terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Precisamos falar sobre o Kevin


Maravilhada e chocada. Assustada e pensativa. A leitura do best-seller de Lionel Shriver não tem como deixar o leitor passivo. Não assisti ao filme, mas o livro me provocou uma mistura contraditória de sentimentos. Ao mesmo tempo em que ele me causava repulsa, me atraia para saber o que viria nas próximas páginas.
 
Narrado por Eva, através de cartas a seu marido Franklin, a vida dos dois é recontada e junto são repassadas duas versões da maternidade, uma com o seu primogênito Kevin, autor de uma chacina em uma escola americana e da doce Célia.
 
Eva e Kevin se rejeitam desde o início, ele virando a cara para o seio materno, ela não sentindo nenhum vinculo. O bebê chorão afasta todas as babás, obrigando Eva, até então uma empresária acostumada a viajar para inúmeros países, a ficar em casa e criar um filho da qual não sente amor, e sim, medo. Quando engravida novamente, Célia lhe ensina o lado doce de ser mãe, deixando ainda mais claro que a indiferença de seu primogênito não é normal, já que a mesma só foi quebrada uma vez, quando ficou doente e dependente.
 
Entre presente e passado, são listados massacres ocorridos em diversas escolas americanas, assim como críticas ao comportamento da sociedade, violência, anorexia, obesidade, excesso de televisão e a eterna busca de um responsável são alguns dos assuntos abordados durante a desconstrução de Eva. Entre as declarações mútuas de eu te odeio, a história expõe o fato de nem todas as mulheres estarem preparadas para serem mães, ou terem o instinto materno.
 
Não raro o leitor poderá ter vontade de sacudir Franklin, mandar Eva procurar ajuda ou abraçar a pequena Célia. Nesta história, os pais são culpados e vítimas, e como na vida real, talvez eles pudessem ter evitado uma vida sem futuro. Quanto a Kevin, mesmo quando pequeno, já é descrito de forma a não conquistar a simpatia de quem acompanha a história, não despertando pena ou qualquer outro sentimento além do pavor. o que nos faz refletir sobre a frase inicial do livro Éjustamente quando ela menos merece que mais a criança precisa do nosso amor de Erma Bombeck.
 
Um livro para pensarmos sobre a sociedade que vivemos, a maneira como criamos os nossos filhos e muitas vezes nos negamos a enxergar os problemas de quem, por obrigação moral, deveríamos amar. E o pior de tudo, mesmo sendo de 2003, ainda cruelmente atual.

Precisamos falar sobre o Kevin
Lionel Shriver
Tradução Beth Vieira e Vera Ribeiro
Editora Intrínseca
2003 – 463 páginas

Nenhum comentário:

Postar um comentário