Maravilhada
e chocada. Assustada e pensativa. A leitura do best-seller de Lionel Shriver
não tem como deixar o leitor passivo. Não assisti ao filme, mas o livro me
provocou uma mistura contraditória de sentimentos. Ao mesmo tempo em que ele me
causava repulsa, me atraia para saber o que viria nas próximas páginas.
Narrado por
Eva, através de cartas a seu marido Franklin, a vida dos dois é recontada e
junto são repassadas duas versões da maternidade, uma com o seu primogênito
Kevin, autor de uma chacina em uma escola americana e da doce Célia.
Eva e Kevin
se rejeitam desde o início, ele virando a cara para o seio materno, ela não
sentindo nenhum vinculo. O bebê chorão afasta todas as babás, obrigando Eva,
até então uma empresária acostumada a viajar para inúmeros países, a ficar em
casa e criar um filho da qual não sente amor, e sim, medo. Quando engravida
novamente, Célia lhe ensina o lado doce de ser mãe, deixando ainda mais claro
que a indiferença de seu primogênito não é normal, já que a mesma só foi
quebrada uma vez, quando ficou doente e dependente.
Entre
presente e passado, são listados massacres ocorridos em diversas escolas
americanas, assim como críticas ao comportamento da sociedade, violência,
anorexia, obesidade, excesso de televisão e a eterna busca de um responsável são
alguns dos assuntos abordados durante a desconstrução de Eva. Entre as
declarações mútuas de eu te odeio, a história expõe o fato de nem todas as mulheres
estarem preparadas para serem mães, ou terem o instinto materno.
Não raro o
leitor poderá ter vontade de sacudir Franklin, mandar Eva procurar ajuda ou
abraçar a pequena Célia. Nesta história, os pais são culpados e vítimas, e como
na vida real, talvez eles pudessem ter evitado uma vida sem futuro. Quanto a
Kevin, mesmo quando pequeno, já é descrito de forma a não conquistar a simpatia
de quem acompanha a história, não despertando pena ou qualquer outro sentimento
além do pavor. o que nos faz refletir sobre a frase inicial do livro Éjustamente quando ela menos merece que mais a criança precisa do nosso amor de Erma Bombeck.
Um livro
para pensarmos sobre a sociedade que vivemos, a maneira como criamos os nossos
filhos e muitas vezes nos negamos a enxergar os problemas de quem, por
obrigação moral, deveríamos amar. E o pior de tudo, mesmo sendo de 2003, ainda
cruelmente atual.
Precisamos
falar sobre o Kevin
Lionel
ShriverTradução Beth Vieira e Vera Ribeiro
Editora Intrínseca
2003 – 463 páginas
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