Este é mais um romance indiano que vou ler, este parece ser um dos melhores livros desta autora, tem um talento extraordinário.

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  7. Adoro ler sobre mulheres fortes, que tem na alma a coragem, gostei da indicação! Valeu por compartilhar!

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