A escritora paulista Noemi Jaffe conseguiu transformar todos os sentimentos que a envolveram quando ela perdeu a figura materna em um livro dolorido, real e bonito sobre o luto.
Utilizando uma narrativa direta, ela nos apresenta a Dona Lili, uma mulher que sobreviveu ao holocausto, que teve três filhas com um marido pelo qual não era apaixonada, que com a viuvice mudou de endereço e passou a viver pelos próprios conceitos, que no final da vida ficou doente e conviveu com sua doença por anos até uma simples infecção nos pés a levar aos 93 anos.
Quando ela estava morta, eu beijei seu rosto, suas mãos, seu colo,
E é com delicadeza que vemos a própria Noemi Jaffe utilizar a escrita como forma de reação ao luto de uma das pessoas mais importantes de sua vida, onde mistura a parte prática da perda com desabafos sobre os sentimentos que a percorrem com o passar dos dias, sejam eles de saudade ou de culpa.
Tudo se inicia justamente com a perda, o último beijo, a última imagem, os conflitos internos que surgem quando se acompanha uma pessoa se esvair aos poucos, onde muitas vezes se imagina preparado para a morte do outro ou se vê até como forma de descansar, e quando acontece a pessoa simplesmente se dá conta que o destino poderia ter esperado um pouco mais, que bem poderia haver mais um dia, qual era a pressa afinal?
Esse nunca mais, como no poema "O corvo", é a grande dor.
Então entra a parte prática, os preparativos do funeral, os ritos de despedida - aqui no caso é a cultura judaica, onde a autora descreve a shiva, com visita de amigos e parentes e rezas na sinagoga -, além da dita divisão dos bens, quem fica com o que, o que se torna doação.
Até que entra o impalpável e inestimável, que são as lembranças. E são as memórias evocadas pela saudade que Noemi Jaffe sente pela mãe que permitem conhecer um pouco da Dona Lili, sejam os seus hábitos, seja a sua personalidade, suas receitas, sua sinceridade e até mesmo a sua cara de pau.
O que eu achei...
É um livro tristemente bonito, em que a filha escritora imortaliza a mãe através de palavras, enquanto tenta expressar e administrar toda a saudade que sente.
Para quem como eu nunca viu uma perda de tamanho significado, é possível entender minimamente o quanto existem dores que não podem ser medidas, que não há palavra ou circunstância que amenize quando parece faltar um pedaço de si.
Quero continuar tendo, mesmo com a rotina quase normalizada, intervalos de concentração na dor e na lembrança física da presença dela.
E imagino que para quem passou por tamanha perda, algo que com a pandemia se tornou dolorosamente comum, esta breve novela de um luto talvez permita compreender os próprios sentimentos que se atropelam, enquanto se tenta recuperar o equilíbrio para seguir em frente.
Ao mesmo tempo a autora nos lembra que entre as lágrimas do vazio também há as gargalhadas das lembranças, aquela voz que te deu força e seguira ecoando internamente, como reforçando que ela segue ali com você em mais um belo dia para se viver.
Lili novela de um luto
Noemi Jaffe
Companhia das Letras
2021 - 107 páginas
Oj
ResponderExcluirEu adorei a sugestão de leitura 🙂 a história é bem interessante
Oi, tudo bem? Parece ser uma leitura bem triste e cheia de reflexões. Não conhecia a autora. Um abraço, Érika =^.^=
ResponderExcluirGostei muito da sugestão, obrigado 😍👏👏👏👏
ResponderExcluirmuito bacana essa leitura, quero ler!
ResponderExcluirRealmente na pandemia esse tipo de relato faz muito sentido...
ResponderExcluirAbraços,
Alécia, do Blog ArroJada Mix