terça-feira, 12 de abril de 2022

Samarcanda



Sinopse: Saberia o juiz que com aquele gesto, com aquelas palavras, dava vida a um dos segredos mais bem guardados da história das letras? Que seria preciso esperar oito séculos até que o mundo descobrisse a sublime poesia de Omar Khayyam, até que seu Rubaiyat fosse venerado como uma das obras mais originais de todos os tempos, até que fosse enfim conhecido o estranho destino do manuscrito de Samarcanda?

No mês de Fevereiro/2022 recebi da minha assinatura da TAG Curadoria a indicação do jornalista e comentarista de política internacional Guga Chacra. O curador de origem libanesa optou por recomendar a obra de um autor de origem semelhante, o franco-libanês Amin Maalouf. O mimo foi um caderno de receitas, onde além de cinco indicações, fala de especiarias e tem algumas páginas para o leitor descrever as suas próprias.

Um livro perdido no naufrágio do Titanic liga o americano Benjamin Omar ao cientista, poeta e astrônomo persa Omar Khayyam. E é parte da vida adulta destes dois homens junto ao manuscrito do Rubaiyat que Samarcanda irá nos contar.

No fundo do Oceano Atlântico há um livro. É a sua história que eu vou contar.


Uma história que começa no verão de 1072, quando aos 24 anos Omar Khayyam chega à cidade de Samarcanda e interfere nas agressões a um velho, a discussão acaba finalizada junto ao juiz Abu-Tahir, que se torna seu amigo e o presenteia com um belo livro com páginas em branco, para que ele as preencha.

A partir daí vamos acompanha-lo no seu encontro com o amor ao encontrar Djahane, uma mulher independente e viúva que assim como Omar vive a vida de acordo com os próprios desejos.

O que resta de uma cidade é o olhar indiferente que um poeta meio bêbado lhe dirigiu.


Em suas viagens ele conhecerá homens como Hassan Sabbah, um jovem com ânsia por aprender que se tornará o líder político e religioso de um bando de assassinos nas guerras por territórios na persa.

Se tornará amigo de personalidades importantes como Nizam Al-Mulk, o vizir do império turco-persa que atuou como regente, e acompanhará vários acontecimentos.

Sofro pelo erro daquele que me engendrou, ninguém sofrerá por um erro meu.


Até pularmos para 1870 e encontrarmos o americano Benjamin, que recebeu o segundo nome Omar em homenagem ao seu xará persa. Se inicialmente ele não acreditava nos escritos inspirados no poeta, quando é convencido da existência do livro, é tomado por uma obsessão que o fará percorrer o Oriente Médio e a Ásia Central em busca do seu paradeiro.


Os personagens

Um dos grandes charmes deste livro é que ele mistura personagens reais e ficcionais, despertando uma curiosidade ainda maior pela história.

Começando pelo próprio Omar Khayyam, que deixou contribuições muito importantes tanto no campo das exatas quanto da literatura. Esta última tendo alcance mundial quando o também poeta Edward Fitzgerald traduziu os rubaiyats e os publicou em um livro.

Por que ter medo? Depois da morte, há o nada ou a misericórdia.


Na ficção Samarcanda temos um homem que prefere a paz a violência, onde tudo o que quer é um grande celescópio para observar o céu, enquanto dá conselhos aos poderosos e escondido, escreve os seus pequenos versos, vistos na época como algo inferior a tudo o que ele conhecia e descobria.

Djahane é a alma gêmea de Omar na ficção, uma mulher que não deseja filhos nem abandonar o estilo de vida escolhido para ficar ao lado do seu amor. Uma figura feminina forte, com opiniões e ações independente, surpreendendo quem espera encontrar apenas mulheres submissas.

Há uma alegria perversa em estar numa cidade sitiada, as barreiras caem quando se erguem as barricadas, homens e mulheres reencontram as alegrias do clã primitivo.


Outra figura real é Hassan Sabbah, o líder extremista cujos pensamentos parecem ecoar até hoje em grupos semelhantes e bastante conhecidos para quem acompanha os noticiários internacionais, inicialmente nos é apresentado como um jovem sedento por conhecimento, não é difícil ele se tornar amigo de Omar e assim entrar no círculo de poderosos na época. Até suas ideias e manipulações se mostrarem fatais.

Falando em poder, temos outra personagem que é um dos modelos até hoje da emancipação feminina, esposa do sultão Malikchah, Terken Khatun entendia das manobras necessárias para se manter no poder. Uma mulher extremamente forte que não se dobra para manter os seus interesses.

Em meu difícil combate pela sobrevivência, precisava dessas aliadas, de seu entusiasmo e de sua coragem, de sua admiração injustificada.


Já o fictício Benjamin Omar é o narrador desta história, que ao se encantar pela história do homem ao qual leva o nome em homenagem, demostra a mesma determinação em adquirir conhecimento, se dividindo entre a busca pelo livro perdido e publicações sobre o oriente médio.

Assim como Omar, ele irá encontrar o amor ao conhecer a princesa Chirine, a neta do xá que compartilha da paixão e obsessão pelo livro, ao mesmo tempo que é um espelho da personalidade de Djahane.

Se os persas vivem no passado, é porque o passado é sua pátria, porque o presente é para eles uma terra estrangeira em que nada lhes pertence.


O irreal Benjamin será responsável por nos apresentar outras figuras reais, como o professor americano Howard Baskerville, que abraçou a revolução constitucional persa durante o pesado cerco de Tabriz.


A escrita de Amin Maalouf....

Samarcanda é dividida em quatro partes, nas duas primeiras narradas em terceira pessoa o foco é em Omar Khayyam, onde temos a apresentação das cidades e dos personagens principais, passando pela disputa de poder, os sultões, a questão religiosa e os assassinos suicidas.

Aqui a mistura de lendas, história real e ficção me fizeram lembrar de mil e uma noite, pois o autor Amin Maalouf me transportou para um mundo que me encantou com toda a cultura e força do Oriente.

Daí em diante, foi preciso esconder-se para falar em liberdade, democracia, justiça.


Na terceira e quarta parte o narrador Benjamin Omar começa a participar da história, mudando a narrativa para terceira pessoa. Aqui passei a acompanhar todas as usas aventuras e encrencas que ele se mete ao buscar o lendário livro. Como pano de fundo temos a luta pela constituinte na Persa, uma paixão que nos invoca a dúvida entre o real e a ilusão, até chegar no então indestrutível Titanic e os tesouros que ele carregou para as águas geladas.

Tudo isto em capítulos não muito longos, com belas descrições, em uma escrita fluída que te convida a viajar pelas páginas junto com o personagem e admirar a inteligência e força dos que entram em cena.


O que eu achei...

Samarcanda é o tipo de livro que sinto pena de finalizar, que convida a fazer pesquisa no Google a saber mais dos personagens, que deixa o olho espichadinho sabendo que mais tarde queremos uma releitura para descobrir mais detalhes que talvez tenham passado despercebido no primeiro contato.

Ele também me encantou por mostrar - mais uma vez - como o nosso mundo é cíclico em quase tudo, especificamente em Samarcanda vemos a guerra e os países envolvidos, onde se inclui a Rússia, que no momento em que escrevo esta resenha está em guerra com a Ucrânia e causando calafrios no resto do mundo.

Ficando a dica para quem gosta de viajar pela literatura, conhecer outras culturas, curte a mistura de realidade e ficção, para quem quer se encantar ou simplesmente gosta de ler um bom livro.


Samarcanda
Samarcande
Amin Maalouf
Tradução: Marília Scalzo
TAG Curadoria - Tabla
1988 - 348 páginas

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Assinatura integralmente paga pelo autora da resenha.

Um comentário:

  1. Ótima resenha, obrigada por compartilhar mais sobre o livro, já estou ansiosa para a leitura.

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