quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Mãos de Cavalo




O segundo romance de Daniel Galera, Mãos de Cavalo, apresenta algumas semelhanças com o primeiro, Até o Dia e que o Cão Morreu, começando pelos personagens jovens e universo tão particular que caracteriza esse período da vida. No entanto, algumas diferenças afastam as duas obras e revelam um maior aprofundamento temático uma vez que, no segundo, a juventude aparece como narrativa paralela, fator nostálgico que interfere no presente do protagonista, um cirurgião plástico atormentado por suas opções existenciais.

O corpo é o principal elemento da história. Toda ação parece motivada por uma possibilidade de mutilação, seja uma corrida de bicicleta ou um jogo de futebol. Essa agressão constante também possui o significado de fuga de um cotidiano saturado onde as angústias existenciais - ou as feridas interiores - não podem ser corrigidas com um bisturi. E eis a ironia, o menino que fantasiava com a dilaceração, e por vezes a concretizava, vai dedicar-se profissionalmente a interferir no corpo alheio talvez como paliativo pelas deformações que julga carregar na alma.

O cenário da história é Porto Alegre, mais precisamente a zona sul da cidade, num bairro que nasce mais ou menos junto com o grupo de amigos que centralizará um dos focos narrativos. O desenvolvimento do lugar, as transformações provocadas pelo tempo espelhará o amadurecimento do protagonista, e da mesma forma que os corpos, o espaço é constantemente operado até a descaracterização. No entanto, apesar das modificações físicas, o bairro ainda – tal como o corpo – guardará alguma essência do passado permitindo uma tentativa de conserto – artificial ? – de antigas amarguras.

A trama inicia com uma aparência fragmentada que, aos poucos, revela sua estrutura contínua. A linguagem utiliza apropriadamente expressões coloquiais e as descrições pormenorizadas de equipamentos técnicos e de bens de consumo como automóveis etc.. parecem – ao contrário de alguns autores contemporâneos que parecem fazê-lo para exaltar a condição financeira dos personagens – carregadas de ironia, a julgar que funcionam como tentativas de mascarar as cicatrizes impostas pelo destino.

O principal atrativo do livro é a contemporaneidade, a identificação, ou pelo menos compreensão do ambiente e das questões colocadas. As diferentes fases da vida retratadas na mesma narrativa são uma brincadeira com o tempo, coisa que, como a própria história indica, não é nada aconselhável se fazer na vida real.


6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Ainda não li nada do Daniel Galera, mas fiquei bastante curiosa ao ler sobre o resumo desse livro. Com certeza já está na minha lista de livros a serem comprados.

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  3. Na minha também! Vou correndo comprar pra ler nas férias. Os livro dele são sempre muito bons.

    Marcelo, adorei teu texto, muito bem escrito. Mas isso tá até ficando chato de dizer, hehe.

    Bjs a todos.

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  4. Adorei a tua resenha. A leitura deste livro é bem agradável. Também recomendo. Beijo!

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  5. gente socorro eu preciso desse livro pra março no max onde eu posso baxalo ? quem souber me add no msn e me fala ta ai> robertoitsbarbosa@hotmail.com

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  6. Eu gostaria de ler esse livro online grátis...Alguem sabe onde posso encontra-lo?queria ler online,mas sem fazer download...

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