quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Nada



Sinopse: Nada é um livro inesquecível. Escrito em 1944, quando a autora tinha apenas vinte e três anos, e vencedor da primeira edição do prêmio Nadal, é considerado uma das obras espanholas mais importantes do século XX. Segundo Mario Vargas Llosa, é um romance composto com maestria, e, para o New York Times, ainda hoje "o charme peculiar do livro continua inalterado". 

A cada nova viagem, seja física ou literária, mais tenho me encantado, ou melhor, me apaixonado pela história e cultura da Espanha, e com este livro, enviado em novembro de 2018 pela TAG Curadoria, não foi diferente.

Em Nada a autora Carmen Laforet, que escreveu este livro na juventude de seus 23 anos, me levou novamente para as ruas de Barcelona, agora após a guerra civil espanhola, o que me fez lembrar A Praça do Diamante da autora Mercê Rodoreda.

Era a primeira vez que viajava sozinha, mas não estava assustada; ao contrário, aquela profunda liberdade na noite me parecia uma aventura agradável e excitante.

Dividido em três partes, Nada conta a história de Andrea, uma moça de 18 anos órfã que sai da casa da família paterna para a casa da avó materna com o objetivo de estudar letras na Universidade de Barcelona.

Na primeira parte o leitor irá se deparar com a expectativa inicial, nas lembranças de Andrea uma casa limpa e estruturada, que logo é quebrada ao chegar no prédio da Rua Aribau.

Eu me sentia oprimida como sob um céu carregado de tempestade, mas pelo visto não era a única a sentir na garganta o gosto áspero da tensão nervosa.

O cenário é de empobrecimento, sua avó está fragilizada, o avô faleceu, sua tia Angustias a controla com mão de ferro e discursos moralistas, seu tio Juan e a esposa Gloria possuem um relacionamento doentio e um menino ao qual Andrea nunca diz o nome.

Um andar acima, como um marionetista vive o tio Román, um espião artista sedutor, que tem prazer em gerar confusões, assim como a sua empregada tem em assistir.

Segredo é para se guardar, não para sair espalhando por aí, muito menos para jogar um homem contra o outro.

A segunda parte é de descobertas, da liberdade de andar pelas ruas de uma Barcelona sombria, de amizades fugazes, da mistura de maturidade e inocência de uma menina-mulher cuidada e amada por ninguém.

O fechamento da história ocorre na terceira parte, que curiosamente é a que pode gerar maior estranhamento, visto que é possível detectar uma sutil mudança de escrita. Entre revelações que estão no limite da verossimilhança e uma morte misteriosa, a personagem encerra um ciclo em meio à loucura.

Recebia tapas nas costas, e eu, vermelha e tossindo até as lágrimas, não conseguia parar de rir; depois acabei chorando de verdade, angustiada, triste e vazia.

Escrito em 1944, durante o período da ditadura de Franco, o livro também possibilita uma interpretação política, onde os personagens representariam uma estrutura. Outra linha possível, que é bastante forte no texto, é em relação à própria guerra e seus efeitos. Como no momento em que Angustias justifica para Andrea o comportamento dos irmãos ao dizer que "depois da guerra, eles ficaram meio doentes dos nervos".

Outra vertente são as mulheres e seus papeis. Elas são várias na história, dos perfis tradicionais que abrem mão de suas vontades para atender a família, passando pela mãe católica que defende os filhos homens, até a jovem rica que testa o seu poder de sedução, chegando à esposa que apanha do marido por motivos gratuitos sem sair desta roda de violência e loucura.

Na verdade, eu pensava que ele realmente precisava de mim, que precisava mesmo conversar, como tinha dito.

Narrado em primeira pessoa, o aprofundamento só ocorre ao que interessa a Andrea, o leitor vive em mundos paralelos entre a fome da Rua Aribau e o luxo dos seus colegas de classe. Entre dores de cabeça e caminhadas, será possível passear pelo litoral, as apertadas ruas do bairro Gótico, a movimentação de La Rambla, enquanto tenta compreender o que é o nada.

Um livro intenso, aberto a interpretações que as experiências de vida do próprio leitor pode proporcionar. Um clássico de leitura rápida e inquietante.

Nada
Carmen Laforet
Tradução Rubia Prates Goldoni
TAG - Alfaguara
1945 - 279 páginas

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