Sinopse: Verônica McCreedy leva uma vida solitária. Aos 85 anos, ela começa a se perguntar para quem deixará sua enorme fortuna. Até que, após ver um documentário sobre um centro de estudos de pinguins na Antártica, resolve passar uma temporada do outro lado do mundo - um local congelante e isolado, que muitos considerariam inóspito. Diante das descobertas de um parente vivo, das novas amizades feitas, do desenterro de traumas passados e dos pinguins que precisam de ajuda, Verônica terá que decidir se ainda há tempo para abrir seu coração e criar laços antes que seja tarde demais.
No mês de Fevereiro/22 recebi pela minha assinatura da TAG Inéditos o sensível e divertido Verônica e os pinguins da autora inglesa Hazel Prior. O mimo foi um canudo de inox, o que combina com uma das temáticas levantadas no livro, que é das mudanças climáticas globais.
Verônica mora em uma bela casa na Escócia, solitária, tem a auxiliar Eileen que não só cuida da casa como da própria Sra. McCreedy, que muitas vezes deixa a dúvida se ela está apresentando lapsos de memória ou se é chata mesmo.
Os espelhos são muito honestos. Existe um limite para o que uma mulher pode suportar.
Com a proximidade do aniversário ela se depara com uma caixa que lhe desperta várias memórias e a preocupação de quem irá herdar os seus bens após a morte. É quando ela contrata uma agência de investigação e descobre a existência do seu neto Patrick.
Mas o rapaz não é nada do que ela gostaria ou esperaria de um neto, trabalhando somente um dia na semana, vivendo de ajuda do governo e cultivando dois vasos de maconha na janela.
A esta altura, deveria estar acostumada com essas repugnantes imperfeições físicas, mas ainda me exaspero ao me ver deste jeito.
Então Verônica lembra do programa sobre pinguins que ela tanto gosta de assistir, e do apresentador informando que o centro de pesquisa precisa de dinheiro para se manter. É quando ela decide ir pessoalmente até a Ilha Locket na Antártica ver se o trabalho realizado merece se tornar seu herdeiro.
O que irá mudar não só a rotina da pequena equipe como os do que estão a quilômetros de distância, trazendo revelações para ela e todos a sua volta.
Os personagens
O núcleo de Verônica e os pinguins inicialmente é pequeno, mas ao retornar ao passado vamos encontrar vários personagens que Verônica encontrou no seu caminho, assim como as pequenas participações do núcleo de Patrick.
Verônica não só é a personagem do título como a principal, se inicialmente ela pode ser facilmente taxada de uma senhora bastante chata, um tanto arrogante e muito teimosa, conforme o passado é revelado, vemos uma menina que sobreviveu a guerra e a tudo o que lhe foi roubado.
Fiz o que foi preciso para sobreviver. Se isso fez de mim uma pessoa dura ou cáustica, que seja. Sou o que sou.
Nada o que Verônica tem caiu de mão beijada em suas mãos, e foi graças a esta personalidade forte, que não baixou a cabeça para nenhuma dificuldade, que possibilitou cada conquista material, embora nada disso tenha aliviado as perdas emocionais.
Patrick é o neto até então desconhecido, rapaz que ficou órfão cedo e agora segue sendo levado pela vida, sem responsabilidades, sem objetivos, inicialmente desleixado, sendo um homem de corpo, mas mentalmente um menino que não cresceu.
Minha vida. Um enorme, doloroso, inexplicável, desperdício sem sentido.
Sua consciência começa a ter noção da realidade ao ler os diários pessoais enviados pela avó. Ao descobrir mais de suas próprias origens e das desventuras da mulher que se tornaria a sua avó, um amadurecimento começa a surgir.
Eileen é o braço direito de Verônica, quem atende suas ideias malucas, envia e-mails, pede notícias, se preocupa com o bem estar ao mesmo tempo que é curiosa sobre o que acontece.
A vida é um equilíbrio entre o que você solta e o que você guarda. No meu caso, trata-se muito mais de guardar. Guardar é a única maneira de aguentar firme.
Já na Antártica temos a equipe do projeto dos pinguins. Um trio de diferentes personalidades que em um primeiro momento tentam a todo custo impedir que uma senhora já idosa vá para o alojamento, cuja estrutura é simples e sem grandes confortos, mas que depois incorpora Verônica na própria rotina.
Naturalmente nem todos aceitam tão bem, se por um lado Terry cuida de Verônica e relata seus primeiros contatos no blog que mantém, Mike parece estar sempre emburrado com sua presença, enquanto Dietrich mantém o equilíbrio de tudo.
Eu devia estar cheia de remorso e humildade, mas não estava. Sentia-me desafiadora.
E como não poderia faltar, os pinguins são personagens a parte, com ênfase para Pip, que inevitavelmente te faz ter vontade de conhecer um bebê pinguim mais de perto.
A escrita de Hazel Prior
Para contar a história de Verônica a autora Hazel Prior mescla diferentes narrativas, da primeira pessoa com narrativa direta, como é o caso utilizado com a personagem principal para contar o agora, o uso de um diário para detalhar o passado para os leitores e para o próprio neto.
Aliás Patrick também faz a narrativa em primeira pessoa, compartilhando com o leitor o seu ponto de vista sobre ser órfão e lá pelas tantas ser encontrado por uma avó desconhecida que não tem nada de ar maternal.
Dentro do meu peito está acontecendo algo estranho. Uma friagem, como uma imensa montanha de gelo começa a se mexer.
Completando a narrativa temos O Blog dos Pinguins, onde Terry se comunica de forma direta com os seus seguidores, explicando fatos da rotina destas adoráveis aves marinhas, além de compartilhar muitas curiosidades sobre eles. Nos lembrando em meio ao romance da importância da nossa casa chamada Terra e de como devemos preservar o meio ambiente para o bem de todas as espécies que aqui habitam.
O que eu achei...
No começo eu não dei nada pela história, achei que Verônica era uma mulher muito chata e que a narrativa seria muito tediosa. Mas sai de baixo que lá vem cuspe.
Conforme a história foi sendo aprofundada, a escrita de Hazel Prior me envolveu e eu me vi admirando e sentindo o coração apertado pela Verônica do passado e do presente, a menina que se viu só em plena segunda guerra mundial e a senhora que guardava de certa forma a sua alma em uma caixa.
As lágrimas vêm quando a pessoa foi forte demais por tempo demais.
Ao mesmo tempo a história questiona o quanto as perdas e vivências podem afetar as nossas relações e soterrar características da nossa personalidade de diferentes maneiras. E o mais importante, o que pode quebrar todas estas barreiras?
No caso de Verônica e Patrick, avó e neto, são os pinguins. No caso dos leitores, caberá a eles após finalizar a leitura descobrir se tem algum bloco de gelo a ser quebrado para poder viver mais livremente.
Verônica e os pinguins
Away with the Penguins
Hazel Prior
Tradução: Elisa Nazarian
TAG - Gutenberg
2022 - 347 páginas
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