Sinopse: Edgar Wilson trabalha recolhendo animais mortos. Ele é responsável por levar carcaças até um grande depósito onde um triturador dizima os despojos. Contudo, quando o país entra em colapso e começa a enfrentar situações cada vez mais inusitadas, ele acaba usando seu conhecimento para tentar dar sentido ao caos e encontrar uma forma de sobreviver à barbárie. Ao juntar-se a Bronco Gil e ao ex-padre Tomás, os três anti-heróis passam a rodar pelas estradas testemunhando a atração exercida pelo acaso da realidade, desafiando tanto poderosos locais quanto instituições que não são bem o que eles imaginavam.
Bronco Gil trabalha em um bar e nas horas extras é assassino de aluguel, um dia resolve que aquele é o último dia no seu lugar atual, faz o que foi pago e pega a estrada sem rumo, trabalhando uma hora aqui e outra ali, sempre temporariamente.
Passadas algumas semanas se depara com dois veículos que bateram de frente, mas sem ninguém dentro, logo após percebe ovelhas caídas na estrada. E em sua decisão de parar que ele reencontra o seu amigo Edgar Wilson e conhece o ex-padre Tomás, e assim acaba se juntando ao estranho grupo que passa os seus dias recolhendo carcaças de animais mortos para serem queimados.
O fim do mundo está do outro lado da porta, mas isso ele ainda não sabe.
É quando o leitor descobre que eles estão enfrentando uma epidemia, mas além do isolamento e das fronteiras fechadas, há muitos animais morrendo e eles fazem parte da equipe que os recolhe e os leva para incineração. Mas conforme os dias vão passando, observa-se que as pessoas também estão sendo afetadas, algumas tomando atitudes até então impensadas.
E tudo termina de perder o sentido quando que um estranho caminhão militar cruza o caminho dos três homens, e enquanto eles buscam descobrir o que realmente está acontecendo e ao mesmo tempo tentam bolar um plano para salvar inocentes, fica a dúvida se é apenas uma pandemia, obra do homem ou se realmente os profetas estavam certo e é o fim do mundo.
Os personagens
Durante a leitura não temos muitos detalhes sobre o passado dos três personagens chaves. Sabemos que Bronco Gil já foi preso, que Tomás largou o sacerdócio, mas ainda mantém seus laços de amizade com outros padres e que Edgar Wilson parece ser o cabeça dos três.
Em comum a constatação de estarem em um território abandonado por Deus, vivendo situações inexplicáveis que os levam a investigar os fatos estranhos que estão ocorrendo a sua volta, se deparando assim com o inacreditável e a desolação.
Desde que a epidemia se instalou, as estradas estão desertas, assim como ruas, praças e parques. As fronteiras fechadas, e o abastecimento, comprometido. A escassez começa a dar passagem ao desespero.
Assim como o leitor, eles não sabem o que pode ser a comprovação de que realmente o fim do mundo está chegando e desta vez os profetas acertaram ou um projeto político que conta com a ajuda do exército para ações pouco ortodoxas.
A escrita de Ana Paula Maia
A escrita da carioca Ana Paula Maia é direta e fluída, não há detalhes desnecessários, e os diálogos são secos em meio em um ambiente que mistura pandemia, profecias e poder.
De cada quinhentos uma alma possui um bom ritmo, com alguns rápidos feedbacks que surgem principalmente quando novas situações se apresentam a Bronco Gil.
O fim e o começo. As portas do inferno estão se abrindo. E as do céu, também.
A autora consegue descrever detalhes sórdidos sem que isso se torne apenas macabro, mas com significado na cena. Aliás, a impressão que eu tive é que nada é por acaso. Tudo vai se costurando de uma maneira que desperta a curiosidade em saber o que realmente está ocorrendo.
E o que eu achei interessante é que mesmo fazendo parte de uma trilogia, ao qual eu não havia lido o primeiro volume - chamado Enterre os seus ossos -, foi possível realizar a leitura de uma forma independente, pois a história tem um começo, meio e fim.
O que eu achei...
Inicialmente eu achei a história um pouco confusa, talvez justamente por fazer parte de uma trilogia, tenha me faltado saber um pouco mais do porquê do Bronco Gil sentir necessidade de ir para o Oeste e que pandemia era aquela que matava tantos animais como enlouquecia as pessoas.
O vento frio sopra uma fina fuligem que recobre todo o lugar. Há corpos caídos pelo chão, desde crianças até um aleijado na cadeira de rodas.
Mas logo resolvi ignorar algumas perguntas e me entreguei ao momento atual, em uma história que facilmente viraria filme, pois tem um ar cinematográfico de quem mistura aventura, suspense com um toque de faroeste moderno - este mais pela ambientação do local, cheio de poeira e com muitos quilômetros sem uma viva alma.
Também achei o livro de leitura muito rápida, e mesmo abordando o tema pandemia e um cenário apocalíptico, não achei a leitura pesada, sendo facilmente um livro para quebrar aqueles momentos de bloqueio literário ou para intercalar com histórias mais tensas.
De cada quinhentos uma alma
Ana Paula Maia
Companhia das Letras
2021 - 108 páginas
Esta edição faz partes dos livros recebidos pelo Time de Leitores 2021 da Companhia das Letras, cuja resenha é independente e reflete a verdadeira opinião de quem o leu.
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