sexta-feira, 15 de setembro de 2023

A Fina Flor de Stanislaw Ponte Preta



Sinopse: "O diabo não frequenta os inferninhos de Copacabana com medo de ficar desmoralizado", anota Stanislaw Ponte Preta. Um dos mais irresistíveis intérpretes de nossa cultura e de nossos costumes, o pseudônimo (ou seria heterônimo) de Sérgio Porto misturou lirismo e humor para retratar como ninguém a beleza e o absurdo do Brasil durante as décadas de 1950 e 1960. Parte de uma geração de cronistas que revolucionou a literatura nacional, Porto foi campeão de audiência, lido e comentado por brasileiros de diferentes classes e idades. Nesta farta seleção, o leitor tem acesso às melhores crônicas de um autor que marcou época. Saboroso, hilariantes, implacáveis e debochados, seus textos se revelam mais atuais do que nunca.

Com seleção e apresentação de Alvaro Costa e Silva, A Fina Flor de Stanislaw Ponte Preta leva o leitor através desta coletânea de crônicas de volta aos anos de 1950 e 1960 no Brasil e apresenta - ou relembra conforme a idade do leitor - personagens como Tia Zulmira , Primo Altamirando e Rosamundo do cronista Stanislaw Ponte Preta, ou melhor do carioca Sérgio Porto.

Separado em oito partes identificando entre parênteses o ano,  quem nos introduz ao mundo de Stanislaw Ponte Preta é justamente Tia Zulmira, uma mulher que já foi condensa, vedete, cozinheira e dona de uma personalidade forte. Entre os personagens apresentados, ela foi a minha preferida. Adorei a ironia, o deboche e as situações sem noção envolvendo essa figura.

Depois fez ver que existem certas coisas que chateiam a gente de maneira tão sutil, que raramente a gente dá pelo motivo da chateação.


Quem segue a Tia Zulmira é justamente um primo criado por ela: o Primo Altamirando, um cara de caráter duvidoso, mas figurinha carimbada em noventa por cento das famílias. Assim como outras figuras que aparecem pelas crônicas.

Mas não, A Fina Flor não é um caso de família em livro, mas sim crônicas recheadas de ironias e deboche, as vezes escancarados, outras bem disfarçadas sobre os aspectos culturais, comportamentais, morais, urbanísticos e naturalmente políticos daquela época.


O que eu achei de A Fina Flor de Stanislaw Ponte Preta

O conjunto de crônicas que compõe A Fina Flor de Stanislaw Ponte Preta apresentam um retrato bastante interessante da década de 1950/1960 no Brasil. Permitindo uma visão mais divertida para quem não viveu a época onde importantes fatos históricos ocorreram no país.

Seja com parentes fictícios, seja com anedotas, não raro me recordei de outros cronistas do cotidiano, como o Luís Fernando Verissimo e o David Coimbra, já citados no blog por suas obras.  Pois a escrita de Sérgio Porto possui leveza e aquele toque de quem está sentado na mesa do bar contando história para os amigos.

Por que teria saído da casa de câmbio tão enfezada? Vai ver foi o preço do dolár.


Por ser uma obra do "século passado" algumas histórias e termos podem ferir os leitores mais sensíveis, já que naquela época não havia politicamente incorreto. Em compensação muitos dos comportamentos apresentados ainda estão longe de serem aposentados. Demonstrando que a sociedade não mudou tanto assim.

Outro ponto presente é a crítica ao governo, que pode ser sutil, irônica ou bem direta. Lembrando que o período englobado pega tanto o período do Jango quanto da ditatura militar, havendo muita censura nesta última e exigindo uma escrita onde a crítica está escondida no deboche do dia a dia dos personagens.

Tá na cara que um camarada distraído assim não dava certo em emprego nenhum e, de decadência em decadência, ele acabou arrumando um reles empreguinho de vendedor de bilhetes de loteria.


No geral me deparei com crônicas engraçadas, outras que retratam bem um período, algumas sem noção e outras que achei chatas mesmo. Não foi um livro que li direto, de uma única vez. Levei alguns meses intercalando com outras leituras, algo que livros de crônica e contos permitem com tranquilidade.

Um livro bem interessante para ver um pouco do Brasil em décadas passadas com uma visão mais bem-humorada, motivo pelo qual deixo a recomendação para quem se interessa pelo período.

A Fina Flor de Stanislaw Ponte Preta
Stanislaw Ponte Preta/Sérgio Porto
Organização: Alvaro Costa e Silva
Companhia das Letras
2021 - 358 páginas


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