quinta-feira, 4 de julho de 2019

Jude, o Obscuro



Sinopse: Ansioso para escapar das amarras de sua classe social, Jude Fawley sonha em um dia se tornar professor universitário. Apesar do empenho nos estudos de letras clássicas, o entalhador se vê cada vez mais sufocado pela pobreza e pelo casamento infeliz com Arabella Donn, filha de um criador de porcos.
É quando finalmente conhece Sue Bridehead, prima distante e nada convencional, que Jude vislumbra uma chance de felicidade. Em uma sociedade tão pouco favorável a mudanças como a do sul da Inglaterra em meados do século XIX – cujos costumes, dialetos e arquitetura Thomas Hardy aqui recria com exatidão -, o amor deles logo se transforma em uma sentença.
Jude, o Obscuro, o último romance de Hardy, é considerado o trabalho mais corajoso e inovador do escritor. Originalmente publicado em fascículos mensais, cada novo capítulo trazia uma onda de choque aos leitores vitorianos. Como em outras obras do autor, é possível perceber o quanto a sociedade é cruel com aqueles que desafiam suas tradições.

Curadora do mês de Maio da TAG Curadoria, a atriz Fernanda Montenegro indica um clássico do final dos anos de 1890 do autor inglês Thomas Hardy.

Dividido em seis partes, o leitor logo é apresentado ao menino Jude, órfão que mora e trabalha para a tia na cidade de MaryGreen. Ele tem onze anos e está triste com o fato do professor Mr. Phillotson estar indo embora para uma cidade chamada Christminster.

Ia ter sido uma benção se o senhor todopoderoso tivesse te levado também, com o teu pai com a tua mãe, meninho sem serventia!

Este professor é o responsável por Jude se encantar pelas letras e se tornar um autodidata. Conforme cresce, o leitor percebe que ele é inteligente, bom, mas muitas vezes utiliza da sua pobreza para justificar a falta de foco para atingir os seus sonhos.

E a sua bondade o torna também um homem facilmente manipulável, o que o torna a vítima perfeita para Arabella, até esta perceber que todo o seu potencial não tem riquezas como resultado.

Que a piedade para com um grupo de criaturas fosse crueldade para com um outro era algo que deixava sua noção de harmonia nauseada.

Outro fato constante na vida de Jude é a obsessão pela cidade universitária de Christminster, que para ele é a representação de toda a luz do conhecimento, e ele é um inseto a flutuar em sua volta buscando uma forma de entrar, esquecendo-se que a luz também pode queimar.

A primeira coisa que se deve dizer sobre o livro é que apesar de ser um livro com mais de cem anos, sua linguagem permanece atual, sendo fácil entrar no mundo da narrativa.

A morte pacífica não o aceitava como súdito e não o acolheria.

A segunda coisa que se deve dizer é, como diz na sinopse, inicialmente ele era um folhetim, e com isso existem alguns capítulos que parecem ser um pouco de enrolação até a cena de maior emoção. Levando o leitor com certa curiosidade para a próxima parte, como ocorrem em muitas novelas televisivas.

A terceira coisa a se dizer é que os dois personagens masculinos principais possuem algumas características semelhantes, tanto Jude quanto Mr. Phillotson são homens essencialmente bons, que acreditam nos outros. No caso de Mr. Phillotson ele poderia ser considerado inclusive um feminista, por suas atitudes fortes em defender o direito de uma mulher escolher o próprio rumo em uma época que isso era incomum.

Fosse ele uma mulher, teria gritado sob a tensão nervosa por que ora passava. Mas com este alívio negado à sua virilidade, rangia os dentes com o sofrimento, fazendo surgir em sua boca rugas como as de Laocoonte, e vincos entre as sobrancelhas.

A quarta coisa a se dizer é que as três personagens femininas que norteiam os caminhos do Jude já possuem o dom da manipulação, da crueldade e da vaidade. Começando pela sua tia Drusilla que o chama de menino sem serventia, passando por Arabella que busca melhorar de vida até a sua prima Sue, uma mulher que parece extremamente moderna até ceder a rivalidade feminina e perder uma a uma de suas convicções.

É tão culpável se obrigar a amar para sempre quanto acreditar para sempre no mesmo credo e tão tolo quanto prometer gostar para sempre de uma dada comida ou bebida!

A quinta coisa a se dizer é que se faz necessário observar a brincadeira que o autor faz com alguns personagens como o sobrenome do professor que lembra filosofia e de Sue que lembra noiva.

Você acha que existem muitos casais em que uma pessoa não gosta da outra sem qualquer problema que definitivamente a leve a isso?

A sexta coisa a se dizer é que Hardy aborda de forma direta críticas a religião, as universidades inglesas e ao casamento. O conhecimento ser destinado a poucos, o peso da igreja influenciado os atos do personagem, a exigência da sociedade pelo homem dominar a mulher, a exigência do casamento como pré-requisito para ser uma família.

E, no entanto, não vejo por que motivo a mulher e as crianças não possam ser a unidade sem o homem.

E a sétima e última coisa é que Jude faz o leitor se surpreender, questionar e se chatear com muitas das ações dos personagens. E quando se questiona as escolhas de cada um, acaba-se pensando também na sociedade atual, principalmente ao identificar que muitas situações não perderam a atualidade, como na frase abaixo:

É isso que algumas mulheres não enxergam, e, em vez de protestar contra as condições, acabam protestando contra o homem, a outra vítima;

Como bônus os leitores da TAG ganharam uma das edições mais bonitas do ano, e uma mudança em relação as versões anteriormente publicadas no Brasil: os nomes dos personagens não foram traduzidos.

Um livro que literamei e literaturei, mas que indiferente não fiquei.

Jude, o Obscuro
Jude the Obscure
Thomas Hardy
Tradução: Caetano W. Galindo
TAG Curadoria – Companhia das Letras 
1895 – 399 páginas

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Assinatura integralmente paga pelo autora da resenha.

4 comentários:

  1. Realmente quando a pessoa desafia as tradições, a sociedade é muito cruel, pena que a sociedade ainda massacra o indivíduo, bjs.

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  2. Olá, Tudo bem? Amei o post, mesmo muito importante.
    Muito obrigada pela partilha.
    Bjs Karina

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  3. É incrível ver que os problemas enfrentados antigamente continuam sendo enfrentados na nossa sociedade atual. A história do livro parece ser muito boa pela sua resenha.
    Beijão! ♥

    Relíquias da Lara

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  4. Oie, tudo bem? Não conhecia o livro, mas achei interessante o fato de os nomes não terem sido traduzidos. Um abraço, Érika =^.^=

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